O raro leitor sabe que este escriba � uma fraude: n�o entende nem acompanha futebol al�m de Atl�tico, motivo pelo qual o �nico Hulk que tinha visto em a��o era aquele da s�rie televisiva dos anos 80, em que Bruce Banner, por motivos b�blicos, virou David Banner. Minto: vi Hulk na selecinha em 2014. E como membro-fundador do Movimento Corrente Pra Tr�s, cujo objetivo � secar a CBF sob qualquer circunst�ncia, achei justo que um sujeito com nome de her�i da Marvel e m�sculos de juiz Daronco levasse aqueles 7 a 1 na corcova.
Nos anos seguintes, o Hulk sumiu de novo do meu radar. Se o visse na rua, no m�ximo ia achar que se tratava de um part�cipe da fam�lia Gracie. N�o assisto futebol internacional nem jogos de outros times. Jamais vi o Barcelona ou o Real Madrid jogar. Com 90% da minha cabe�a ocupada por Atl�tico, fico um pouco constrangido em enfiar mais ludop�dio nos 10% restantes dedicados � fam�lia e ao trabalho. A selecinha pra mim, hoje, � como o elenco de A Fazenda: s�o an�nimos, ainda que mais ou menos not�veis.
Pois bem. De repente me contratam o Hulk. Achei perdul�rio, mas veja bem: o pobre tem essa defesa natural, ele prefere de fato o desenho de um velho Opala coup� �s linhas retas da Ferrari, apetece-lhe muito mais uma macarronada do que as ovas do esturj�o. Isso � parte, n�o botei mesmo nenhuma f�, embora se possa acreditar automaticamente em qualquer pessoa vestida de Atl�tico. O cara chega em sua apresenta��o e voc� com aquele sentimento de que o melhor teria sido aplicar tudo na poupan�a, pobre � foda. A� o fulano veste o manto e algo de transcendental acontece: pronto, eis o melhor do mundo, coitado do Cristiano Ronaldo.
No come�o, Hulk estava em modo Baner, discreto, introspectivo, apenas esfor�ado. Mas a� ele ficou puto com o Cuca. E a partir de ent�o, como se sabe, o pau quebrou. Digo, Hulk come�ou a arrebentar. Creditava tudo � sua for�a bruta: jogadores de futebol em sua maioria possuem chassis de grilo, n�o havia como competir com aquele Daronco que enfim rasgara a fantasia do homem de amarelo e lan�ava-se agora em disputas completamente desleais – ou existe alguma chance de se fazer justi�a num ombro a ombro com Givanildo?
Givanildo foi amineirando-se, comendo quieto, vendendo queijos e possuindo bancos. Sua caixa de ferramentas revelou-se a cartola do m�gico – havia sempre uma surpresa, um truque novo, uma carta na manga. Mas, ao contr�rio do ex-m�gico da Taberna Minhota, Hulk controlava o jogo, direcionava as a��es. A for�a bruta escondia uma intelig�ncia insuspeita.
O matador em geral � cheio de marra – Tardelli, Rom�rio, Maradona. � como se o exerc�cio da centroav�ncia exigisse a escrotid�o intr�nseca de um Gabigol, um Wellington Paulista. Hulk � diferente: � um goleador que sorri, uma montanha de m�sculos acolhedora e cheia de afetos. O torcedor do Athetico Paranaense, atordoado diante da goleada nas finais da Copa do Brasil, mostrou o dedo m�dio para Givanildo.
Givanildo respondeu juntando as m�os no seu tradicional cora��ozinho. N�o havia nisso qualquer ironia: Givanildo n�o faz guerra, Givanildo faz amor. Givanildo poderia ser H7, assim como R10 e CR7. Mas Givanildo gosta de ser Hulk Para�ba, sabe de onde veio e pra onde vai. � o mineiro que vende queijos e possui avi�o. Seu pai poderia ser uma esp�cie de Neymar Pai, empres�rio do futebol, aquela banca e tal. Mas ningu�m segura, o seu Gilvan � 100% Galoucura. Tira a camisa, roda, n�o fica parado e portanto n�o vai tomar um t�-ligado. Coitado do Macal� perto do seu Gilvan.
Se o Tite n�o sabe quem tirar, n�o tive a menor d�vida: saquei Dad� do meu Atl�tico de todos os tempos (que ele n�o me leia) e meti o Hulk abrindo pela direita, na companhia de Reinaldo e �der (Ronaldinho � meia). Eu j� estava absolutamente apaixonado pelo Hulk. Mas agora virou obsess�o, por um motivo: Hulk � Reinaldo de novo. Faz gol como o Rei, a cobertinha que passamos a chamar cavadinha. Dribla como o Rei. � surpreendente como o Rei. Decide como o Rei. O Rei n�o ganhou porque tinha o Wright. Hulk ganhou porque tinha o VAR.
N�o ser� o caso de passar a coroa, mas temo que a nossa monarquia se transforme numa diarquia, aquela em que h� dois reis. Aconteceu em Esparta, na Gr�cia Antiga, mais ou menos na �poca em que perdemos o �ltimo jogo numa Libertadores da Am�rica. Givanildo Para�ba, a gente te ama pra sempre!