Quem pergunta � Liana Sabo, do alto dos seus 55 anos de jornalismo. Ao ler o jornal de ter�a-feira, levava um susto atr�s de outro. Ela explica a raz�o: “Parece que a �ltima flor do L�cio empobreceu.”
“S� na edi��o de hoje h� t�tulos com estrangeirismos cujo significado muitas pessoas n�o entendem. Mais: em outros tempos, n�o se podia usar sigla nos t�tulos. Agora vale at� na manchete.”
A decana cita exemplos retirados de t�tulos das p�ginas do jornal: “Lendas do crossover”, “Ex-distrital denuncia stalking”, “Crimes envolvendo CACs sobem 78% no Distrito Federal”.
Estrangeirismos
Os estrangeirismos fazem parte do nosso dia a dia. Est�o presentes nas propagandas, nos shoppings, nos bate-papos. Alguns est�o integrados ao idioma como abajur, garagem, bal�, buf�, show, shopping, marketing, recorde, xampu.
Outros ainda n�o ganharam intimidade. � o caso das penetras que aparecem nos t�tulos das mat�rias citados por Sabo. Nem todos os leitores lhes conhecem o significado. Us�-los em jornais afugenta o leitor e torna o texto pretensioso e pedante.
Por um lado, eles deixam a impress�o de pobreza vocabular. Sem saber o termo em portugu�s, recorre-se ao importado. Por outro, de complexo de vira-lata – a convic��o de que o que vem de fora � melhor. N�o �.
Como lidar com as estrangeiras?
Quando houver correspondente em portugu�s, prefira a forma vern�cula. Escanteio ou corner? Escanteio. Cavalheiro ou gentleman? Cavalheiro. Encontro ou meeting? Encontro. Padr�o ou standard? Padr�o. Desempenho ou performance? Desempenho. Age ou idade? Idade.
Dica 1
Traduza as cita��es em l�ngua estrangeira: “Alea jacta est.” (“A sorte est� lan�ada”) “To be or not to be: that is the question.” (“Ser ou n�o ser: eis a quest�o.”) Viu? Escreva a tradu��o entre aspas.
Dica 2
Prefira a forma aportuguesada � estrangeira: gangue, chique, xampu, recorde, cach�, butique, buqu�, u�sque, conhaque, pante�o, raiom, gim.
Dica 3
Se a importada estiver incorporada ao portugu�s em sua grafia original, escreva-a sem grifo ou qualquer destaque: rock, marketing, shopping, show, know-how, software, hardware, smoking, habeas corpus, marine, punk, lobby.
Adjetivos
Derivados de l�nguas estrangeiras se tornam h�bridos. Mant�m a estrutura original do voc�bulo e acrescentam os sufixos ou prefixos da l�ngua portuguesa: Byron (byroniano), Kant (kantiano), Marx (marxista), kart (kart�dromo), Weber (weberiano), Thatcher (thatcherismo).
As siglas
CAC, sigla grafada na manchete do Correio Braziliense de ter�a-feira, n�o � de conhecimento de todos. Pede explica��o. As tr�s letrinhas v�m das iniciais de colecionador, atirador e ca�ador. CACs s�o as categorias autorizadas pelo Ex�rcito a usar arma de fogo.
Curtinhas
As letras que substituem palavras fazem parte da linguagem moderna. Curtinhas, elas exigem menos tempo na pron�ncia e menos espa�o na escrita. Oba! Na era da internet, a rapidez � a ordem. Por isso, a comunica��o obedece a duas regras. Uma: menor � melhor. A outra: menos � mais.
De casa
Algumas siglas s�o pra l� de conhecidas. �s vezes, mais familiares que o nome por extenso. Mas nem todas frequentam nossa intimidade. Se n�o forem de cama e mesa, diga com todas as letras o que significam. O leitor agradece. O ouvinte tamb�m: Proposta de emenda � Constitui��o (PEC), Projeto de lei (PL), Ferrovia Norte-Sul (FNS).
Grafia
Se as siglas frequentam nosso dia a dia sem pedir licen�a, manda o bom senso conviver com os serezinhos t�o familiares de forma civilizada. Como? Grafe:
1. Todas as letras mai�sculas em duas ocasi�es:
1.1. Se a sigla tiver at� tr�s letras: PM, ONU, UTI, OEA, PEC
1.2. Se as letras forem pronunciadas uma a uma: INSS, BNDES, PNDE
2. S� a inicial mai�scula nos demais casos: Detran, Otan, Anvisa
Leitor pergunta
Sigla tem plural?
• Mary Ester, Porto Alegre
Tem. Basta acrescentar um essezinho no fim da reduzida. Nada de ap�strofo, por favor: PMs, CDs, UTIs, Detrans.
Recado
“Toda unanimidade � burra.”
• Nelson Rodrigues