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Estado de Minas COLUNA HIT

De Mozart a Mano Brown

No 'Di�rio da quarentena', a gestora cultural Janaina Cunha revela por que o autor da �pera 'A flauta m�gica' est� conectado ao rapper de 'Negro drama'


14/08/2020 04:00

No tempo de um intervalo
Janaina Cunha,
Gestora cultural

"Mozart foi pioneiro em seu tempo ao desafiar o poder, reivindicando seu direito � liberdade"

Janaina Cunha, Gestora cultural


Depois de quatro meses em isolamento social, n�o me assustou a ideia de 10 dias em f�rias dentro de casa. Afinal, fora da rotina de trabalho, o escrit�rio ganha o colorido de uma bagun�a gentil que se espalha, sem ter que dar explica��o. O quarto fica mais convidativo. A sala passa a ostentar a TV, antes banal, que agora me reconcilia com os indicados ao Oscar, at� ent�o distantes. E o imenso estacionamento em que convivem carros, flores e �rvores assume o contorno dos mais belos parques de uma cidade imagin�ria t�o encantadora quanto poss�vel �s mentes descansadas.

Os dois primeiros dias, confesso, foram na horizontal. Feito isso, era o momento de buscar alguma leitura sem urg�ncia, guardada para agora. S�o tantos t�tulos nesta condi��o, mas Mozart – Por tr�s da m�scara, do pesquisador e jornalista uruguaio Lincoln Maiztegui Casas, me saltou aos olhos. H� tempos queria me debru�ar sobre as 333 p�ginas do trabalho publicado em 2006 e que algo novo me haveria de oferecer acerca da biografia de um dos maiores g�nios da m�sica universal.

Sim, assisti ao filme Amadeus, ainda jovem, e ele me deixou no inconsciente o inc�modo de ter que lidar com a imagem do prod�gio mimado, eternamente imaturo e incapaz de lidar com seus pr�prios dilemas. Extraordin�rio criador, transformado em tosca caricatura. N�o apenas pelo filme, mas por tantos outros registros. Como em quase tudo nestes tempos, mais vale o pitoresco, ainda que inver�dico, do que o contato com as complexas contradi��es que fazem de n�s o que somos. E, sim, digo somos porque o que nos afasta de Mozart � a genialidade art�stica que marcou seus 35 anos de vida.

Afora isso, o que n�o � pouco, � necess�rio lembrar que o compositor que concebeu as �peras Don Giovanni e A flauta m�gica e o Concerto em r� menor, apenas para citar algumas de suas obras absolutas, tamb�m sentiu amor, ci�mes, desejo e medo, assim como n�s. Foi, em algum momento, tentado a se convencer de que seus sonhos n�o eram mais do que pequenas bobagens. Cometeu rebeldias, desacertos e foi tra�do. Como todos n�s.

Para minha surpresa, tamb�m nesse livro me dei conta de que Wolfgang Mozart foi pioneiro em seu tempo ao desafiar o poder, reivindicando seu direito � liberdade – criativa e de subsist�ncia. Foi firme ao defender que pagar pelo trabalho n�o d� ao outro, nenhum outro, o direito ao sacrif�cio da alma. Renunciou � comodidade em busca de um caminho que lhe custou a sa�de, mas nunca a f� de que esta era a sua verdade. Foi Mozart, compreendido por Beethoven, um disseminador da convic��o de que � preciso poder dizer, e ser, no mais profundo sentido de se expressar.

L� pelos idos da p�gina 150, era dia de ir ao m�dico. Consulta de rotina, mas necess�ria o suficiente para me tirar de casa. Dentro do meu carro ou�o o som que vem do outro carro. E de l� uma metralhadora, a conectar os anos 1700 aos 2000. Vem do rap a insist�ncia de que � preciso poder dizer. E da voz poderosa de um certo Mano Brown, autor de Negro drama (parceria com Edi Rock), apenas para citar um de seus cl�ssicos absolutos, a certeza de que as verdades de cada tempo precisam reverberar. N�o que um se compare ao outro (ou que n�o se compare). N�o � disso que se trata. Porque nem tanto � quem diz. � muito mais para quem se fala; e por que se fala. E o que surge como resposta, de uma legi�o de an�nimos e os mais delirantes segredos por tr�s de suas m�scaras.

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