Na bagagem, um pacote de p�o de forma e cinco ovos cozidos
J�lio Souki Amaral conta a hist�ria do amigo japon�s, hospedado em BH, que foi obrigado a fazer escalas na Eti�pia, Coreia do Sul e Alemanha antes de chegar em casa
Assim que a COVID-19 chegou � It�lia, come�amos a acompanhar o crescimento vertiginoso da contamina��o na regi�o da Lombardia e as poss�veis rea��es do governo brit�nico. As f�rias escolares de P�scoa j� estavam marcadas para come�ar em 2 de abril, data em que vir�amos passar tr�s semanas no Brasil.
Na semana de 8 de mar�o, as ruas de Londres j� estavam bastante vazias, o metr� a cada dia menos utilizado, as companhias a�reas dando sinais do corte de voos e rotas. As escolas, um grande term�metro (pois o governo se recusava a paralis�-las, pensando no impacto sobre os pais que trabalham fora), j� estavam discutindo com as autoridades se fechariam ou n�o.
Na manh� de 18 de mar�o, recebemos o comunicado de que as aulas seriam suspensas por prazo indefinido. Minha esposa e eu come�amos a conversar sobre os eventos daquela semana e sobre o que fazer. Conclu�mos que o melhor seria ficarmos isolados dentro de casa no Brasil, em vez de Londres. Dever�amos, ent�o, vir para c� o mais r�pido poss�vel, antes que os voos fossem suspensos.
Com muito custo e tr�s rodadas de 50 minutos ao telefone com atendentes das companhias a�reas, conseguimos os �ltimos lugares no voo da noite daquele mesmo dia. Buscamos os meninos na escola – eles nem sonhavam que est�vamos indo para o Brasil naquela mesma noite. E viemos “na coragem”, ou seja, sem o insepar�vel tablet do nosso filho de 6 anos, quebrado na correria da arruma��o das malas. Chegamos no dia 19 de mar�o. No dia seguinte, o com�rcio de Belo Horizonte fechou.
Mas a peleja com as companhias a�reas n�o parou por a�. Minha m�e, ceramista, estava hospedando um colega japon�s em seu ateli�, no Vale da Serra da Moeda. O voo dele estava marcado para meados de abril, mas devido ao risco de ser contaminado no Brasil (longe de casa), ele precisou antecipar a volta. Como mal fala ingl�s, obviamente fiquei com a incumb�ncia de exportar o amigo.
Depois de algumas horas de espera no call center de atendimento, descobri que o voo dele j� havia sido cancelado. Os dispon�veis, agora um por semana, teriam escalas na Eti�pia e na Coreia do Sul! Na Eti�pia, ele teria de cumprir a quarentena obrigat�ria de 14 dias. Para completar, n�o existe conex�o direta com o voo que sai de Confins.
Resignado, o nosso amigo preparou sua mala de m�o: um pacote de p�o de forma e cinco ovos cozidos – para ele, refei��o suficiente para dormir duas noites na sala de embarque, evitando a quarentena.
Ele saiu de Belo Horizonte �s 6h de s�bado. No meio do caminho, a companhia a�rea ainda teve que envi�-lo para Frankfurt, na Alemanha. Sei que chegou em casa em 9 de abril. Ufa!
Estamos muito felizes de poder estar aqui no Brasil nesta �poca conturbada. O mundo vai mudar? Piorar? Se adequar? E as rela��es humanas? N�o sabemos. Por enquanto, nos cabe ficar em casa e nos planejar para podermos passar por essa fase da melhor forma poss�vel.
Seria �til aproveitarmos o tempo que parou para pensar naquilo que mais est� nos incomodando nesta �poca. � o ambiente f�sico da casa ou do apartamento? � hora de mudar de apartamento para uma casa ou vice-versa? � hora de morar mais perto da fam�lia? E as prioridades? E a adapta��o � nova realidade social das pandemias? � medida em que as circunst�ncias mudarem contra a nossa vontade, vamos nos mover ou vamos ser movidos?