A cada partida do Cruzeiro, Marcelo segura a m�o do pequenino Tom�s e lhe garante: “hoje vamos ganhar”. H� um bom tempo, o time n�o o ajuda a cumprir a promessa. Numa das �ltimas derrotas, o filho n�o suportou e, batendo os pezinhos pelo ch�o frio, saiu emburrado da sala de TV. Com o cora��o partido, o pai suspirou a decep��o, juntou for�as e foi at� o quarto, onde o garotinho estava sentado de bra�os cruzados e testa franzida, num misto de raiva e tristeza. Acomodou-se ao lado dele e disse baixinho: “Filho, nenhum time ganha todos os jogos. Nem mesmo o nosso Cruzeiro”.
Era Dia dos Pais. O abra�o dos dois cruzeirenses foi imediato. Da m�ozinha do filho, Marcelo recebeu um bilhete. Quando abriu, o papai celeste viu a si mesmo desenhado, segurando uma ta�a, ao lado de uma raposa. Na outra p�gina, a defini��o mais genial que qualquer poeta poderia ter dado � paix�o pelas cinco estrelas: “Pai, n�s somos Cruzeiro. N�s quase ganhamos todos os jogos”.
De: Tom�s | Para: Marcelo
Instantes depois, �s 13h02, pelas redes sociais, era o Cruzeiro quem escrevia um bilhete para Marcelo, Tom�s e todos os 9 milh�es de cruzeirenses: “Diretoria confirma Rog�rio Ceni como novo treinador do Cruzeiro Esporte Clube”.
Foi o suficiente para n�s, cruzeirenses apaixonados, voltarmos a olhar para o horizonte com esperan�a de tempos melhores. J� felizes pelo “sim” do treinador e seu respeito � hist�ria gigantesca do nosso clube, mesmo nesse momento de turbul�ncia. Exatamente ele, que tantas vezes enfrentou, ganhou, perdeu, marcou gols, sofreu outros e foi testemunha de um Cruzeiro Esporte Clube afeito a jogar para frente e a conquistar t�tulos, seja nos momentos bons ou ruins.
Mais do que uma arrancada na tabela do Brasileir�o e uma �pica reviravolta na segunda partida contra o Internacional, pela Copa do Brasil, o que esperamos da “Era Rog�rio Ceni” � a reconquista de nossa estima (ao menos dentro de campo, porque fora dele...). O retorno do prazer em assistir ao Cruzeiro jogar. A certeza de comprarmos ingresso para sermos novamente brindados com o azul da camisa linda sempre no campo de ataque; balan�ando no corpo de jogadores velozes e agudos; suada por uma busca incessante por gols e arrancada na comemora��o dos muitos que vir�o.
No fundo, o que humildemente esperamos � a volta da ess�ncia constru�da h� 100 anos: a de uma Academia Celeste praticante do futebol arte.
Num segundo instante, quando voltarmos a nos portar como o �nico gigante de Minas Gerais, talvez possamos elevar os nossos sonhos e os de Rog�rio Ceni a patamares maiores. A�, sim, estaremos preparados para lhe dar o �nico t�tulo que lhe falta. Do mesmo momento, ele poder� nos levar ao �nico que tamb�m nos falta. Assim, al�m de multicampe�es que j� s�o, Cruzeiro e Rog�rio se tornar�o, juntos, “campe�es de tudo”.

Por enquanto, vamos no passo a passo. E o atual � o de relembrar a leveza reconquistada na alegria, na poesia e nos bilhetes do �ltimo Dia dos Pais Cruzeirenses.
Voltando a ele, enquanto a Na��o Azul enchia as redes sociais de boas-vindas ao novo t�cnico, o pequeno Tom�s e o seu irm�ozinho, Artur, chegavam � casa do Vov� C�lio, no Bairro Saudade, em Belo Horizonte. Com a bola debaixo do bra�o, seguiu para a garagem. Transformou o gradil do port�o em traves. Posicionou-se debaixo dela. Chamou o papai e o vov� para formarem a barreira. Pediu que seus zagueiros fechassem o canto direito, j� que ele se mantinha na por��o esquerda da meta. Foi quando Artur chutou para iniciar mais um futebolzinho de alegria e de cruzeirenses novamente esperan�osos.
Lembrando disso, termino como tudo come�ou: num bilhete.
Rog�rio Ceni, agora, voc�, eu, o papai Marcelo, o vov� C�lio, o Tom�s, o Artur, n�s todos somos Cruzeiro. Espero que voc� chegue para faz�-lo voltar a ser como na mensagem do Dia dos Pais: o time que ganha quase todos os jogos.
Seja bem-vindo, comandante! Lugar de multicampe�o � no multicampe�o.
