
Vanderlei Luxemburgo pegou o Corinthians quebrado e com um time muito ruim, beirando a zona do rebaixamento, com muitas cr�ticas ao presidente e aos jogadores. N�o ganhou os cinco primeiros jogos e sofreu uma avalanche de cr�ticas, mesmo com o time melhorando. O Corinthians era um bando em campo e n�o tinha um norte. O �nico t�cnico, pentacampe�o brasileiro, que disse que trabalhar no Tim�o era convoca��o. “Aposentado” por sua pr�pria vontade, estava cuidando de sua televis�o no Amap� – ele � dono da afiliada da TV Record de l� –, quando recebeu o chamado e n�o hesitou. Luxa conhece o Corinthians como sua pr�pria fam�lia. Ali ganhou um Brasileiro, t�tulos paulistas e tudo o mais. Chegou sabendo o desafio que enfrentaria, tendo seu principal jogador, Renato Augusto, lesionado. Recuperou alguns atletas, deu espa�o para a juventude e foi avan�ando com o Corinthians na Copa do Brasil e Sul-Americana.
Est� a um passo da final da Copa do Brasil, depois da bel�ssima vit�ria sobre o S�o Paulo, por 2 a 1. E foi justamente Renato Augusto, outro veterano, em noite de gala, quem marcou os dois gols do Tim�o. Luxemburgo sempre foi para mim o Pel� dos treinadores, e j� que Pel� virou adjetivo pela nova ortografia, agora � oficial. O cara sabe muito e aprendi, ao longo de 30 anos de conviv�ncia com ele, nos clubes e na Sele��o Brasileira, tudo sobre o futebol. Al�m disso, gozo da sua fraterna amizade, da sua mulher J�, das tr�s filhas, Vanuza, Valeska e Vanessa, e dos netos e netas. Uma fam�lia unida, que aguentou as porradas na injusti�a que fizeram com ele tirando-o da Sele��o. Aquele t�tulo de 2002 era dele, pois foi ele quem montou aquela bela equipe. Felip�o colheu os frutos. Luxa foi tirado por quest�es pol�ticas, pois o Brasil, em suas m�os, apresentava belo futebol e estava em segundo lugar nas Eliminat�rias Sul-Americanas. Mas isso � passado. Depois daquilo, ele ganhou uma Copa do Brasil e mais tr�s Brasileiros, j� que havia sido bicampe�o com o Palmeiras em 1993-1994. Uma excel�ncia de treinador.
Chegou ao Real Madrid, em 2005, para comandar os gal�cticos. O time merengue estava com 10 pontos atr�s do Barcelona, mas, no returno, ele conseguiu tirar a diferen�a para quatro pontos, o que n�o foi suficiente para ganhar a ta�a. Foi demitido ap�s uma derrota no Santiago Bernab�u, para o maior rival, em noite em que Ronaldinho Ga�cho brilhou e foi aplaudido de p� pela torcida do Real. N�o havia jeito. Por�m, j� foi homenageado, v�rias vezes, pelo presidente, Florentino Perez, pelo trabalho feito l�. Vanderlei � um vencedor nato. Nunca um t�cnico brasileiro dirigiu o maior time do mundo, e ele ficou 10 meses l� com um grupo de alta t�cnica, mas com v�rios problemas. Convivi com ele e com os gal�cticos durante tr�s meses em que fiquei em Madri. Eu ia com Luxa para o vesti�rio e percebia o qu�o dif�cil era comandar aqueles egos dos craques.
A passagem por l� enobreceu ainda mais o seu curr�culo. Pel�, nosso saudoso rei, adorava Luxemburgo. Eram amigos. Um Pel� conhece o outro. V�rios companheiros de imprensa s�o apaixonados pelo trabalho dele, como eu sou, mas tem aqueles que s� jogam para baixo, principalmente os “nutellas”. Dizem que o cara est� ultrapassado e n�o querem respeitar sua hist�ria. Que pobres s�o eles. Um t�cnico mais do que vencedor, que encantou todos n�s, com o futebol de toques, dribles, tabelas e gols. Quem sabe n�o esquece. O cara jogou com Zico e cia, e como treinador, tem t�tulos e mais t�tulos. S�o 50 anos de futebol, muito bem vividos e festejados. Luxa est� a um passo da final da Copa do Brasil, que ele ganhou em 2003, com o Cruzeiro, de forma invicta, no ano em que venceu a Tr�plice Coroa, Brasileiro e Campeonato Mineiro. N�o sabemos se o Corinthians chegar� l�, pois ter� o jogo de volta, dia 16 de agosto, no Morumbi. Por�m, chegando ou n�o, Vanderlei Luxemburgo tem que ser respeitado como um dos maiores t�cnicos da nossa hist�ria. Para mim, ele, Tel� e Carlos Alberto Silva s�o os maiores que vi e convivi, e com quem aprendi demais. Pel� dos t�cnicos, obrigado por tudo o que voc� fez e ainda faz pelo futebol. Como profissional premiado que sou, com 40 anos de coberturas nacionais e internacionais, reconhe�o seu valor, sua qualidade e seu conhecimento. Eu n�o vi Fl�vio Costa e outros t�cnicos trabalharem, mas respeito todos pela hist�ria que constru�ram. J� a gera��o “nutella” acha que Guardiolla “inventou o futebol” e que somente Messi � g�nio. Alguns chegam a dizer que ele � melhor que Pel�. Uma heresia, pois Pel� � incompar�vel. Voc� � o nosso Pel� dos t�cnicos, e queiram o n�o os invejosos, vai continuar brilhando, enquanto quiser. Sou grato a voc� pelos ensinamentos e pela amizade. Quem � Pel�, nunca perder� a majestade. Boa sorte nos outros 90 minutos da decis�o. O futebol brasileiro e os jornalistas e torcedores de verdade agradecem por voc� existir. Quanto a gera��o “nutella”, pobre dela. N�o viu e nem vai ver o futebol de verdade, aquele que voc� sempre pregou, ao longo de sua longeva e vitoriosa carreira.