
“Em 10 meses, Sampaoli reverteu o cen�rio de cat�strofe iminente. Sem um craca�o indiscut�vel, livrou o Galo do afogamento no Z4 e ainda pode ser campe�o”
Acad�micos do Twitter e o Tribunal do Feicebuque – eis os nossos problemas
As redes sociais s�o o cigarro do s�culo 21. Elas envenenam tudo. Pesquisas indicam que o joinha, o cora��ozinho ticado, eles produzem efeito similar ao das drogas pesadas. Mais uma dose? � claro que eu t� afim. A noite nunca tem fim, Cazuza � que sabia das coisas. Por que a gente � assim?
Tamo lascado, senhores. Acabou o carnaval na sexta-feira de cinzas, a pandemia � um estado permanente – mais do que antes, e olha que j� est�vamos lascados fazia tempo, � nas redes (anti) sociais que agora se desenrola a vida. Pautados pelos Acad�micos do Twitter, julgados pelo Tribunal do Feicebuque (dale Tom Z�!). A mo�a da janela � a mo�a do Instagram.
Minha TL (time line, para os incautos, ou por onde deslizamos os dedos freneticamente, como chimpanz�s na cata��o) est� repleta de coment�rios sobre o BBB. Obrigo-me a ver o que se passa, um problema, pois n�o tenho televis�o. E l� est�: uma rede social, ao vivo e em cores. N�o s�o pessoas confinadas numa casa, s�o perfis do Twitter! Cancelar, bloquear, maldizer, odiar.
Quanto mais �dio, mais p�blico – que se manipulem as regras, a mais escrota precisa continuar! Assim elegemos um presidente, diga-se. Lembro bem o fil�sofo Marcos Nobre no resumo da �pera bufa, t�o logo se confirmou a escolha do bonobo: “Elegemos um youtuber”. Infelizmente n�o era o Felipe Neto.
O problema do Atl�tico n�o � a Galoucura. A Galoucura � a solu��o. Sem a Galoucura n�o h� carnaval, n�o tem samba, n�o tem funk, festa nem aglomera��o. A Galoucura pode errar mas n�o senta a bunda na cadeira. Bota a cara, alem�o! Ou vai ficar escondido atr�s de um computador a envenenar tudo e todo mundo?
O problema do Atl�tico, neste momento, � aquele identificado pelo tamb�m fil�sofo Umberto Eco, que por essa an�lise quase se torna uma Clarice Lispector do Facebook: “As m�dias sociais deram o direito � fala a legi�es de imbecis que, anteriormente, falavam s� no bar, depois de uma ta�a de vinho, sem causar dano � coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles t�m o mesmo direito � fala que um ganhador do Pr�mio Nobel”. Dale!
Jorge Sampaoli transformou em luta por t�tulo uma temporada que se desenhava como das mais vexaminosas da hist�ria. Agrade�a ao Goleiro de Bon� � Noite, dos Afogados da Ingazeira. N�o fosse por ele, pela sa�da de Dudamel e a chegada de Sampaoli, e n�o ter�amos sobrevivido �quela apneia. Salve Jorge e os Menin, por pagar a conta, apenas bote no balan�o a doa��o, obrigado, antes que a gente comece a pensar bobagem.
Em 10 meses, Sampaoli reverteu o cen�rio de cat�strofe iminente. Sem um craca�o indiscut�vel, livrou o Galo do afogamento no Z4 e ainda pode ser campe�o. Trope�ou, acertou, errou, experimentou, errou outra vez (entre seus erros n�o est� nem de longe a escala��o de Everson, um grande goleiro). Mas montou time e elenco e, mesmo com jogadores em fase de adapta��o, estamos classificados para uma Libertadores em que figuraremos como candidatos ao t�tulo. N�o � pouco, ao contr�rio, � muito.
“Por que um time que investiu tanto precisa ser campe�o no primeiro ano?”, perguntou o ex-jogador Pedrinho, no Sportv, diante da insist�ncia na “decep��o” que teria sido o Galo em 20/21. Porque, do contr�rio, as redes transformar�o a vida real de jogadores, treineiros e dirigentes na antessala do inferno. Conjes n�o ser�o poupadas. Para os jovens boleiros, nascidos quando a internet j� existia e formados na Universidade do Facebook, o cancelamento � o fim do mundo.
O Galo disputa o t�tulo e ainda pode ganhar. Quem duvida que o dia que chegar o nosso dia ele vir� �pica e milagrosamente no apagar das luzes, aos 52 do segundo tempo? O Galo tem problemas, � um time em forma��o, s� ganha dos grandes que deixam jogar, e n�o sabe lidar com a retranca. �s vezes, lembra a Sele��o de 1994, sem Rom�rio nem Bebeto. Mas n�o tem nada que prejudique mais o time neste momento do que o fogo amigo vindo das redes sociais. Elas envenenam tudo, e a humanidade ainda n�o descobriu a vacina contra isso.