Caros atletas, diretores, mecenas-credores, vendedores-compradores, rainha da Inglaterra, Felip�o e comiss�o t�cnica: o Flamengo � diferente. N�s precisamos ganhar do Flamengo, e explico a voc�s por que isso � importante para o atleticano em particular e para a humanidade em geral.
Sim, � necess�rio explicar, porque, salvo as raras exce��es, o Galo � hoje um clube que parece desconhecer sua pr�pria hist�ria. S� isso justifica que, diante de milhares de times espalhados pelo mundo, tenhamos negociado nosso melhor volante com o arquirrival. Antes, o jogador entrava funcion�rio e sa�a torcedor. Hoje entra funcion�rio e sai flamenguista.
Tenho buscado a palavra exata para qualificar o Galo que se v� em campo e fora dele. A palavra � desalmado – “que ou quem n�o se sensibiliza, n�o se comove com a trag�dia do pr�ximo, nem corresponde ao amor que recebe”, ensina o pai dos burros.
O Galo teve time sofr�veis. Dessa cepa brotaram Mexericas e quetais, Zizas e tantos outros. Mas mesmo a Selegalo de 1994 tinha outro esp�rito que n�o � esse espectro a correr atr�s da bola como uma gente amansada. Esp�rito de porco j� houve em profus�o, melhor assim. Esp�rito nenhum � a primeira vez.
Contudo, como eu ia dizendo, n�s precisamos ganhar do Flamengo. Porque nunca vamos esquecer aquilo que voc�s n�o se lembram: n�s n�o fomos apenas roubados bisonhamente por eles em 80 e 81 – tivemos nossa hist�ria para sempre diminu�da em raz�o desse assalto. Ser�amos campe�es do mundo, mas n�o resistimos ao Flamengo de todos os tempos, aquele que jogou com Zico, Nunes, Wright e Arag�o.
S� fomos nos recuperar 42 anos depois, com o t�tulo da Libertadores que nos garfaram l� atr�s. E tamb�m no ano seguinte, quando tiramos o “Flamenga�o classificada�o” da Copa do Brasil, em um dos maiores jogos da nossa hist�ria. N�o vi o clube celebrar como devia os 10 anos da liberta��o de 2013 e n�o celebrar� 14. Celebram Maroon 5 mas n�o celebram o Kalil de jeito nenhum, que coisa mais rid�cula de se testemunhar. “Tudo vale a pena, se a alma n�o � pequena.” Bem, n�o h� alma.
Meus caros, vencer o Flamengo � e sempre ser� um acerto de contas. Em 1987, pensei que tivesse chegado a nossa hora. Aos 15 anos, falsifiquei um documento de identidade e me mandei para o Maracan� lotado. Dirigidos por Tel� e invictos at� aquela semifinal, perdemos l� e no Mineir�o, a prova da inexist�ncia de Deus. Aos 51, a mem�ria guardou apenas o grito da multid�o no jogo da volta: “Vingan�a, vingan�a!!!”. Perdemos. Mas havia alma, amigos, e como havia.
Vencer o Flamengo � quest�o de educa��o moral e c�vica. N�o aquela dos militares, que viam na conquista de 80 o necess�rio respiro que precisava a “ditadura acabada” – o repeteco mal ajambrado da sele��o de 70 e seu uso pol�tico pelos golpistas de ent�o. Melhor ainda que do outro lado estivesse Reinaldo com o punho cerrado, o baixinho gigante em sua luta pela retomada da democracia.
Sempre que o Atl�tico ganhar do Flamengo, a desforra ser� do escr�pulo contra a falta dele. Do certo contra o errado. Da esperan�a contra o medo. Da justi�a contra a manipula��o. Por isso, meus caros, pelo bem da humanidade, n�s precisamos ganhar do Flamengo.
N�s precisamos ganhar do Flamengo porque isso tem uma for�a simb�lica t�o grande que, embora voc�s n�o fa�am a menor ideia disso, � a chavinha pronta pra mudar a nossa hist�ria nesse certame dos infernos. Se ganhar do Flamengo, vai ganhar do Palmeiras, vai ganhar do Cruzeiro. E quem sabe at� n�o vamos acabar por reencontrar a nossa alma, subtra�da em tenebrosas transa��es.
Bora desamansar-se, pessoal, ainda t� em tempo. Vingan�a, vingan�a!!!