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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Sobre J� e os tr�s mil galos de Curvelo na promessa pelo Galo campe�o

Os internos do manic�mio se agitam, batem as canecas na grade, exigem o Rivotril Litr�o, embora o ideal fosse mesmo o caminh�o-pipa


04/09/2021 04:00 - atualizado 04/09/2021 07:07

"Eu acredito", assim a torcida do Galo empurrou o time para primeira conquista da Ta�a Libertadores da Am�rica (foto: Jorge Gontijo/EM/D.A Press. - 8/11/19)

Sendo eu este ordenhador de pedras para assuntos de Atl�tico, h� mais de 10 anos na oper�ria labuta desta coluna Prestes, � natural que tamb�m exer�a o of�cio de para-raios de toda a nossa maluquice, essa patologia a que se chama “atleticanidade”, sem cura, sem tratamento precoce, sem vacina. E se a houvesse, ser�amos a maior for�a antivax dessa Terra plana.

Eu me lembro de estar no aeroporto de Assun��o em julho de 2013. O Galo acabara de perder o primeiro jogo da final da Libertadores, um 2 a 0 irrevers�vel, apenas o novo epis�dio na s�rie de todos os nossos fracassos. Me recostei no banco, morto, tinha passado a noite numa espelunca, bebera um Natu Nobilis do Paraguai e agora, derrotado, amea�ava morrer de Atl�tico. Esperava o avi�o. Eu morro de medo de avi�o, um m�ssil envolto em gasolina.

Ent�o o para-raios come�ou a funcionar. Atleticanos moribundos atravessavam o sal�o com seus passos b�bados, aproximavam-se, e como se pusessem a receber a h�stia deste pastor da IURG, a Igreja Universal do Reino do Galo, comungavam comigo: “Eu acredito”. Sa�a um crente e vinha outro. A fila andava. Todos meus editores. “Eu acredito, escreve na sua coluna”; “Bota l�, eu acredito”; “Eu acredito, fala no jornal que voc� acredita”. Um desinformado total sussurrou-me nos ouvidos: “Ningu�m acredita, mas eu acredito”.

Agora que estamos prestes a ganhar de novo, os internos do manic�mio se agitam, batem as canecas na grade, exigem o Rivotril Litr�o, embora o ideal fosse mesmo o caminh�o-pipa. Come�am a avolumar-se todo tipo de diagn�stico. Escrevo ao amigo Chico Pinheiro para contar-lhe sobre como, aos 10 anos, o Flamengo me fez descrer na bondade dos homens e na exist�ncia de Deus, e que, agora, s� penso na desforra – ainda que seja necess�rio primeiro “pururucar o porco”, conforme receita do camarada Carlos Ribas. Chico me prescreve Lacan.

Gra�as a Deus � sexta-feira, � vida que segue, eu estou na estrada (sobre a cabe�a os avi�es, sob os meus p�s os caminh�es) e o Chico pode me contar de 1977: rep�rter, estava dentro do campo, atr�s do gol de Jo�o Leite, quando se deu a trag�dia. N�o desacreditou de Deus, pelo contr�rio, agarrou-se a J� e teve paci�ncia. Ateu, s� n�o fiz o mesmo por um detalhe m�nimo: agarrei-me a J�. E se pensarmos bem, � aquele gol, aos 2 minutos do segundo tempo, no jogo da volta contra os paraguaios, que viria a operar o milagre da salva��o. Libertas quae sera tamem, ou seja, a Libertadores seria nossa tamb�m.

Agora � o Rib�o da Massa (n�o confundir com o Rub�o da Massa, quantos bilh�es de diferen�a pode conter uma simples vogal). Desde o La Canhota de Dios, dissid�ncia comunista de um grupo que se desfez nas brumas do golpe, o Ribas lan�a a braba: vai caminhar de Belo Horizonte at� Curvelo se o Galo ganhar. Vai cruzar as paragens de dr. Lund e a terra de Luzia, “que provou ser o Brasil negroide muito antes dos continentes se separarem”, tava foda o nosso amigo. Avisa que “Riobaldo encontra com Diadorim muito � frente, no de-Janeiro”. Vai pelas veredas, o nosso Rib�o.

Claro que iremos todos, para-raios de maluco, peregrinos na contram�o, j� que a nossa Meca � logo ali, em Lourdes. Lembro ao Rib�o que o ponto final precisa ser a madrugada de Curvelo, onde segundo o amigo apresenta-se a mais completa e exuberante sinfonia de galos de todo o mundo. “Fred�o, eram 3 mil galos”, atesta.

O corol�rio do poema-tese de Jo�o Cabral: “Um galo sozinho n�o tece uma manh�, ele precisar� sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele, e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manh�, desde uma teia t�nue, se v� tecendo, entre todos os galos”.

“O que n�o faz o banzo da saudade da terra, a falta de jogo do Galo, um ambiente amigo provocador das mais profundas emo��es, e uma garrafa de vinho” –  desculpou-se depois o Rib�o, a promessa feita, irrevers�vel.

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