
Antes de Hulk vestir a camisa do Galo, eu n�o fazia a mais vaga ideia de nada ao seu respeito. N�o sabia onde jogava nem onde tinha jogado, se nascera no Rio Grande do Sul ou na Para�ba, se um volante adiantado, um meia ou um centroavante. Se o cruzasse na rua, n�o o reconheceria. V�-se como � vasta minha ignor�ncia no tema do ludop�dio.
A explica��o � simples: eu n�o gosto de futebol, nunca vi um jogo do Barcelona, n�o sei escalar tr�s jogadores do Flamengo, desconhe�o qualquer um que jogue no arquifregu�s, � exce��o de F�bio de Costas. O neg�cio � que eu s� gosto de Atl�tico – e � mais que suficiente o espa�o que o Galo j� ocupa nos 10% pensantes da minha cabe�a animal. O resto precisa ficar preservado para assuntos menos importantes, por�m, necess�rios, como a fam�lia e o trabalho.
Foi igual quando chegou o Ronaldinho Ga�cho. Eu, realmente, tinha problemas com Ronaldinho. Al�m da amarelinha, este vestira a camisa do Flamengo, portanto, o combo era completo – a batata frita viria depois, quando apertou o 17. Fora o fato de que eu havia coberto a Copa de 2006 na Alemanha, e a imagem que havia ficado de R10 era a do malabarista de farol: faz mil embaixadinhas, como uma foca na piscina, mas na hora que a vida anda pra valer, recolhe-se � insignific�ncia do meio-fio. Como F�bio, eu queria v�-lo pelas costas.
Bem, eu amo o Ronaldinho Ga�cho. � o �nico bolsominion que j� perdoei sem exigir o comprovante da vacina contra a febre aftosa. A bem da verdade, sou muito male�vel nesse tipo de coisa, e eu mesmo desconfio do meu pr�prio car�ter: o sujeito pode ser um L�zaro, mas basta v�-lo de Atl�tico para que enxergue no monstro um outro lado, ao qual me apego prontamente.
N�o preciso dizer que o fen�meno se repete agora com Hulk. Jamais poderia imaginar que, por tr�s daquele amontoado de m�sculos, abrigava-se um c�rebro de t�o rara intelig�ncia e um cora��o notavelmente bondoso. N�o poderia supor que algu�m a ostentar tamanho traseiro pudesse jogar bola com tanta efici�ncia. Garrincha tamb�m tinha o seu aleij�o, mas Hulk � Pel�: arma, defende, corre, passa, cabeceia, chuta forte, bate colocado – joga para um grande caralho!
Hulk re�ne a for�a bruta de Dad� e a intelig�ncia de Reinaldo. Tem a alegria de jogar de R10. Bate na bola como �der Aleixo. Tem algo imprescind�vel para se dar bem no Atl�tico: � um cara legal. O escroto e o marrento aqui n�o se criam, e o melhor exemplo disso � Renato Ga�cho. Hulk sorri como o Cerezo, � s�rio como o Luisinho. Vai chorar por n�s como Ronaldinho Ga�cho, e vai com a gente at� o final.
O Galo de Hulk � um alento nesses tempos estranhos. Mesmo sucateado, foi resistente diante do Inter e fora de casa. Lutou, lutou, lutou, venceu, venceu, venceu. Bolsonaro quer o presidente do Flamengo como vice em 22, segundo o jornalista Ancelmo Gois. Uni�o sinistra cuja pedra no caminho ser� o Galo de Hulk, muito, mas muito melhor que Gabigol.