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Estado de Minas TURISMO E NEG�CIOS

Sobre Capit�lio e como saber evitar trag�dias no turismo

O que uma trag�dia pode ensinar a consumir destinos de natureza com seguran�a


11/01/2022 07:59 - atualizado 11/01/2022 09:13

Lago de Furnas, onde aconteceu acidente com lanchas que matou 10 pessoas
Local da trag�dia em Capit�lio (foto: Handout / Minas Gerais Fire Department / AFP)


“Pelo amor ou pela dor”, j� diziam nossas av�s, que s� assim somos capazes de aprender. � forte. � doloroso. � feio. � delicado tocar no tema em um momento t�o sens�vel, mas � preciso refletir. A trag�dia de Capit�lio, na regi�o sudoeste de Minas Gerais, que at� agora vitimou fatalmente 10 pessoas, nos leva a refletir sobre as pr�ticas do turismo de natureza e aventura, atividade que precisa ser planejada e calculada por quem regula, por quem executa, por quem recebe e por quem pratica.

Sempre vale ressaltar que o turismo funciona em cadeia. Isso significa que nem para resultados positivos, nem para resultados negativos, este resultado se d� por apenas uma pe�a. � necess�ria uma atua��o sincronizada entre poder p�blico – em todas as suas esferas, iniciativa privada com os prestadores de servi�os, equipamentos e atrativos tur�sticos, sociedade civil organizada e os consumidores, ou seja, os turistas.

- Leia: Destino tur�stico, Brumadinho, al�m do Inhotim
- E ainda: Cicloturismo ganha for�a em meio � pandemia 

Os turistas, por sua vez, se organizam por tipo de atividade que os interessa, � o que chamamos de segmenta��o tur�stica. Assim, teremos os turistas de cultura, de gastronomia, de neg�cios e os de natureza e aventura. Obviamente que, para cada segmenta��o, existe uma sequ�ncia de planejamento e organiza��o a ser cumprida. Por�m, o �ltimo grupo, que envolve atividades em meio � natureza e de aventura, merece aten��o especial.

Praticantes dessa segmenta��o nem sempre (ou quase nunca) s�o atletas, mas muitas vezes enveredam natureza adentro sem as devidas prote��es e precau��es. Muitas vezes por irresponsabilidade, tantas outras por ignor�ncia, quase todas por excesso de confian�a. E � a� que mora o problema. Como para tudo que vamos consumir, se quisermos qualidade, duas coisas precisam ser levadas em considera��o:

1) pesquisar o destino � fundamental;
2) atividades seguras custam mais, afinal foram realizados investimentos maiores.

Claro que falar sobre a recente trag�dia que aconteceu em Capit�lio, quando um desabamento de pedras de um c�nion atingiu embarca��es, � tocar em uma ferida aberta. Entretanto, � necess�rio que este tipo de ocorr�ncia sirva para chamar a aten��o de quem pratica ou pretende praticar atividades em meio � natureza.

De acordo com Pollyana Pugas, vice-presidente da ABETA (Associa��o Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura), CEO da Von�t Consultoria & Treinamentos, Consultora, Palestrante e Auditora em Sistema de Gest�o da Seguran�a para Atividades de Turismo de Aventura (ABNT NBR ISO 21101): “o turismo de natureza e aventura precisa ser pensado e realizado de forma respons�vel, levando em considera��o par�metros legais e normativos. De acordo com a Lei Geral do Turismo, os destinos de natureza devem possuir sistemas de gest�o de seguran�a conforme normas t�cnicas”. Ela ressalta ainda que a ABNT (Associa��o Brasileira de Normas T�cnicas) possui 42 normas t�cnicas sobre turismo de aventura, entretanto n�o existe fiscaliza��o sobre a aplica��o de tais normas.

Assisto �s cobran�as � Marinha do Brasil e outras esferas, mas n�o vejo um di�logo com o setor do turismo, que est� no dia a dia, recheado de informalidades que todos n�s sabemos, mas fingimos que n�o acontece. N�o � uma particularidade de Capit�lio, nem deste caso espec�fico, mas de diversos destinos que apostam no segmento sem a intera��o necess�ria para que a atividade aconte�a de forma segura.

J� mencionei em diversos conte�dos a organiza��o de Bonito, no Mato Grosso do Sul, e o tipo de conduta percebido por l� � par�metro at� fora do Brasil. E n�o existe f�rmula m�gica, existe governan�a voltada para as melhores pr�ticas no segmento. “O pequeno munic�pio se destaca pela grande quantidade de empreendimentos com certifica��es nacionais e internacionais, e a integra��o entre poder p�blico e empreendimentos, que h� anos conseguem fazer o destino acontecer de forma segura e prazerosa para seus visitantes”, destaca Pollyana Pugas.

