
H� algum tempo, exatamente quatro anos, estava em S�o Paulo e chegou a informa��o de que Cristiano Ara�jo havia falecido. Confesso que, at� ent�o, n�o conhecia o cantor. Fiquei impressionado com a repercuss�o do ocorrido. E o que mais me chamou a aten��o foi o fato de pesquisar bastante o cen�rio do mercado musical brasileiro e aquele nome ainda n�o havia surgido no meu radar.
Esse tipo de situa��o voltou a ocorrer nos �ltimos quatro anos. Comecei a me questionar se estava acessando sites errados, se alguma coisa havia mudado no meu comportamento ou simplesmente havia envelhecido. Depois de refletir, conclu� que meus interesses naturais estavam se alterando. Mas a forma de divulga��o dos eventos tamb�m havia mudado.
As propagandas massificadas desapareceram. Os maravilhosos flyers que receb�amos nos sinais de tr�nsito foram parar no WhatsApp. Os an�ncios dos eventos viraram links patrocinados no Instagram e Facebook. Continuamos sendo invadidos pela publicidade. Mas, agora, de forma �nica e seletiva.
O novo formato de divulga��o, que utiliza os algoritmos das redes sociais, acaba nos induzindo a fazer as mesmas coisas. Se surge algo novo, � parecido com o que gostamos previamente. Ent�o, a “novidade” n�o � t�o nova assim...
Tive a oportunidade, esta semana, de fazer uma palestra no projeto Estufa, da S�o Paulo Fashion Week, uma ideia muito interessante que busca conectar pessoas e tecnologias para criar o futuro da moda como desejamos. Em conversa com Gra�a Cabral, diretora do evento, constatei que a segrega��o digital n�o ocorre no setor da moda. Pela pr�pria cultura da �rea, eles t�m uma busca natural por novidades.
Na m�sica, principalmente em estilos mais populares, como sertanejo e funk, estamos vendo o aumento da produ��o em s�rie de m�sicas muito parecidas. Ser� que realmente gostamos de consumir mais do mesmo, ainda mais quando ficamos restritos �s ofertas das playlists das plataformas de streaming? A predomin�ncia de estilos na m�sica, em m�dia, dura de 10 a 15 anos. Foi assim com o pop-rock, ax� e pagode. Acredito que estamos chegando neste prazo de validade para o sertanejo.
De prop�sito, misturei dois assuntos: a seletividade digital e o consumo de massa. Esse mexid�o se faz necess�rio, pois estamos numa encruzilhada. Ser� cada vez mais dif�cil termos artistas conhecidos por todas as pessoas. Cada um seguir� o destaque de sua tribo. Somente alguns, muito poucos, cruzar�o a fronteira digital imposta por redes sociais e softwares de an�lise estat�stica.
Enquanto isso, crescem as tentativas de nos aprisionar, agora pelo meio digital, para controlar os nossos gostos e vontades. A pergunta que fica �: quem escolhe a m�sica que voc� escuta?.