Havia um tempo em que, ao ver o Galo no topo da tabela, sonhava, como Raul, com o dia em que a Terra parou. “Est�tua!”, pensava c� com meus esfuma�ados bot�es. E, ent�o, na minha condi��o de atleticano patol�gico, imaginava o fim dos tempos, o planeta a despencar no Cosmos com o Galo em primeiro, e portanto campe�o – visto que dali em diante o mundo seria um grande WO.
Ou aquele meteoro que, por vias tortas e desgovernado, nos daria o Brasileir�o, o t�tulo imposs�vel que n�s, atleticanos, perseguimos h� 50 anos como uma utopia perdida, algo que foi arrancado de n�s quando �ramos meninos, e cuja aus�ncia – sempre presente – nos fez adultos antes da hora. Por minutos a fio, olhava a tabela como um turista no Louvre olha a Mona Lisa.
Tantas vezes eu pensei nisso desde que a Fabi foi diagnosticada com a doen�a que, percebo agora, perdi a coragem de dizer o nome. Se o tempo parasse, preferencialmente com o Galo em primeiro na tabela, a gente ganhava essa guerra. E se eu pudesse decidir quando o rel�gio haveria de ser brecado, recuaria os ponteiros at� 24 de julho de 2014, no minuto final da decis�o da Recopa, que vi com ela e o Francisco no setor da Galoucura, o Mineir�o lotado. A gente era feliz e sabia. Se a fotografia pode conter o tempo, este seria o meu retrato em branco e preto.
Acontece, por�m, de estarmos em 2021. O Galo est� em primeiro e pode, hoje, abrir cinco pontos sobre o Palmeiras. Mas agora eu n�o desejo que o mundo pare, ao contr�rio – contra todos os diagn�sticos, quero que esse tempo passe e r�pido. Porque � urgente salvar as florestas, � urgente que todos se vacinem, � urgente alimentar quem tem fome, e � urgente que o amor predomine sobre o �dio. Sen�o, morreremos todos de Brasil antes de o Galo ser campe�o.
Se o meteoro n�o vem, o neg�cio � lutar, lutar, lutar, como ensina a nossa Marselhesa. Vicente Motta � que sabia das coisas: “vencer, vencer, vencer” podia ser o ponto alto do hino que comp�s, mas ele escolheu o �pice que vem da luta – “lutar, lutar, lutar, com toda a nossa ra�a pra vencer”. A vit�ria, pois, � consequ�ncia da luta. Que parar o tempo, que nada – n�s vamos � dribl�-lo, botar no bolso. E viver a del�cia do momento presente, afinal, o �nico que de fato existe e � real, o resto � coisa da nossa cabe�a.
Eu me recuso a morrer de Brasil! Ent�o, vou fazer como esse Galo atual (que, assim como o genocida, de doido n�o tem nada) – � tudo m�todo, como ensina o M�rio Marra. E luta. Contra o River, na Argentina, foi frio, l�cido e confi�vel. J� n�o � mais o Galo que tirou o Boca, no velho estilo n�o-�-milagre-�-atl�tico-mineiro. � o Galo do Nacho s�rio e cordato na hora do gol. � o Galo que ganhou do Juventude, porque era s� quest�o de tempo. � o Galo que saiu do banco pra eliminar o Bahia. O Hulk � o nosso tanque que funciona, letal, sem cortina de fuma�a. Como num tabuleiro de xadrez, xeque-mate, vida ou morte, um, dois, tr�s (e viva os Racionais!).
O tempo correndo solto, jogo quarta, jogo domingo, a CPI pra acompanhar, o Palmeiras ensanduichado entre as duas batalhas contra o River Plate, depois do Boca, antes do S�o Paulo ou do Palmeiras, quem sabe o Flamengo na final. Vamo que vamo!
Ao contr�rio do que prega o poeta, atentos venceremos – o Palmeiras, o River, o Bolsonaro, a Copa do Brasil, o Brasileir�o, a Libertadores, a doen�a maldita, e o Lukaku no Mundial. Distra�dos, n�o caiam nessa, empataremos.
E agora, s� pra passar o tempo, vou fazer um print da tabela, colar no teto do quarto, deitar na cama e olhar pra ela como quem vai � Capela Sistina. Gaaaaaaaaloo!!!