(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas #PRAENTENDER

Hallyu: a cultura da Coreia do Sul que se tornou moeda econ�mica e pol�tica

Entenda como investimentos na ind�stria do entretenimento fizeram a cultura sul-coreana uma das mais influentes e expans�o do mundo em apenas duas d�cadas


26/11/2021 13:50 - atualizado 26/11/2021 13:53

arte com escrito praentender a onda cultural sul-coreana
(foto: Arte EM)

Com mais de duas d�cadas de investimento na ind�stria do entretenimento e em educa��o, a Coreia do Sul virou uma pot�ncia socioecon�mica. Por meio desse soft-power, a cultura sul-coreana tem se tornado uma moeda de negocia��o para o pa�s, com influ�ncia dos costumes � pol�tica externa. Esse fen�meno � conhecido como Hallyu, express�o que define a onda cultural sul-coreana que vem se espalhando pelos quatro cantos do mundo.

O k-pop domina as plataformas de streaming de m�sica, com destaque para os grupos Blackpink e BTS, que se tornou o primeiro sul-coreano indicado ao Grammy, em 2021, e a alcan�ar o topo da parada musical norte-americana HOT 100 da Billboard. J� os k-dramas, os dramas televisivos do pa�s, v�m se consolidando como um estilo �nico de produ��o audiovisual.
O drama “Round 6”, cujo nome oficial � “Squid Game”, por exemplo, � a obra original da plataforma de streaming Netflix mais assistida do mundo. Enquanto isso, o filme “Parasita” provou a qualidade das produ��es sul-coreanas por ser um sucesso de p�blico e cr�tica ao vencer o Oscar de Melhor Filme em 2020.

Para al�m do audiovisual e da ind�stria da m�sica, a Coreia do Sul divulga a cultura do pa�s e refor�a sua influ�ncia em outros aspectos socioecon�micos, como culin�ria, turismo, est�tica, pol�tica e moda. Uma fa�anha para um pa�s que, h� apenas 20 anos, se encontrava em um contexto sociopol�tico e econ�mico totalmente diferente. 

Influ�ncias japonesas e norte-americanas

No s�culo 20, em decorr�ncia da Segunda Guerra Mundial e da Guerra das Coreias, a Coreia do Sul viveu sob o dom�nio japon�s e, posteriormente, o norte-americano. O pa�s se encontrava em uma crise socioecon�mica e em eixos de tens�o pol�tica, principalmente no Leste Asi�tico, com a China e o Jap�o, e a Coreia do Norte, em decorr�ncia da separa��o das Coreias.

Naquele contexto, o pa�s passava por uma transforma��o, seguindo as caracter�sticas da cultura norte-americana, como explica a comunic�loga Aline Santana, mestre em Consumo, Cotidiano e Desenvolvimento pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Mas, em 1993, ap�s um per�odo de governos conservadores, o presidente Kim Young-sam prop�s a cria��o de uma “Nova Coreia”. “A Coreia do Sul investiu em cultura e em educa��o para se firmar como na��o e fazer parte do mercado internacional”, explica Aline. Foi o in�cio do fen�meno Hallyu.

Uma vista aérea do destruído Namdaemun, ou 'Grande Portão do Sul', em Seul em 11 de fevereiro de 2008
Vista �rea do Grande Port�o Sul, em 2008: governo sul-coreano transformou cultura e educa��o em instrumentos de crescimento ap�s guerras (foto: Lee Jae-Won/Reuters)


A onda cultural sul-coreana � resultado da “hibridiza��o cultural”, que � soma de culturas diferentes que resultam em uma nova ou uma convers�o cultural, quando uma cultura inclui caracter�sticas de outra com quem teve contato, das caracter�sticas culturais sul-coreanas com as norte-americanas. Essa mistura faz com que aspectos da cultura dos Estados Unidos sejam vistos nas produ��es sul-coreanas, como versos em ingl�s em m�sicas de k-pop.

