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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Entre a desconfian�a com a SAF e a esperan�a com nosso Ronaldo

Fen�meno regressou 28 anos depois ao Cruzeiro, mas num modelo de clube que talvez n�o combine com sua genialidade


19/01/2022 04:00

Desde as primeiras partidas, especialmente contra o maior rival, Ronaldo foi símbolo de espetáculo em campo: desafio agora é como gestor
Desde as primeiras partidas, especialmente contra o maior rival, Ronaldo foi s�mbolo de espet�culo em campo: desafio agora � como gestor (foto: Alberto Escalda/EM/D.A PRESS - 1/5/94)

“Presenciamos a primeira obra-prima de Ronaldo que o consagraria para o mundo. Uma pintura ao seu modo. Arrancada do meio campo, fileira de driblados ao ch�o e bola mansa nas redes. Genial”

A voz do rep�rter, ao anunciar a manchete do programa esportivo, saiu do meu motoradio como uma bomba. Era fevereiro de 1993. Mal t�nhamos perdido Renato Ga�cho ap�s o bi da Supercopa e o Cruzeiro j� estava trazendo o goleador da Sele��o Brasileira!

Meu cora��o disparou. O sino da Igreja da S�, em Mariana, badalou. O bambuzal � frente vibrou ao vento como o Mineir�o tomado de azul e branco. Enquanto o intervalo do programa se alongava, criando suspense, minha cabe�a fervilhava: “Careca, do Napoli, Rom�rio ou Bebeto. Quem ser�?”

Suava frio. Fim dos comerciais: “O Cruzeiro acaba de contratar Ronaldo Naz�rio, centroavante da Sele��o Brasileira Juvenil. Ele vem do S�o Crist�v�o.”

“O centroavante do juvenil???” Olhei revoltado para o motoradio. Meu primeiro contato com o menino Ronaldo no meu Cruzeiro, mesmo que injustamente, se resumiu � desconfian�a.

O tal centroavante da Sele��o entrou na Toca da Raposa acompanhado de seu primeiro tutor no clube, L�cio Souza, funcion�rio das categorias de base e filho do lend�rio Souza, ex-jogador do Palestra It�lia.

No primeiro treino nos juniores, o t�cnico Baiano tirou o colete de titular do artilheiro do time – querido pelos companheiros – e deu ao tal Ronaldo. Jogadores como Ricardinho, “O Mosquitinho Azul”, Renatinho e o veloz Weberth amea�aram n�o lhe passar muitas bolas. N�o adiantou. As poucas foram suficientes para o garoto mostrar aos companheiros – e a partir de ent�o, amigos insepar�veis – que ali estava um g�nio da bola.

Eu e o meu motoradio nos mudamos para Belo Horizonte no meio de 1993. O tal “centroavante da Sele��o Juvenil” j� aparecia nos rodap�s dos jornais por feitos como o da preliminar de um Cruzeiro e Atl�tico de Lourdes. Naquele dia, presenciamos a primeira obra-prima de Ronaldo no est�dio que o consagraria para o mundo. Uma pintura ao seu modo. Arrancada do meio campo, fileira de driblados ao ch�o e bola mansa nas redes. Genial.

Meses depois, na semifinal da Ta�a BH, o Cruzeiro foi para o intervalo perdendo por 2 a 0 para o Gr�mio. Na volta, o predestinado menino juvenil mudou o rumo do jogo na Toca da Raposa. Virada com dois gols antol�gicos dele. Na final contra o time de Lourdes, Ronaldo foi campe�o. Ele j� n�o cabia mais nos rodap�s.

O t�cnico Pinheiro o promoveu ao profissional numa vit�ria por 1 a 0 sobre a Caldense, numa noite fria em Po�os de Caldas. Explodir era quest�o de tempo e n�s, torcedores de arquibancada, assistimos a cada passo do que o resto do mundo conheceu depois como Ronaldo Fen�meno. A excurs�o a Portugal; o primeiro gol contra o Belenenses, o baile sobre Knapiks, da Turma do Sapat�nis; cinco no Bahia; gol de placa contra o Boca Juniors, de Navarro Montoya, e os 56 tentos em 58 jogos com o manto sagrado.

No dia 15 de maio de 1994, venc�amos por 1 a 0 a Patrocinense. Gol do menino Ronaldo. Perto do fim da primeira etapa, ele pegou a bola pr�ximo � �rea defendida por Dida e partiu. Enfileirou todos os advers�rios. Nos levantamos na arquibancada. Aquilo era inacredit�vel. Quando driblou o goleiro e empurrou a bola para as redes, o apito do �rbitro, num impedimento inexistente, varreu da hist�ria o gol mais bonito da carreira do Fen�meno. Ele foi para a Copa do Mundo no dia seguinte.

Depois do tetra e j� negociado, voltou para se despedir – com gol, obviamente –contra o Botafogo. Do lado de fora, cercado pelos rep�rteres, disse sua �ltima frase como atleta do Maior de Minas: “Todos me deram muito apoio e eu pretendo sim voltar um dia para o Cruzeiro.”

Ronaldo regressou 28 anos depois. Mas, para mim, um amante da poesia do cotidiano, na qual o futebol moderno das SAFs n�o nos permitir� novos g�nios da bola se eternizando em nossos clubes, recebi a not�cia com o mesmo sentimento de 1993: a desconfian�a.

Na pr�xima semana, contra a URT, o Fen�meno come�ar� a escrever a segunda parte de sua hist�ria no Cruzeiro. E pensando em tudo que o tal “centroavante da Sele��o Brasileira Juvenil” humildemente construiu, me bateu a saudade do velho motoradio. Queria ele hoje aqui, ao meu lado, para gritar comigo: “Vamos, Ronaldo! Vamos, Cruzeiro!”

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