
E chegamos ent�o ao final do certame. Amanh�, contra o Corinthians, de certa forma jogaremos o ano de 2023, pois a rodada decide quem leva as vagas derradeiras na pr�xima Libertadores. Com a inaugura��o do Terreir�o do Galo, era para 23 ser o ano da gl�ria. Mesmo que ainda n�o o tenha sido, j� n�o o foi.
A presidenta Dilma pode explicar melhor, com a c�lebre frase que adentrou sem K-Y os anais da hist�ria: “N�o acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder, vai todo mundo perder”. Grosseiramente falando, � algo como um “se fodemos” geral e irrestrito, na vit�ria ou na derrota.
A culpa por esse estado de coisas um tanto deprimente est� no melanc�lico desempenho em casa, onde o Galo sempre foi o todo poderoso tim�o, osso duro de roer at� com as forma��es mais med�ocres. Em 21, o Atl�tico fez 52 pontos no Mineir�o. Em 22, apenas 29 – a terceira pior campanha de sua hist�ria nos pontos corridos como time mandante. � um vexame de propor��es monumentais, sobre o qual n�o adianta tergiversar. � um enorme vexame, que independe do jogo de amanh�. E ponto.
Houve um �nico grande time no Brasileiro de 2022: o Palmeiras. Motivo pelo qual fica ainda mais grave a participa��o mediana do nosso Galo, com elenco car�ssimo e de �tima qualidade, campe�o de quase tudo no ano anterior. O que se passou � um mist�rio insond�vel, a n�o ser pela mudan�a de foco dos donos do clube, que passou do futebol � pol�tica partid�ria.
Mesmo depois das elei��es, e diante da necessidade de salvar 23 garantindo pelo menos uma vaga na pr�-Libertadores, os mandat�rios seguem dispostos a eliminar n�o o Am�rica, o Botafogo, o Athletico ou o S�o Paulo – mas Alexandre Kalil. A 48 horas do jogo decisivo, o assunto no clube era a revoga��o do nome do novo est�dio, Elias Kalil, uma homenagem �quele que foi o maior presidente da hist�ria do Galo. Pelo menos at� 2013, quando o filho Alexandre assumiu o posto. Le�es nos bastidores, tchutchucas no Mineir�o. E assim vamos.
Outro dia, extremistas da direita ficaram em �xtase com a revela��o de que um certo general apresentaria provas definitivas da fraude nas elei��es. O general se chamava Bejamin Arrola. Um famoso lutador de MMA, cujo c�rebro � inversamente proporcional ao tamanho do b�ceps, gravou v�deo pedindo para que Bejamin Arrola botasse finalmente a cara e salvasse o pa�s de toda a sacanagem. “Bejamin Arrola”, implorou ele, “precisa aparecer”.
Bejamin Arrola me fez lembrar Cuca Beludo, o conhecido comentarista para temas variados em programas diversos de televis�o, seja na Ana Maria Braga ou nas mesas redondas de futebol. Cuca Beludo me alertou para o fato de que seu xar� foi ficando, cagando e ocupando a moita, e ainda assim sem dar resposta sobre o futuro, como se tivesse 80% de aproveitamento no lugar dos 38% que tem. Continuar� obrando em 23 ou deixar� o arbusto em favor de outro? Com a palavra, Cuca Beludo.
Outro dia sa� de carro de S�o Paulo com dire��o a Bahia, levando dois cachorros e 800 malas, sacos, sacolas, m�quinas, apetrechos, utens�lios. Cheguei a Belo Horizonte �s 20 horas, pensando em pernoitar na casa dos meus pais, onde passaria com eles uma �nica noite. N�o me aguentei: consegui abrigo para os c�es na casa de um amigo e rumei para o Mineir�o com toda aquela coisera. Sem dinheiro vivo, passei um pix pro flanelinha. Sem tempo para estacionamento, parei na rua mesmo, com a minha vida no interior do autom�vel, e fosse o que Deus quisesse.
Entrei no est�dio aos 25 minutos do primeiro tempo. 1h30 depois, sa�a derrotado por 2 a 0, faminto, sujo, descadeirado, doente, fodido. Tem bobo pra tudo nesse mundo. Podia ver nos c�us da Pampulha a presidenta Dilma falando pra mim: “Vai todo mundo perder”.
No entanto, eu faria tudo de novo. E ganharia de 3 a 0. E lembraria Jo�o Batista Ardizoni no filme do Galo: “Nossa vit�ria � ter nascido atleticano”.