
Desconhe�o um time de futebol cuja torcida seja capaz de chorar a derrota e ao mesmo tempo encher-se do orgulho mais improv�vel. Quando o Galo caiu para a S�rie B do Campeonato Brasileiro, naquele empate com o Vasco no Mineir�o, 60 mil vozes cantaram o hino no final do jogo, entre l�grimas e essa coisa que, inexplic�vel, vou chamar de “orgulho”.
Na quarta-feira ocorreu de novo. Este escrevinhador estava l�. Eu e meu filho. O Francisco chorava e cantava, e seu choro, antes triste, transfigurou-se numa torrente da mais desbragada emo��o. De repente, n�o era mais o choro da derrota (ou daquele que ganhou mas n�o levou). Era a sorte de ter nascido atleticano, e tudo que isso cont�m, para al�m do futebol.
O Francisco tem apenas 11 anos, mas j� entende o inexplic�vel. Sabe que certas derrotas n�o s�o exatamente derrotas. S�o como os fracassos do Darcy Ribeiro, mineiro de Montes Claros, Galo ainda que n�o tenha sabido disso: “Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crian�as brasileiras, n�o consegui.
Tentei salvar os �ndios, n�o consegui. Tentei fazer uma universidade s�ria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos s�o minhas vit�rias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.
Tentei salvar os �ndios, n�o consegui. Tentei fazer uma universidade s�ria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos s�o minhas vit�rias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.
O Atl�tico �, antes de tudo, um time de honra. Sua verdade e sua m�stica est�o centradas na luta. “Lutar, lutar, lutar, este � o nosso ideal.” Dos tantos versos da nossa Marselhesa, esse � o que melhor nos resume. Por isso nos s�o t�o caras as vit�rias �picas, a supera��o inimagin�vel, as grandes viradas. No dia seguinte ao jogo contra o Tijuana, milagre primeiro de S�o Victor, eu chorei vendo a imagem captada pelo craque Gabriel Castro, fot�grafo, nas arquibancadas do Independ�ncia.
Nela, um pai abra�ava o filho, ambos transtornados pelo que acabaram de ver. Mas eu chorei mesmo foi com a legenda da foto: “Um pai ensinando seu filho a acreditar sempre, a desistir jamais”. Aquilo era maior do que a pr�pria classifica��o.
Nela, um pai abra�ava o filho, ambos transtornados pelo que acabaram de ver. Mas eu chorei mesmo foi com a legenda da foto: “Um pai ensinando seu filho a acreditar sempre, a desistir jamais”. Aquilo era maior do que a pr�pria classifica��o.
� por essas que temos tanta dificuldade em lidar com o Patric. O que se faz com um jogador at� certo ponto limitado, mediano, mas de tal forma aguerrido e disposto � volta por cima, que acabou por se tornar um atleticano de fato? Como lidar com um cara que diante de todas as vaias, e sabemos o tamanho delas, nunca deixou de honrar a camisa que veste? Como lidar com esse pai que viu um filho ter as pernas amputadas em raz�o de uma doen�a rara e ainda assim manteve-se na luta?
Nada � mais Atl�tico do que o gola�o do Patric na quarta-feira. Est� contido no seu petardo toda a raiva do mundo, todo o sonho de justi�a, toda a nossa atleticanidade. Embora o gol tivesse sa�do tarde, nunca � tarde para o imposs�vel que volta e meia nos acomete, o pr�mio pela nossa mania de acreditar sempre, desistir jamais.
O jeito que o Patric corre para comemorar seu gol, um pique desvairado, � n�is tresloucados, � n�is em nossa mais sincera galoucura. O Patric, meus amigos, � o pr�prio Galo. Ruim mas bom, feio mas bonito, roto mas reto. � como disse o Reginaldo Rossi, “voc� n�o presta, mas eu te amo”. O Patric � a gente quebrando nosso cart�o do Galo na Veia e colando com durex no dia seguinte. O Patric�o da Massa.
O jeito que o Patric corre para comemorar seu gol, um pique desvairado, � n�is tresloucados, � n�is em nossa mais sincera galoucura. O Patric, meus amigos, � o pr�prio Galo. Ruim mas bom, feio mas bonito, roto mas reto. � como disse o Reginaldo Rossi, “voc� n�o presta, mas eu te amo”. O Patric � a gente quebrando nosso cart�o do Galo na Veia e colando com durex no dia seguinte. O Patric�o da Massa.
Quando o jogo acabou, eu vi o time abra�ado em campo, o hino na arquibancada. Em outra parte do gramado, o Cruzeiro celebrava o vexame que acabara de evitar. Dan�avam uma dancinha estranha, uma salsa marota, n�o sei, um passinho, sem clubismo, um tanto rid�culo. Antes, o cruzeirense que foi ao Horto cantou Beth Carvalho e “Eu Acredito”.
Sim, houve isso, senhores. Em outros tempos tamb�m cantavam nossas m�sicas, com a inten��o de uma certa ironia que n�o resiste ao fato de que lhes falta aquilo que nos sobra, aquilo que n�o se explica. Jogaram milho nas ruas. Acham que isso nos ofende, que piada. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu. Nunca ser�o.
Sim, houve isso, senhores. Em outros tempos tamb�m cantavam nossas m�sicas, com a inten��o de uma certa ironia que n�o resiste ao fato de que lhes falta aquilo que nos sobra, aquilo que n�o se explica. Jogaram milho nas ruas. Acham que isso nos ofende, que piada. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu. Nunca ser�o.
Enquanto o Francisco cantava o hino, n�o t�nhamos ci�ncia, ainda, que um atleticano de 34 anos havia infartado ali mesmo no nosso setor. Luciano Palhares morreu a caminho do hospital. Estava no est�dio com seu filho de 5 anos.
Vi uma foto dos dois. Como um c�tico que acredita nas coisas transcendentais apenas quando envolve o Atl�tico, gosto de pensar agora que cantamos e choramos em sua homenagem. Vai em paz, amigo atleticano, cuidaremos do seu menino.
Vi uma foto dos dois. Como um c�tico que acredita nas coisas transcendentais apenas quando envolve o Atl�tico, gosto de pensar agora que cantamos e choramos em sua homenagem. Vai em paz, amigo atleticano, cuidaremos do seu menino.