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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Mais do que ta�as e vit�rias, queremos honra � camisa do Galo

Que os jogadores entendam que n�o foram contratados s� para jogar por um time, mas pelo amor de milh�es de atleticanos


17/04/2021 04:00 - atualizado 16/04/2021 23:21

Ainda que técnica seja fundamental a qualquer time, ela vira combustível extra se somada à raça que sempre caracterizou o Atlético (foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)
Ainda que t�cnica seja fundamental a qualquer time, ela vira combust�vel extra se somada � ra�a que sempre caracterizou o Atl�tico (foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)


Hulk, Nacho, Everson, Alonso, Alan Franco, Savarino, Vargas, Sasha – sinto inform�-los, mas voc�s foram enganados. Contratados para jogar com Jorge Sampaoli, est�o agora submetidos ao Cucabol, � revolucion�ria roda de ciranda nos treinamentos e ao inquestion�vel rach�o. N�o � esse, contudo, o engano do qual foram v�timas. O buraco � mais embaixo, e nesse ponto talvez se possa falar em estelionato, artigo 171 descrito no C�digo Penal: em sua compreens�vel inoc�ncia, julgam ter sido contratados por um clube de futebol. Mas, amigos, aqui se trata, em verdade, de uma seita – a Igreja Universal do Reino do Galo. Sugiro, a essa altura do campeonato, que se deixem catequizar.

Embora este bardo que registra a hist�ria semana a semana (um ordenhador de pedras, a bem da verdade), longe de mim tecer as enc�clicas que nos regem. Ainda assim, vou tentar explicar a voc�s, forasteiros, de que cepa viemos – como se diz por essas terras, doncovim, oncot�, proncov�, quencoss�.

Reparem que “somos” – sempre no plural. Conforme nossa Marselhesa, “N�s somos do Clube Atl�tico Mineiro, jogamos com muita ra�a e amor, vibramos com alegria nas vit�rias”, e por a� vai, sempre junto e misturado. Quando em desespero, rogamos que “vamo, Galo, pelamordedeus”. Muito diferente do apartheid corintiano, por exemplo, sempre a separar o time e seus fi�is: “Vai, Corinthians”. Aqui somos um corpo s�, Frankenstein onde batem 8 milh�es de cora��es. Respeita n�is.

Reza o dogma da IURG que um corpo estranho deve se amalgamar ao todo, nessa simbiose daquilo que se chama “atleticanidade” (confundirei mais adiante, j� que imposs�vel explicar). Por isso, aqui se entra funcion�rio e se sai torcedor. Quanto menos se espera, um mercen�rio est� a chorar de amores pela camisa do Atl�tico. N�o se sabe bem qual � o gatilho para tal transforma��o. Para Ronaldinho Ga�cho, foi a bandeira de dona Miguelina: “Quando eu vi aquilo, pensei: ‘eu vou com eles at� o final’”.
N�o temos exatam
ente um Jim Jones, um Osho, ou um Cristo redivivo a quem seguir em comunh�o. No m�ximo, temos gente com acesso ao homem l� em cima, o s�sia de Karl Marx. S�o Victor � este PABX – “gerente de futebol” � s� um nome de fachada. Cuca tamb�m � capaz de algum tr�fico de influ�ncia, mas a depender sempre dos humores de Nossa Senhora, sua despachante. Sem esse messias, pois � a “atleticanidade” que nos une neste monstro plural e imbat�vel, composto, como bem disse Kalil, da massa de um p�o: “Quanto mais bate, mais cresce”.

A “atleticanidade” � algo �nico, patente nossa e intransfer�vel. Voc� n�o ver� uma “flamenguicidade”, pois inexistente, assim como a “cruzeiridade”. Mas o Houaiss ainda h� de grafar a “atleticanidade”, embora “aquilo que n�o se explica”. E n�o se explica porque um estranho sentimento bipolar de amor e �dio, onde o amor sempre vence – e o �dio, mesmo sendo �dio, acaba inevitavelmente por gerar ainda mais amor, num invej�vel c�rculo virtuoso. Algo pertencente ao ramo do futebol, mas que dele est� muito, muito al�m. A Drag�es da FAO � que tinha raz�o: “Filosofia m�xima de um povo”. A “atleticanidade”, sempre grandiloquente, � a chave da salva��o do mundo (ao fim e ao cabo, o que o mundo precisa � de mais Atl�tico Mineiro).

A “atleticanidade”, meus caros forasteiros, n�o brotou do asfalto. Ela nasce da utopia de um grupo de jovens brancos e ricos que fundaram um clube apenas duas d�cadas depois do fim da escravid�o e chamou negros e pobres a serem seus protagonistas, as listras pretas e brancas em p� de igualdade. Ubaldo, Dad�, Reinaldo, Ronaldo. Na ditadura, o Rei ergueu o punho cerrado nas barbas do general, Pantera Negra a inspirar o doutor S�crates e a Democracia. O Atl�tico n�o � um time, � o sonho de um mundo melhor. E embora pare�a a voc�s que hoje ele tenha dono, � e sempre ser� do povo, que no fundo festeja a si mesmo, porque carrega nos ombros uma hist�ria pela qual sempre valer� a pena lutar. “N�s n�o somos um time de ta�a”, disse Kalil depois de levantar a ta�a. “N�s somos um time de honra.” Bingo!

� por isso, em nome da nossa honra, que apresento a voc�s a nossa hist�ria. N�o sei se me fiz entender. N�o queremos uma vit�ria no cl�ssico. N�o queremos ganhar um campeonato. Antes e sobretudo, queremos que a camisa lhes caia como a armadura do soldado na guerra justa pelo amor. Somos um time de honra, e pedimos que nos respeitem. Sauda��es atleticanas, e Galo sempre!

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