Com uma expans�o para diversos campos da economia e da ind�stria de entretenimento, a Hallyu se tornou uma forma de a Coreia do Sul exercer influ�ncia sobre outros pa�ses. O fen�meno tem a caracter�stica do chamado soft power, que � quando uma pol�tica social ou pa�s difunde a sua cultura de forma indireta para influenciar comportamentos sociais e atingir seus interesses. “A Hallyu chega com muita sutileza, aos poucos, e j� alcan�ou f�s e seguidores por diferentes locais do mundo”, afirma Aline

Uma revolu��o nascida na TV

Os k-dramas foram os primeiros produtos culturais sul-coreanos a se espalharem pelo mundo, come�ando pela �sia, principalmente Jap�o e China. Com inspira��o em dramas asi�ticos, a produ��o tem uma linguagem audiovisual �nica. “Os k-dramas s�o k-dramas. N�o � s�rie, n�o � novela, n�o � um seriado. � um formato muito particular mas que n�o se encaixa em nada que j� existe”, comenta a fundadora da revista KoreaIn, Naira Nunes. “Pode se aproximar mais em um formato de uma miniss�rie brasileira, dessas de 12 epis�dios, como as que a TV Globo faz”, compara.

em cena da série my name a personagem ji-woo luta boxe com sangue no rosto
A s�rie sul-coreana ''My name'' faz sucesso na programa��o da Netflix (foto: Netflix/Divulga��o)


A redatora Carol Akioka, tamb�m da KoreaIn, compara o modelo audiovisual dos dramas sul-coreanos com as novelas brasileiras. “Enquanto nas obras brasileiras t�m personagens que nunca se encontram, os dramas t�m n�cleos pr�ximos”. Segundo ela, h� dois modelos de k-drama: os mais curtos, com a m�dia de 16 a 20 cap�tulos, e os mais longos, com 60 a 100 epis�dios.

Esse segundo grupo normalmente � transmitido na TV pela manh� e tem como p�blico alvo donas de casa e idosos. J� os mais curtos fazem mais sucesso no exterior, como “Round 6” e “My name”.

Sucesso nas telas e nas ruas

No in�cio dos anos 2000, os k-dramas come�aram a fazer muito sucesso. Em 2002, com o incentivo do governo em produ��es culturais, o drama “Winter sonata” se popularizou em toda a �sia, principalmente no Jap�o, com atores s�o tratados como grandes astros, tanto por jovens, quanto pelos mais velhos. 

foto mostra quatro atores sul-coreanos, dois homens e duas mulheres, protagonistas da série Winter Sonata
A s�rie ''Winter sonata'' se popularizou em toda a �sia no come�o dos anos 2000. Elenco era tratado como realeza (foto: KBS/Divulga��o)


Na �sia, o acesso a produ��es sul-coreanas era facilitado pelo governo. “J� era de interesse da Coreia atingir esses pa�ses do leste asi�tico. Ent�o, os k-dramas passaram na TV, aberta ou fechada, sempre com legenda. A resist�ncia das produ��es na �sia foi bem menor em compara��o com o ocidente”, explica Naira.

No ocidente, os k-dramas come�aram a se popularizar ap�s o sucesso dos grupos de k-pop. A pirataria on-line contribuiu para que essas produ��es para TV chegassem e se espalhassem a partir de f�s da cultura asi�tica.

Com a recente populariza��o das plataformas de streaming, os dramas alcan�aram um novo p�blico. “As dublagens ajudaram muito os k-dramas a se aproximarem de pessoas do dia a dia. N�o s� k-popper ou f�s da cultura sul-coreana. Mas aquelas pessoas que est�o na Netflix e ficam interessadas em acompanhar”, comenta Carol. 

Ponte cultural ap�s as guerras

Na �sia, a Hallyu ajudou na comunica��o entre os pa�ses asi�ticos, que ainda vivem em tens�o pol�tica devido �s guerras. “A ascens�o dos k-dramas na �sia foi um come�o para que a Coreia come�asse a se abrir para outros pa�ses. N�o s� culturalmente, mas para conversas pol�ticas”, explica a redatora Carol Akioka.

Membros da banda feminina sul-coreana Girls 'Generation se apresentam em um festival K-pop em Hanói, em 29 de novembro de 2012
Integrantes da banda de k-pop Girls' Generation (foto: Kam/Reuters)


Essa abertura se expandiu para outras �reas do entretenimento como uma t�tica de aproximar os consumidores de outras nacionalidades para a cultura sul-coreana e tamb�m facilitar a comunica��o entre os pa�ses. Um tipo de embaixadores culturais para media��es que v�o muito al�m do campo do entretenimento. 

Modelo de treinamento para artistas

Com o crescimento da influ�ncia sociopol�tica dos profissionais de entretenimento, a Coreia do Sul sentiu a necessidade de moldar a imagem dos artistas, que s�o conhecidos como ‘idols’. O termo, inspirado em um modelo japon�s, ganhou um significado diferente de �dolo ou mesmo astros, como popularmente conhecemos no Brasil. 

