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Estado de Minas PANDEMIA

"'Que hist�ria doida � essa de morte?", questiona David Maurity

No 'Di�rio da quarentena', o ator e dramaturgo do grupo Toda Deseo busca respostas para conflitos de todos n�s nestes dias de isolamento social


postado em 28/05/2020 04:00

David Maurity
Ator e dramaturgo da Companhia de Teatro Toda Deseo



Do dia para noite, voc� n�o se encontra mais em um plano, se v� em outro. Como assim abandonar casa, fam�lia, ex-amores, amores, paix�es, casamentos ou namoros, relacionamentos mal terminados, neg�cios, trabalho, dinheiro, conta no banco, compromissos marcados, poss�veis happy hours, viagens planejadas, projetos, faculdade?

O fato � que incomoda saber que algu�m se foi e deixou algo mal acabado por aqui. Em quem p�r a culpa? Quem h� de resolver isso? N�o sabemos que rumo aquilo que foi mal terminado deve tomar. Afinal, se tomarmos pra gente o que era do outro, daremos o rumo que bem entendermos. E se isso desagradar a quem partiu? E se a interfer�ncia que causarmos aqui surtir efeito naquele que est� do lado de l�? Mas… Que lados s�o esses? Planos? Vidas? �rbitas? Mundos? “L�s” e “c�s”?

Que hist�ria doida � essa de morte?

Se era para aliviar alguma dor, por que causar dor em quem fica? Ego�smo f�nebre? Sadismo post-mortem? Ser� que existe um tempo na passagem de uma vida a outra para pensar no que isso tudo vai gerar em quem fica? Ser� que quem se foi teve o direito de revisitar aquilo tudo que passou? E por que morrer se todo mundo, na verdade, sempre quer viver? Ser� que todo mundo quer viver?

Salve aqueles que se v�o pela idade avan�ada, e que talvez tiveram sabedoria e tempo suficientes pra terminar aquilo que come�aram, os que gozam de um pingo de sa�de deveriam continuar por aqui. E por que essa �nica certeza de morte? Por que n�o h� certeza de vida?

Que hist�ria doida � essa de morte?

Inevitavelmente, algu�m chora. Mas e se n�o ca�rem l�grimas? Faltou sensibilidade? E se, ao inv�s de l�grimas, ela gerar sorrisos? Pode sorrir quando a morte vem? Nervosismo? Felicidade? Al�vio? Se o riso for de nervoso, v�o me repreender. Se for de felicidade, tamb�m v�o. 
E se for de al�vio... Nem se fala! At� onde vai minha liberdade de express�o perante a morte? Por que n�o se revoltar contra a morte? 
Por que n�o?

Que hist�ria doida � essa de morte?

N�o devia ser escrito testamento. Deviam ser escritas regras de comportamento para que nos portemos da melhor maneira ante o ser que se foi. Regras escritas antes da partida feitas para os mais pr�ximos. � que os mais pr�ximos t�m atitudes mais previs�veis: a irm� chorona, o primo que quer abra�ar todo mundo, aquele tio velho que quer proferir algumas palavras (que parecem durar horas), o filho desolado, o neto que parece n�o estar nem a�. Ali�s, digo que seria melhor que se escrevesse um tutorial. 
Um pequeno livro do tipo Como viver sem mim. Instru��es simples, como a morte mesmo, 
sem complica��es.

Que hist�ria doida � essa de morte?

Que s� faz gerar perguntas, que criam mais perguntas, fazendo aparecer outras perguntas pra tentar responder a essas primeiras perguntas e que acabam por me trazer outras tantas perguntas, que se desmembram em perguntas maiores, gerando perguntas menores sobre as tais perguntas que foram feitas sobre as perguntas das perguntas sobre as perguntas… (ad infinitum).

Que hist�ria doida � essa de morte?

J� se passaram tr�s meses desde o in�cio da pandemia. O Brasil acumula mais de 24 mil mortes em decorr�ncia do coronav�rus, fruto do descaso do governo federal. Vinte e quatro mil vidas que se foram e deixaram muitas perguntas sem respostas.





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