
O que aconteceu na �ltima quarta-feira no Mineir�o, quando o Atl�tico bateu o Goi�s por 2 a 0, � o fato mais importante de toda a temporada: a prova cabal de que o Galo � a sua torcida, e que n�o h� Atl�tico se n�o houver o atleticano. O Galo � do povo, e o povo sempre o levar� nas costas, no gog� e no cora��o.
O mais not�vel equ�voco das gest�es Kalil e p�s-Kalil foi deixar-se levar pela moda da elitiza��o dos est�dios. Sim, houve as categorias populares de s�cio-torcedor. Mas o discurso e a inten��o nunca esconderam preterir o pov�o em favor da renda. Talvez a f�rmula possa ser bem-sucedida em outros clubes. No Atl�tico, foi e ser� sua derrocada. N�o precisa faixa: o Galo �, sem concorr�ncia, o time do povo.
Quarta-feira, com o ingresso a R$ 5, o povo foi chamado a salvar o Atl�tico, desprovido que � hoje de comando e de projeto, sob a ger�ncia desastrada de pessoas aqu�m de seu tempo, sem nenhuma responsabilidade social e nenhum traquejo com o futebol. Na internet, a campanha #Tr�gua45Pontos foi levada a cabo pelo torcedor comum, representado na fala doce e sincera do seu Laerte, o atleticano humilde a pedir uni�o contra o “arrebaixamento”.
No passado, houve um torcedor que se chamava Sempre, apelido que advinha de sua frequ�ncia no est�dio. Reza a lenda que Sempre foi chamado ao Mineir�o ainda em constru��o para que escolhesse em qual lado ficaria a torcida do Atl�tico. Sempre escolheu certo meio do campo, ficando o outro destinado �s cadeiras e cabines. Cruzeirenses e americanos ocupariam cada qual a parte de tr�s dos dois gols, as partes que lhes cabiam no latif�ndio alvinegro.
Quando enfim o Mineir�o ficou pronto, nos idos de 63 (isso me lembra o Simca Chambord do Camisa de V�nus), a torcida do Atl�tico ocupava a por��o que apanhava todo o sol, inclemente, como que a castigar aquele imenso povar�u. Sempre havia visitado o est�dio pela manh�, n�o se dera conta da solaca. Indagado sobre a escolha que fizera, saiu-se com uma frase t�o definitiva quanto aquela do Roberto Drummond. “A torcida do Atl�tico pode at� ficar no sol”, disse, “mas � fiel feito a sombra”. (Essa hist�ria me contou o Bolivar, obrigado, xar�.) Os anos que viriam, de gl�rias, sim, mas sobretudo de infort�nios, sofrimento e injusti�a, n�o poderiam estar melhor alocados do que naquele forno quente a esturricar nossos miolos regados ao chope e ao tropeiro, � emo��o desmedida e ao grito “mais gutural de todas as torcidas, como que arrancado da alma: Gaaaaalooo” (isso � do Juca Kfouri).
“N�s somos do Clube Atl�tico Mineiro”, lembrou Carlos Gustavo Mota, neto de Vicente Mota, o autor do hino do Galo. Carlos foi um dos tantos a gravar em v�deo uma mensagem de apoio ao time nos dias que antecederam o jogo contra o Goi�s. Se me permite a heresia, Carlos, este � o �nico verso da nossa Marselhesa que eu mexeria no texto. N�s n�o somos DO Clube Atl�tico Mineiro. Vicente Mota haveria de concordar: n�s somos O Clube Atl�tico Mineiro.
Quando o Corinthians joga, o corintiano diz “Vai, Corinthians”. Quando o Galo joga, o atleticano diz “Vamo, Galo”. N�s estamos sempre conjugados na primeira pessoa do plural. Repare na gram�tica da nossa resenha: N�S contratamos o fulano, N�S perdemos, N�S ganhamos. N�S somos campe�es do Gelo. JOGAMOS com muita ra�a e amor. VIBRAMOS com alegria nas vit�rias. Somos, o Atl�tico e o atleticano, algo que se mistura numa pessoa s�.
Nada, nenhum dirigente, nenhum jogador � mais importante do que essa uni�o sinistra entre o Galo e o seu torcedor, algo que transcende o futebol e cuja explica��o s� se pode achar no exerc�cio do amor. Ou n�o � o amor essa conjun��o carnal e espiritual entre duas partes que j� n�o se podem mais existir sen�o em seu conjunto? Pode faltar dinheiro, pode faltar campo para treinar, como j� faltou, pode faltar compet�ncia, honestidade, ideias – o Atl�tico sempre vai se salvar nesse amor eterno de seu torcedor. Sempre. Galo sempre!