
O azar do atleticano � alguma coisa que deve ser estudada como prova da ci�ncia qu�ntica – ou a part�cula de Deus. N�o � que o p�o do atleticano tenha uma tend�ncia a cair com a manteiga virada pro ch�o. O p�o do atleticano � um p�o de f�rma, e passaram a margarina em ambos os lados. A Lei de Brooks, aquela que versa sobre a possibilidade sempre maior de tudo dar errado, � a nossa Carta Magna. Oh, vida, oh, c�us, oh, azar...
O azar do atleticano � de tal monta, que o antecede a sorte grande, o bilhete premiado. Se fosse o azar advindo de uma fase de vacas mais ou menos magras, n�o seria o azar do atleticano. O azar do atleticano � sempre precedido de tempos de vacas gordas, a metade cheia do copo, a sensa��o do triunfo inevit�vel.
� nessa hora que o homem l� em cima, o s�sia de Karl Marx, surge entre as nuvens cavucando sua barba de comunista: “Hum, Minas Gerais n�o � o Egito, mas eu vou mandar uma praga nesse pessoal”. A�, machuca o Marques antes da final, a bola entra contra o Coritiba e o juiz n�o v�, o c�u desaba sobre S�o Caetano, Wright, Arag�o, a Ditadura, e por a� vai.
Desta feita a praga estava dispon�vel, facinha, acess�vel, mesmo �queles com hist�rico de atleta. A senha foi a festinha. Que fase, senhores! Uma reles baladinha de anivers�rio, um recatado rega-bofe – por�m, contudo, no entanto, demos mole pra ele, o azar. O azar do atleticano.
N�o ser� este escriba, um ativista da boemia, a criminalizar a comiss�o t�cnica pela aglomera��o aniversariante. Mas, carajo, deveriam estar todos dentro de escafandros, envoltos por chapas de acr�lico, e banhados num ofur� de �lcool gel. Agora, estamos contaminados – eles, pela COVID. A gente, pela sensa��o de sermos abatidos na hora crucial.
N�o me culpem, mas cantei a bola na coluna da semana passada: quando tudo estivesse justo e encaminhado, um meteoro nos atingiria, e a Terra plana despencaria no cosmos como um grande frisbee abatido por ca�as da For�a A�rea. Como era urgente foder o atleticano, o meteoro veio na forma da COVID, o expediente que estava mais � m�o.
''N�o � que o p�o do atleticano tenha uma tend�ncia a cair com a manteiga virada pro ch�o. O p�o do atleticano � um p�o de f�rma, e passaram a margarina em ambos os lados''
Agora, vamos n�s, com Leleu e Berola, dirigidos pelo suplente do estagi�rio do administrativo, treinados pelo Zoom, cada qual em seu escafandro. Normal. Estranho seria o desenrolar comum das coisas, tr�s pontinhos aqui, mais tr�s pontinhos ali, a gente subindo os degraus da tabela como tantos outros que levantaram o caneco. Mas o normal do atleticano � o anormal.
Este escriba, ateu como Saramago, c�tico como o doutor Dr�uzio, crente apenas na reciclagem da mat�ria, a Terra como uma enorme composteira, fica agora a se perguntar: o que ter� feito o atleticano em outras vidas? Guerras? Holocaustos? Teria o atleticano queimado as bruxas na fogueira? O azar do atleticano seria um lance c�rmico? Uma maldi��o?
Por isso me espanta a Canhota de Deus. Quando Victor defendeu o p�nalti de Riascos, alguma coisa de extraordin�rio estava a se passar, al�m da defesa em si. Teria Deus (ou o diabo) se ausentado naquele instante, talvez ocupado com outros assuntos, guerras, terremotos, epidemias?
Quando se deu a canoniza��o de S�o Victor, todo atleticano se imaginou livre dos azares monumentais. Acreditou-se tamb�m que a reforma do Mineir�o havia eliminado a cabe�a de burro enterrada naquele endere�o, alguma santa escavadeira teria operado a nosso favor. Sabe nada, o inocente.