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Estado de Minas

Mesmo que o Cruzeiro ignore leis trabalhistas, Ded� exagera

Alega��o do zagueiro de que sua rela��o com o clube celeste era an�loga � escravid�o deve soar como algo absurdo


10/02/2021 04:00 - atualizado 09/02/2021 23:08

Ainda que a Raposa descumpra obrigações com seus jogadores, Dedé exagerou ao citar trabalho análogo à escravidão(foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS %u2013 14/8/19 )
Ainda que a Raposa descumpra obriga��es com seus jogadores, Ded� exagerou ao citar trabalho an�logo � escravid�o (foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS %u2013 14/8/19 )

A convite do colunista Gustavo Nolasco, a coluna Da Arquibancada de hoje foi
escrita por Bruno Parreiras e Vin�cius Cruz (*)

Ded� foi escravizado, como alegou em a��o judicial contra o Cruzeiro? A partir desse questionamento, propomos uma reflex�o. Segundo reportagem publicada pelo colunista Jamil Chade (UOL) no m�s de dezembro, o sal�rio m�nimo do brasileiro ficou abaixo da m�dia mundial em 2019, de acordo com dados da Organiza��o Internacional do Trabalho. Tamb�m foi publicada no Portal UOL, ainda no in�cio da pandemia no Brasil, pesquisa feita pela Federa��o Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf), em parceria com a Esporte Executivo, revelando que 75% dos jogadores recebem abaixo dos R$ 7 mil mensais. Na �poca desses levantamentos, se discutia a volta do futebol e como a parada da atividade profissional impactava financeiramente a vida da maioria.

Dentro desse contexto, receber a not�cia de que um dos argumentos de Ded� ao acionar o Cruzeiro na Justi�a era de que sua rela��o com o clube � an�loga � escravid�o deve nos soar absurdo. Um desatino pela desconex�o com o pa�s onde o atleta, hoje, comp�e parte dos privilegiados economicamente. E soa mais absurdo quando a pandemia escancara a nossa realidade socioecon�mica, em que milhares de brasileiros n�o t�m condi��es de colocar comida na mesa.

Falar de rela��es an�logas � escravid�o num cen�rio de supervaloriza��o dos sal�rios de jogadores de futebol envolve variantes complexas e importantes de serem destacadas. Primeiro, porque � necess�rio discutirmos as rela��es estruturais brasileiras, forjadas na desigualdade social desde os tempos coloniais e exemplificadas, claramente, na diferen�a salarial entre negros e brancos. Segundo, porque � imprescind�vel entender que o futebol, desde seus prim�rdios na profissionaliza��o, em 1933, at� hoje, � visto como a principal via de inser��o social da camada socioecon�mica mais baixa, constitu�da majoritariamente pela popula��o negra no Brasil.

� preciso lembrar que considerar escravid�o o atraso salarial de R$ 750 mil estabelecido em contrato entre Ded� e Cruzeiro demonstra, al�m de todo esse entorno, desrespeito hist�rico com corpos de povos escravizados at� 1888 e que hoje servem de base judicial para uma luta t�o s�ria contra pr�ticas escravocratas.

Mesmo com todos os fatos expostos, devemos ressaltar a necessidade de que o Cruzeiro cumpra suas obriga��es, como qualquer entidade que estabelece v�nculos profissionais. � um enorme desgosto ver um clube que nasceu de trabalhadores n�o ter, atualmente, condi��es de arcar com suas promessas. � fundamental que a reconstru��o da institui��o n�o se limite apenas ao acesso para a elite do futebol nacional e retomada de grandes conquistas, mas que seja tamb�m de valores.

Que esses fatos nos levem � reflex�o sobre nossa rela��o com o futebol, constru��o dos �dolos e de mundo como um todo. Em uma sociedade onde a palavra 'mito' � usada, �s vezes, de maneira t�o corriqueira, n�o nos esque�amos de um dos significados desse substantivo: algo ficcional. E se h� algo que, fatidicamente, n�o � um mito na constru��o hist�rica brasileira � a escraviza��o de pessoas e as mazelas originadas por essa condi��o, seja l� atr�s, nos per�odos colonial e imperial, mas tamb�m na contemporaneidade.

E, felizmente, Ded� n�o � uma pessoa escravizada. Ainda que todas as estruturas sociais de onde surgem a maioria de jovens brasileiros, futuros jogadores de futebol, muitas vezes tentem lhes impor esta condi��o hist�rica deprimente em nosso Brasil.

(*) Bruno Parreiras � professor, historiador e membro dos coletivos Democracia Celeste e Resist�ncia Azul Popular e do grupo de estudos Mem�ria FC
(*) Vin�cius Cruz � professor, bacharel em Letras, redator no podcast Passe Longo e membro do coletivo Resist�ncia Azul Popular

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