Foto tirada em 27 de março de 2021 mostra o grupo K-pop Brave Girls se apresentando durante um ensaio para um evento comercial transmitido ao vivo no Youtube em um estúdio em Gwacheon, ao sul de Seul
Ensaio e grava��o em est�dio: modelo de treinamento sul-coreano � refer�ncia na forma��o de artistas (foto: Jung Yeon-je /AFP)


Isso porque ser um idol muitas vezes est� mais relacionado ao carisma e ao prest�gio entre os f�s que ao pr�prio talento art�stico. Inspirado na cultura ‘idol’ japonesa, as empresas de entretenimento sul-coreana criaram o “sistema de treinamento”, onde � trabalhado v�rios aspectos. Da interpreta��o ao canto, da moda ao marketing, do palco aos cinemas. Um treinamento completo. 

“A Coreia sempre se importou muito com a imagem a ser apresentada. Os idols s�o o ‘cart�o de visita do pa�s’”, explica o jornalista e YouTuber, Felipe (Fefo) Caires, que trabalha com conte�do relacionado � cultura sul-coreana nas plataformas digitais. “Se voc� fuma, se voc� tem v�rios namorados, voc� n�o � bem-visto com bons olhos, por exemplo”, explica.

Casa de grandes artistas

Conforme o jornalista, a empresa SM Entertainment, fundada em 1995, foi uma das pioneiras nesse sistema de treinamento e ajudou a solidificar a pr�tica na ind�stria. A corpora��o � casa de grandes grupos e solistas de k-pop, como a BoA, S.E.S, H.O.T, Shinee, Girls Generation, EXO, Red Velvet, NCT e aespa.

Mas esse modelo de sucesso comercial traz consequ�ncias. Artistas j� falaram abertamente sobre sa�de mental, luta contra a depress�o e ansiedade, como ocorreu com a cantora TaeYeon, solista e l�der do Girls Generation. 



Essa padroniza��o dos artistas teve um outro impacto, que foi a dificuldade de identifica��o com o p�blico. Mas, segundo Felipe, h� uma mudan�a ocorrendo. A Giselle, integrante do grupo Aespa, vem mostrando sua personalidade em programas de variedade e publica��es on-line.

“Ela � uma idol diferente, fala o que pensa. Ela � espont�nea, gente como a gente. Eu me reconhe�o nela. E antes no k-pop era dif�cil a gente se identificar”, comenta. Outro exemplo � a idol Bibi, que tem um som mais indie/folk e discute abertamente sa�de mental, sexo e uso de drogas em suas can��es.



Culin�ria e turismo como tend�ncia 

Outros aspectos culturais sul-coreanos mostrados nas produ��es audiovisuais tamb�m passaram a atrair a aten��o de f�s ocidentais. � o caso da culin�ria e da moda, al�m do turismo. E o reflexo tem sido visto no aumento da abertura de restaurantes sul-coreanos no Brasil e na compra de viagens para a Coreia do Sul.



“Voc� v� aquele challenge do ‘miojo’ super apimentado que ficou muito popular”, comenta a redatora Carol Akioka, em refer�ncia a um desafio on-line onde as pessoas comiam macarr�o instant�neo sul-coreano. “O mukbang (v�deos de pessoas comendo quantidades enormes de comidas) � coreano. E, de repente, voc� olha para YouTube e voc� v� pessoas de milhares de lugares do mundo fazendo mukbang”, comenta a fundadora da revista KoreaIn, Naira Nunes.

Moda e est�tica em alta

Outra influ�ncia da Hallyu � na ind�stria da moda. Como os idols trabalham com a imagem, o estilo e a est�tica s�o extremamente relevantes para a Coreia do Sul e o mundo. Assim, se tornam uma ferramenta de trabalho. 

A cantora sul-coreana Jennie Kim posa durante uma foto chamada antes do desfile da coleção Pronto para Vestir da Chanel Women's Spring-Summer 2020 no Grand Palais em Paris, em 1º de outubro de 2019
A cantora sul-coreana Jennie Kim, do Blackpink, embaixadora da grife Chanel (foto: Francois Guillot/AFP)


“O k-pop � formado para impactar visualmente, seja a maquiagem, a roupa e as unhas. Ent�o, quando um jovem v�, ele quer copiar o estilo”, comenta Naira. Por isso, muitos artistas sul-coreanos t�m contratos com grandes marcas de roupas de cosm�ticos, como a Jennie, do Blackpink, que � embaixadora global da grife Chanel.

Al�m de idols, estilistas sul-coreanos t�m deixado marca no mundo da moda, como Lee So Hye, que veste artistas como Ariana Grande e at� a diva pop brasileira Anitta, que usou um de suas roupas durante um evento no exterior.

*Estagi�ria sob supervis�o do subeditor Rafael Alves


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)