henrique portugal

O carnaval j� come�ou; os blocos est�o na rua. Agora temos regras para uma festa politicamente correta – as fantasias n�o podem fazer refer�ncia a etnias. Belo Horizonte, que era conhecida como o cemit�rio do carnaval, agora � a capital desta festa popular, ao lado de S�o Paulo.
A metamorfose do nosso carnaval aconteceu em uma velocidade impressionante. Quem dera que a nossa economia e nossas confusas leis pudessem passar por mudan�as de forma t�o r�pida.
A minha vida carnavalesca come�ou nos bailes de clube e desfiles de blocos caricatos. O meu bloco era Os Inocentes, que ensaiava na Pra�a Duque de Caxias, em Santa Tereza. Era uma cultura local que envolvia uma competi��o saud�vel entre os blocos que representavam os bairros da cidade. No entanto, esse tempo j� passou e n�o vou ficar fazendo o papel de saudosista.
A minha d�vida �: onde foi parar o samba no carnaval?. Eu escuto de tudo; sertanejo, rock, eletr�nico, ax�... mas pouco samba. Historicamente, nesta �poca do ano s� escut�vamos samba-enredo, as marchinhas e sambas tradicionais. Era praticamente uma reserva de mercado.
Vou fazer uma compara��o maluca, mas que faz sentido: est� acontecendo com o samba a mesma situa��o ocorrida com os taxistas na chegada do Uber. Achavam que reinariam eternamente nesta �poca do ano, mas foram pegos de surpresa e, sinceramente, acredito que dificilmente ter�o a mesma relev�ncia de anos atr�s, em nosso futuro. Como a cultura est� sempre em muta��o, a in�rcia � sinal de morte iminente.
Na minha opini�o, o pagode � a deriva��o do samba, que entendeu a mudan�a dos tempos e se adaptou buscando um maior apelo popular. O rock passa pelo mesmo problema de envelhecimento. O discurso de contestar a sociedade, caracter�stica de grandes bandas, passou para o hip-hop e o rap. S�o as mudan�as que atualmente ocorrem de forma r�pida e avassaladora, pegando alguns segmentos de cal�as curtas.
Fa�a um exerc�cio de mem�ria para lembrar qual samba-enredo se tornou um sucesso nos �ltimos 10 anos. As regras dos desfiles, cada vez mas fechadas e rigorosas, acabaram matando a criatividade das escolas de samba. As diferen�as entre elas s�o muito pequenas e as m�sicas se parecem demais. Para mim, um estilo musical come�a a dar sinais de desgaste quando voc� n�o consegue diferenciar quem est� cantando uma nova can��o. O excesso de repeti��o leva � perda de identidade e do popular.
Enquanto o funk, o hip-hop, o sertanejo e o eletr�nico se reinventam, n�o consigo perceber isto no samba. OK, voc�s podem dizer que eu n�o sei nada de samba e estou dando palpite – mas basta sair nas ruas pra chegar � mesma conclus�o.
N�o acredito em caminhos como uma prefeita de Olinda, em Pernambuco, que no in�cio dos anos 2000 tentou proibir o ax� dizendo que o carnaval estava perdendo sua identidade. O samba tem que ajudar. Cultura que n�o se atualiza, morre nos livros guardados nas prateleiras. As que ainda existem.