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Estado de Minas DEM�TRIO MAGNOLI

Controle sobre livros vai fracassar

Bolsonaro carece das redes de legitima��o acad�mica conferidas por brigadas universit�rias de professores-ativistas de aula


postado em 11/01/2020 04:00

Bolsonaro com evangélicos: presidente quer controle do conteúdo de livros didáticos(foto: Isac Nóbrega/PR)
Bolsonaro com evang�licos: presidente quer controle do conte�do de livros did�ticos (foto: Isac N�brega/PR)


Quando o presidente decidiu pontificar sobre livros did�ticos, formou-se um pequeno esc�ndalo sobre o perif�rico. As opini�es de Bolsonaro, bo�ais como de costume (um "lixo", "um mont�o de amontoado de muita coisa escrita"), n�o movem nenhum moinho. J� o principal – a promessa de que, a partir de 2021, os livros escolares "ser�o feitos por n�s"– passou como pretens�o leg�tima. Acostumamo-nos com a ideia de que o Estado tem o direito de educar o povo.

Um quarto de s�culo atr�s, n�o era assim. Os livros did�ticos postos no mercado pelas editoras eram submetidos � escolha dos professores. T�nhamos uma saud�vel diversidade de obras, de qualidade bastante desigual, que refletiam as diferentes abordagens te�ricas e pedag�gicas em voga nas universidades.

O sistema de mercado, por�m, exclu�a a maioria das escolas p�blicas, cujos alunos n�o podiam pagar pelos livros. A solu��o encontrada – a compra p�blica federal e centralizada – abriu o caminho das salas de aula �s ideologias estatais.Nos EUA, os livros s�o patrim�nio das escolas e passam de uma turma de alunos � seguinte, em longos ciclos. Por aqui, o Estado preferiu estabelecer ciclos curtos de renova��o dos livros. De um lado, a cara op��o gera �bvios dividendos eleitorais. De outro, prende a ind�stria editorial de did�ticos � �rbita do poder p�blico.

O MEC converteu-se no comprador quase monopolista: o verdadeiro patr�o das editoras. Nessa condi��o, adquiriu a prerrogativa de esculpir as narrativas pedag�gicas. Os governos do PT utilizaram esse poder para conduzir uma revolu��o em marcha lenta, revestida por uma fina pel�cula de saber acad�mico. As comiss�es de "especialistas" formadas nas universidades federais para selecionar obras "de qualidade" foram, geral, colonizadas por professores-ativistas. As an�lises "t�cnicas" contaminaram-se de (pre)conceitos pol�ticos. Aos poucos, num processo que jamais se completou, eliminaram-se in�meras obras "desviantes".

A revolu��o escolar atingiu livros de exatas e biol�gicas – mas, claro, teve impacto maior nos de humanas. Na era p�s-Muro de Berlim, um marxismo outonal, dilu�do em caldos de anti-imperialismo, terceiro-mundismo e multiculturalismo, passou a impregnar a maior parte dos livros de hist�ria e geografia. Siga o dinheiro: as editoras jamais reclamaram – antes, pelo contr�rio, assumiram o papel de correias de press�o sobre autores recalcitrantes.

As obras "de qualidade" deviam trafegar pelos circuitos do antiamericanismo ritual, da den�ncia da "hist�ria ocidental", da idealiza��o rom�ntica da �frica pr�-colonial. A pol�tica identit�ria desceu como uma sombra sobre os textos escolares. A escravid�o moderna passou a ser explicada pela chave do racismo, n�o pela l�gica do sistema mercantil colonial. A campanha abolicionista foi expulsa do palco iluminado da hist�ria brasileira. Zumbi dos Palmares transformou-se no �cone absoluto da luta antiescravista.

Confundimos o dever estatal de financiar a educa��o p�blica com o poder abusivo reivindicado pelo governo de invadir as salas de aula e moldar o discurso dos professores. O Estado-Educador �, sempre e inevitavelmente, o Partido-Educador. Na proclama��o presidencial de que os livros did�ticos "ser�o feitos por n�s", o "n�s" indica o n�cleo ideol�gico que rodeia Bolsonaro.

A obra "suavizada" dos sonhos dessa turma � um manual nacionalista, autorit�rio e ultraconservador, anticient�fico, de fortes colora��es religiosas. Nele, evaporariam tanto a ditadura militar quanto as mudan�as clim�ticas e o lugar do evolucionismo seria ocupado pelo criacionismo.

O projeto provavelmente fracassar�, pois Bolsonaro carece das redes de legitima��o acad�mica conferidas por brigadas universit�rias de professores-ativistas. Mas o risco existe, num pa�s que n�o aprendeu a separar o Estado da sala de aula.



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