
Na varanda do “melhor bar do mundo” tremula o pavilh�o do Clube Atl�tico Mineiro. Sinto-me pronto para a guerra.
Acordo todas as manh�s e, com a desculpa de levar os cachorros para uma caminhada, patrulho a praia em busca de submarinos chineses. Concentro-me tamb�m a observar o horizonte long�nquo na linha do mar: nunca se sabe se esses chinas n�o est�o escalando a fal�sia que se encontra na quina da Terra plana, debru�ada sobre o Cosmos.
Por aqui sou conhecido como o Fred Atleticano. H� dois anos colaborei para a cria��o do Galo Cara�va, o 81º Consulado do Galo. N�o � algo que esteja em conson�ncia com a realidade, porque um consulado pressup�e localizar-se em terra estrangeira, e por essas plagas o atleticano est� absolutamente em casa.
Aqui n�o tem Bahia nem Vit�ria, a disputa se d� entre Atl�tico e Flamengo. Por isso eu sou o Fred Atleticano: s�o tantos os atleticanos que � preciso distingui-los pelo primeiro nome. � um disfarce perfeito, porque verdadeiro e honesto: visto a camisa a listrada e saio por a�.
� como se tivesse chegado ao pr�dio dos meus pais, em BH, e encontrado o zelador Jos� Luiz, com quem cultivei uma grande amizade de d�cadas sem jamais ter tido qualquer outra conversa sen�o “Tudo bem, e o Galo? Tudo bem, pois �, e o Galo?”.
Em Cara�va � igual. Caminho pelas vielas de areia, enquanto os atleticanos v�o brotando no caminho como camelos no deserto.
Quando o Galo perde, como foi na estreia do Brasileiro (o Fortaleza � o novo Botafogo, que em outros tempos foi o novo Goi�s, que por sua vez foi o novo Crici�ma), tranco-me em casa saindo apenas para a patrulha matutina.
Quando o Galo ganha, como no jogo de quarta-feira contra o Remo, flaino sobre as areias, o peito estufado n�o como um simples galo, mas quase um chester em v�spera de Natal.
Para que n�o desconfiem das minhas verdadeiras inten��es, capricho na caipirinha, sob a desculpa de que o Galo me devolveu a alegria de viver. E haja caipirinha pra tanto atleticano feliz!
Enquanto n�o se d� o enfrentamento final com os comunistas chineses e sua guerra bacteriol�gica, por aqui nos preparamos para o embate com os flamenguistas: nossa bandeira jamais ser� vermelha e preta!
Outro dia mesmo, durante o servi�o da patrulha, aproveitei para lan�ar ao mar uma oferenda � Iemanj�. Foquei o horizonte da Terra plana e pedi a revanche com o Flamengo na final da Libertadores (1981 � a minha obsess�o).
Alguns metros adiante recebi um sinal positivo ao pisar inadvertidamente num coc� que se misturara ao desenrolar da marolinha: era Iemanj� mandando o Flamengo pra gente. Que assim seja! Ax�!
Antes da China e do Flamengo, no entanto, outros desafios se imp�em na defesa de ambas as p�trias, a de chuteira e a de Havaianas. A p�tria de chuteiras ter� de superar o Boca pelas oitavas da Libertadores e ter� de bater o Sport do guerreiro Patric. J� a p�tria de Havaianas deve manter dois p�s atr�s com a m�dica Luana Ara�jo: trata-se de uma cruzeirense e, portanto, sem qualquer cr�dito na pra�a.