DI�RIO DA QUARENTENA
UM TRISTE (MAS ESPERAN�OSO) AT� J�
Nada de festas, lan�amentos de moda, abertura de espa�os e, o que mais me diverte, temporadas de teatro, estreias de cinema e aquelas exposi��es que sempre emocionam. Sobre a minha mesa, � direita do computador, o calend�rio – com mais setas e lembretes do que n�meros – revela que mar�o seria um m�s (o primeiro depois do carnaval) animad�ssimo. Na pauta, ch� na Academia Mineira de Letras; Frejat e Djavan no Pal�cio das Artes; Sempre um Papo com Adriana Varej�o em Inhotim – o cora��o vibrava em finalmente poder encontrar a artista pl�stica que sempre me encantou. Al�m da escapulidinha a S�o Paulo para ver Summer (o musical de Miguel Fallabela sobre a diva da dance music) e A fant�stica f�brica de chocolate, com o mineiro Rodrigo Miallaret. Ah!, del�cia das del�cias, rever O mist�rio de Irma Vap, em nova montagem com Mateus Solano e Luis Miranda, al�m do figurino premiadiss�mo de Karen Brusttolin. Pelo menos por agora, tudo isso n�o passa de anota��es e rabiscos em um calend�rio.
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O coronav�rus mudou a nossa vida. Preven��o � tudo. A minha vida, que vou trabalhar em casa, a sua, a de toda a reda��o do jornal e do mundo. Em menos de duas horas – o tempo que tenho para fechar esta coluna –, ser� imposs�vel tomar as seis garrafas d'�gua sempre ao lado do calend�rio para lembrar a import�ncia da hidrata��o. Ficar�o ali at� a volta. Junto �s garrafas, blocos de anota��es, santos de prote��o, lembran�as de viagens. A despedida, mesmo tempor�ria, da mesa e dos badulaques � a maior tristeza em quase 30 anos de jornal. O coronav�rus n�o � trai�oeiro apenas por colocar tanta gente em risco. Ele maltrata nossos cora��es tamb�m.
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Da minha casa � reda��o, s�o seis ou sete quarteir�es. Dist�ncia relativamente pequena, que fa�o caminhando tranquilamente. Nesta �poca, ent�o, � uma del�cia. O c�u de um azul de encher os olhos e, quando h� sorte, um ventinho para refrescar. Mas nada disso minimiza o caos provocado pelos pais com seus possantes em busca dos filhos, no Col�gio Santo Ant�nio. Ontem, o movimento era menor, mas nem por isso melhor. O coronav�rus nos leva tamb�m �s boas coisas da vida, como o burburinho da meninada na porta da escola. Aos poucos, o micro vai se transformar em macro. A cidade pela qual me apaixonei l� pelo anos 1980, sempre viva no seu movimento maluco e fren�tico, tamb�m vai parar. Nunca imaginei que, nesse caso, tristemente, um dia a vida iria imitar a arte
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O medo do coronav�rus vai nos afastar. M�e, estou liberado da reda��o, mas a fun��o continua. � mais tranquilo continuar conectado com ela do meu apartamento, que agora � home office. Isolados, olha que horror, nos protegemos. � ou n�o � roteiro de filme? A f� nos acolhe nesse momento. Estamos conectados em redes sociais, em intermin�veis grupos de Whatsapp, com informa��es que n�o param de chegar. A gente nem esquenta com aquelas que algu�m recebeu do primo da-noiva, do irm�o do tio, do amante do padre. Fake news. Nesse turbilh�o, al�m de tanta coisa esquisita, algu�m nos dar� alento para continuarmos firmes. Mesmo nos minutos finais para a entrega destas linhas – a subeditora, �ngela Faria, j� est� pelas tamancas com o atraso. “Vai passar! O momento � dif�cil para todos, mas vai passar”, escreve no whatsApp um de meus amigos, Tiago Gramiscelli. Vai, sim. J�, j�, estaremos de volta a essa loucura quase sempre divertida que � a reda��o de um jornal.