O dia em que Confins virou rave
Filipe Forattini
DJ
Voc� que n�o sabe do que estou falando deve imaginar que foi uma festa pequena no estacionamento ou em alguma �rea do sagu�o do aeroporto. Mas n�o... Foi na pista, no p�tio de aeronaves da avia��o geral, com a participa��o de 7 mil pessoas.
A hist�ria come�a quando eu, Filipe Forattini, levei meu parceiro de festas malucas, Tadeus Mucelli, para conhecer um espa�o no terra�o do aeroporto. Era uma joia bem guardada, sempre fechado, com mobili�rio modernista, carpete verde que subia por estruturas de concreto que viravam balc�es. T�o lindo que era imposs�vel fazer um evento ali.
Com as in�meras idas ao aeroporto e a vis�o grandiosa do Tadeus, come�amos a pensar em algo especial, in�dito. Sim, depois vieram outras festas por l�, mas na pista do aeroporto em funcionamento, com avi�es passando logo atr�s da cabine do DJ, nunca mais! E, infelizmente, por um motivo bem triste: os atentados de 11 de setembro.
Voltando � festa, a montagem da estrutura foi uma aventura. Como furar o piso s�lido que poderia aguentar o peso de um 747? Como fazer, naquela �poca, a log�stica de 7 mil pessoas mais equipe at� Confins? Criamos linhas de �nibus, estacionamentos tempor�rios... Uma loucura.
Eram duas pistas principais, a grande tenda de circo para 3 mil pessoas e outra, em formato de bolha, onde voc� podia fazer massagem, tomar �gua, se hidratar, essas coisas. Afinal, era a rave Hypnotik do aeroporto!
Um fato curioso � que duas atra��es internacionais pousaram direto em Confins. Foram praticamente da sala de desembarque para a cabine do DJ. Um desafio log�stico
bem divertido!
Nessa �poca, virada do mil�nio, muitas empresas n�o enxergavam valor nas festas de m�sica eletr�nica, bem diferente dos dias de hoje. Foram tantas reuni�es, tantos olhares de “voc�s s�o loucos”... A gente brincava que se a festa desse certo, passar�amos um m�s viajando por alguma ilha paradis�aca; se desse errado, passar�amos o resto da vida l�.
Deu certo!
Tivemos apoio de m�dia da antiga MTV BH, com propagandas que ajudaram a espalhar a not�cia. Tinha gente falando que a �rea de descanso seria no avi�o, que daria voltas pelos c�us de BH. De onde tiraram isso, realmente n�o sei. Mas era muito legal ouvir o que as pessoas esperavam da festa.
Ali�s, foi a primeira festa de house music, techno e drum and bass desse tamanho em um lugar distante de BH – mais de 35 quil�metros.
No dia da festa, 21 de outubro de 2000, acordamos com a not�cia de que ela seria embargada. Pessoas do alto escal�o voaram at� BH para nos questionar sobre a not�cia de que �rg�os do governo seriam respons�veis pela seguran�a do evento. A seguran�a interna era nossa responsabilidade, claro, e se n�o fosse a vis�o da equipe da Infraero na �poca, capitaneada pelo Gilson Silva e seu fiel escudeiro Lisboa, o sonho teria acabado.
Terminado o evento, vimos soldados camuflados saindo das �reas pr�ximas � torre de comando. Foi um tanto surreal, a gente nem imaginava que eles estavam ali.
Quando tento me lembrar da sensa��o na festa, lembro-me muito dos lasers, das m�os levantadas, dos sorrisos, dos gritos, do encantamento por estar ali celebrando a vida com tanta gente em uma aventura �pica.
Olhar a pista, j� de manh�, e ver a multid�o foi algo de que nunca vou me esquecer. Os avi�es passando, as pessoas dando tchau, o som alto e um milh�o de abra�os.
Tamb�m fomos DJ na festa, e n�o conseguimos segurar a emo��o. Chorei ali no palco mesmo, ouvindo as m�sicas que mais sonhava em tocar, no pared�o de som gigantesco daquele mundo tempor�rio que constru�mos.
A equipe de produ��o era a gente mesmo. Faz�amos de tudo. Nada era t�o profissional como hoje, mas o amor pela m�sica, a vontade de fazer algo especial e que ficasse na hist�ria da cidade era enorme.
Longa vida � cena eletr�nica de BH, que continua especial, com excelentes DJs e a melhor pista do Brasil!
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