Mesmo com toda a confian�a de Luxemburgo, Cruzeiro n�o sobe

O t�cnico Vanderlei Luxemburgo, amigo de tr�s d�cadas, pra mim, o “Pel�” dos treinadores – massacrado por quem n�o gosta dele e pela gera��o “nutella”, que de bola nada sabe –, est� iniciando um trabalho no Cruzeiro, bem diferente daquele em 2003, quando ganhou tudo.

O clube n�o tem dinheiro, depende de mecenas para pagar sal�rios e se vira para se transformar em clube-empresa.

Converso com ele quase todos os dias, via telefone, e sei da sua ang�stia em n�o poder contratar jogadores, pela proibi��o da Fifa. Ele tem uma preocupa��o maior: perder 6 pontos ou ser rebaixado para a S�rie C, caso as pend�ncias na Fifa n�o sejam quitadas.

Por isso mesmo, vai ter outra conversa com Pedro Louren�o, esse eterno cruzeirense que ajuda o clube do cora��o de todas as formas. Somente ele pode quitar tais pend�ncias e o Cruzeiro voltar a contratar. � preciso, � necess�rio, � urgente.

Outro dia, assistindo a um programa, vi tr�s jornalistas “nutellas” dizendo que Luxemburgo � um fracassado, um ex-treinador em atividade. Eles desconhecem que Luxemburgo � o �nico t�cnico pentacampe�o brasileiro, que deixou o Palmeiras, recentemente, como o melhor pontuador da Libertadores, o que lhe deu a vantagem de decidir em casa at� a semifinal, sagrando-se campe�o. O mundo � assim. Vale o momento. O que alguns t�cnicos, chamados de modernos, fazem hoje, Luxemburgo j� fazia em 1993, quando foi bicampe�o brasileiro com o Palmeiras.

Acho engra�ado quem n�o ganha ta�as dizer que “quem vive de passado � museu”. Pior � aquele que nem passado tem para viver. O Cruzeiro � um dos gigantes do futebol brasileiro, assim como Vasco e Botafogo, que est�o, momentaneamente, na S�rie B, mas que t�m hist�rias grandiosas de t�tulos, ta�as e grandes g�nios do futebol.

Reinaldo, o Rei, centroavante do Galo, foi um dos maiores g�nios que vi jogar. Ele n�o ganhou ta�as, n�o ganhou t�tulos, exceto Campeonato Mineiro. Por�m, isso n�o tira seus m�ritos. Vou sempre idolatr�-lo, pois sei o que ele representou para o futebol. Pra essa gera��o moment�nea, quem vale � Hulk, que, com todo o respeito, n�o engraxaria a chuteira de treino do Rei. Estamos na contram�o da hist�ria. Um pa�s sem passado n�o pode ter um bom presente.

Em Miami, ao lado dos meus amigos-irm�os Galv�o Bueno e Arnaldo Cezar Coelho, sa�mos para jantar ontem. Eu n�o os via h� um ano e meio, por causa da pandemia. Falamos justamente sobre essa desinforma��o dos torcedores e sobre essa rede de �dio que se instalou no pa�s. Ser A significa ser inimigo do B. N�o pode haver um meio-termo. Um pa�s extremamente violento, em que as pessoas querem destilar seu veneno e suas frustra��es em cima dos vencedores, daqueles que fizeram hist�ria, trabalhando com dignidade.

O futebol brasileiro t� chato, violento e com muito mi, mi, mi. N�o acredito que Luxemburgo v� levar o Cruzeiro de volta � elite nesta temporada. Ele ainda tem esperan�a, eu n�o. Ele � t�cnico, n�o � m�gico nem milagreiro. A dist�ncia para os ponteiros lhe exige uma campanha de campe�o – e jogadores de qualidade ele n�o tem. S�o poucos os reconhecidos nesse grupo fraco. Mas o Cruzeiro tem de tra�ar um planejamento de ficar no meio da tabela, pagar suas d�vidas e voltar forte em 2022, para subir em 2023. A realidade nua e crua � essa. Ou o torcedor absorve essa ideia ou desiste. N�o h� outro caminho.

As goza��es saud�veis v�o acontecer, e isso � bem legal. Agress�es, xingamentos e gente que usa perfil falso nas redes sociais para agredir s�o casos de pol�cia. A turma do robozinho, da mil�cia, � cruel. Criam-se milh�es de perfis falsos para atacar, agredir. Atr�s de um teclado h� muitos mach�es. Fora deles, viram “mulherzinhas” na cadeia quando s�o presos. Menos �dio, gente, mais amor no cora��o. O futebol s� tem raz�o de ser se for no amor, na paix�o, mas jamais esquecendo a raz�o. O advers�rio � apenas advers�rio e n�o inimigo.

E quem n�o gosta de ouvir verdades, j� disse que n�o precisa ler minha coluna nem me seguir em redes sociais ou canais. N�o fa�o m�dia, n�o quero amizade com torcedor nem jogador nem dirigente. Fa�o meu trabalho com dignidade, falando o que penso, sempre com a raz�o. Eu jamais teria coragem de pedir a um dono de jornal a cabe�a de um profissional. Mas h� gente covarde, que se acha acima do bem e do mal s� porque tem dinheiro, que faz. Pobre dessa pessoa. Vai morrer e o dinheiro vai ficar a�. Se n�o pagar nessa vida, na outra, com certeza, ter� sua pena. Deus n�o falha. Menos �dio e mais respeito aos velhos e bons profissionais. Eles s�o parte da hist�ria que voc�s jamais conseguir�o apagar ou ter.