� importante entendermos que cada um possui um papel importante em tais pr�ticas, e assumir os pap�is contribui para que a atividade seja mais segura. Ainda segundo Pollyana: “a Gest�o P�blica precisa ser responsabilizada quando n�o realiza um ordenamento tur�stico dos seus atrativos de forma eficiente e fiscalizar com frequ�ncia as opera��es, e dessa forma, garantir que a visita��o ocorra de forma segura", afirma.

"Gestores p�blicos e empres�rios do turismo precisam estar atentos e vigilantes ao Gerenciamento de Riscos em atividades de ecoturismo e turismo de aventura. Acidentes acontecem em todas as esferas da sociedade, por isso a ABETA acredita que uma gest�o profissional dos destinos, atrativos e atividades de ecoturismo e turismo de aventura deva seguir par�metros m�nimos para a sua execu��o, em conformidade com as normas t�cnicas oficiais, a lei geral de turismo e o c�digo de defesa do consumidor, que regem tais atividades. Atividades na natureza envolvem riscos, acidentes naturais podem ocorrer, no entanto o aumento destes acidentes nos mostra a import�ncia de uma gest�o profissional da atividade tur�stica nos destinos do Brasil. As atividades ao ar livre, apesar de desej�veis e com diversos pontos positivos, oferecem riscos inerentes a sua pr�tica”, conclui Pugas.

Associa��o F�rias Vivas ï¿½ outra institui��o que vem se consolidando como “uma rede de familiares e profissionais de turismo que se uniu com o prop�sito de sensibilizar as pessoas sobre a preven��o de acidentes nas viagens”, com o objetivo de prevenir acidentes de turismo, evitar mortes, salvar vidas e principalmente, que tais casos n�o caiam no esquecimento, levantando reflex�es para que essas mortes n�o sejam em v�o e apresentando medidas cab�veis para que situa��es similares sejam evitadas. 

De acordo com Aline Bammann, gestora institucional da Associa��o F�rias Vivas, o acidente de Capit�lio pode nos trazer reflex�es. A primeira que nos vem � cabe�a � a percep��o da fatalidade, ou seja, um desmoronamento por causas naturais e que nada poderia ter sido feito para evitar. Entretanto, segundo ela: “� muito raro que um acidente de turismo n�o possa ser evitado. � uma combina��o de causas, onde falta de manuten��o, falta de aten��o aos riscos e avisos s�o fatores que se tratados com a import�ncia que merecem, certamente reduziriam muito a ocorr�ncia de acidentes”.

Outra reflex�o que ela traz � que a m�dia e os pr�prios usu�rios da internet, quando se deparam com este tipo de situa��o, cobram regras mais r�gidas. Mas ressalta que o Brasil � refer�ncia na cria��o de normas do chamado Sistema de Gest�o de Seguran�a para a atividade. Segundo Aline, n�o h� necessidade de revis�o, mas sim de aplica��o correta de uma metodologia que j� existe e fiscaliza��o. A metodologia deveria ser abra�ada pelos destinos e cobrada pelos consumidores.

A ABETA prop�e que o viajante que busca atividades de ecoturismo e turismo de aventura “procure por produtos e servi�os tur�sticos que tenham comprometimento com a seguran�a, verifique se h� um Termo de Conhecimento de Risco da atividade, se tem um PAE - Plano de Atendimento de Emerg�ncias, ambos exigidos pela legisla��o. Deve tamb�m verificar se os condutores s�o capacitados, se os equipamentos est�o em bom estado de conserva��o, se oferecem seguro da atividade, se a empresa est� legalizada e possui Cadastur. S�o informa��es m�nimas, mas que podem auxiliar o consumidor na aquisi��o de servi�os seguros e de qualidade. E claro, se a empresa ou guia faz parte de alguma associa��o que congrega as empresas ou profissional do setor”, completa Bammann.

Infelizmente n�o h� como voltar no tempo. Mas para al�m da nossa solidariedade com as v�timas de Capit�lio, � urgente que o setor do turismo atue de forma profissional. J� n�o cabe mais ser tratado de forma superficial, nem por gestores, nem por profissionais e nem por turistas. Quem atua no turismo precisa levar a s�rio e n�o apenas como renda extra. Quanto mais o setor se profissionalizar, mais ele ser� reconhecido como importante para a sociedade, e certamente as possibilidades de carreira ser�o mais realistas. Por ora, fica nosso sentimento de impot�ncia diante do que j� aconteceu e a esperan�a que as fam�lias das v�timas encontrem algum conforto em um momento de tanta dor e sofrimento.

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