(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas coluna Hit

Assistido por plateia nonsense, professor revela descobertas na pandemia

Maur�cio Guilherme Silva Jr. � o convidado da s�rie %u2018Vivendo e Aprendendo%u2019, da Coluna HIT


10/07/2021 04:00


Maur�cio Guilherme Silva Jr.
Professor universit�rio, jornalista, m�sico e um dos criadores do podcast “M�sica serve pra isso”

L� est� Darth Vader a me encarar com seu “semblante” de poucos amigos. Tamb�m me fita um ursinho ressabiado, assim como o simp�tico verdejar de um cacto, ao lado do “corpinho de lombada” de muitos de meus her�is e hero�nas: Cabral, Drummond, Machado, Clarice, Tchekhov, Tolst�i.

Desde que a pandemia nos obrigou ao recolhimento, tais t�m sido alguns dos seres animados (ou n�o) que, numa esp�cie de plateia nonsense, aparecem diante desta retina, junto aos seus propriet�rios de fato e afeto – com quem, em “zilhares” de reuni�es virtuais, divido ang�stias, permuto ideias, agendo compromissos, amaldi�oo irresponsabilidades e omiss�es (oficialescas).

Em tempos de abra�os mirrados e “olhos sobre telas”, confesso ter aprendido a degustar a beleza e os mist�rios da intimidade alheia, expressos, por vezes, em memorabilias capazes de sintetizar, sob �ngulos diversos, o que somos, fomos e, claro, haveremos de nos tornar.

 A cada papo on-line, m�ltiplas de nossas vertentes – e sonhos e princ�pios e quereres – transfiguram-se, para al�m da exaust�o ps�quica, social e pol�tica dos rostos enquadrados pelas minic�meras, na caleidosc�pica dan�a de quadros, livros, fotos, plantas, toys, cores e estampas (sim, car�ssimos leitores e leitoras: tenha certeza de que sua persiana � la “Star wars” diz muito sobre seus lados da for�a!).

Colecionista desde sempre, aprendi n�o apenas a organizar a vida em pequenos feudos de afeto e arte – territ�rios onde livros, CDs, vinis e miniaturas fazem a festa –, como tamb�m, ou principalmente, a perceber e apreciar a pot�ncia da diversidade, a po�tica das identidades, a vastid�o da alteridade. Pois tudo aquilo de que nos cercamos acaba por compor parte significativa de nossos pr�prios modos de “dizer o mundo”. No meu caso, que o digam a plaquinha de Marielle Franco, o pequeno Tom Jobim de gesso, as caveirinhas mexicanas ou as t�o amadas lombadinhas de arte e ci�ncias humanas, objetos que, atr�s de mim, antecipam – �s retinas de amigos, colegas e alunos – fragmentos, amores, expectativas, incongru�ncias e preceitos de um ser entre bilh�es.

Em tempos de abra�os inconformados e olhos para muito al�m das telas – posto que, agora, dedicados ao necess�rio horizonte da indigna��o –, aprendi que estar junto, mesmo a algor�tmicos zooms de dist�ncia, �, tamb�m, decifrar olhares, intuir afoitezas, acolher po�ticas, dar palco aos gestos. Acercar-se de amor, em tempos de abra�os aflitos e pupilas calejadas de realidade, �, tamb�m, a�ambarcar del�rios, alumiar-se de humanidades, distribuir luas imprevistas.

Em tempos de abra�os remotos e olhos incr�dulos, aprendi que a singeleza de m�os entrela�adas �, ainda, a possibilidade de transformar canteiros em floresta nativa, de conceder, � l�grima, esplendores de oceano, de restabelecer asas � liberdade contida. Alinhar-se ao Zeitgeist, o “esp�rito do tempo”, � apiedar-se de l�bios contritos e sobrancelhas arqueadas, acolher dores invis�veis, arregimentar ex�rcitos de delicadezas perdidas no front do sentimento vago.

Em tempos de abra�os poss�veis e olhos nos olhos, sonhar �, tamb�m, celebrar a doce min�cia de – simples, �nica, magn�fica e imensamente – existir.

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)