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Estado de Minas LIBERTA��O DOS CORPOS

E se um estudo provar que obesidade n�o � doen�a?

Sciente Mag publica artigo a partir de v�rios estudos feitos por diferentes pesquisadores que revela que nem sempre corpos gordos s�o doentes


04/08/2021 08:38 - atualizado 04/08/2021 11:59

(foto: Cintia Rizoli/Divulgação)
(foto: Cintia Rizoli/Divulga��o)

 
Imagina que voc� acordou hoje e a ci�ncia comprovou, atrav�s de in�meras pesquisas m�dicas, que corpos gordos n�o s�o, necessariamente, doentes? J� pensou como seria habitar um mundo em que pessoas gordas n�o s�o animalizadas por causa de seus corpos e que, atrav�s de dados e de muito estudo, comprova-se que a ideia de obesidade - palavra para designar doen�as em corpos gordos - foi constitu�da a partir de um paradigma cient�fico patriarcal e mercadol�gico. 

Consegue pensar num mundo desta forma? Pois foi isso que, na �ltima semana, a Science Mag tentou, ao publicar o artigo “A obesidade nem sempre significa problemas de sa�de. Aqui est� o que os cientistas est�o aprendendo
 

'O mesmo contrap�e o que h� algum tempo, o 'Fat Studies', ou no Brasil os 'Estudos do Corpo Gordo' fazem, ao combater a ideia de que nem todo corpo gordo � doente e nem pode ser considerado assim, j� que, de acordo com os mesmos estudos, a quantidade de quilos que algum corpo tem, combinado a sua altura - que � o que designa o �ndice de Massa Corporal (IMC) - n�o pode ser usado como �nico definidor para o caso de a pessoa ter um press�o arterial saud�vel, n�o ter diabetes, n�o ter asma, entre outras coisas consideradas comorbidades.'

 
O mesmo contrap�e o que h� algum tempo, o ‘Fat Studies’, ou no Brasil os “Estudos do Corpo Gordo” fazem, ao combater a ideia de que nem todo corpo gordo � doente e nem pode ser considerado assim, j� que, de acordo com os mesmos estudos, a quantidade de quilos que algum corpo tem, combinado a sua altura  - que � o que designa o �ndice de Massa Corporal (IMC) - n�o pode ser usado como �nico definidor para o caso de a pessoa ter um press�o arterial saud�vel, n�o ter diabetes, n�o ter asma, entre outras coisas consideradas comorbidades. 

Conforme o novo artigo, um corpo gordo nem sempre est� acompanhado de problemas de sa�de. O pesquisador de diabetes tipo 2, Philipp Scherer fez um estudo com camundongos e de forma simplista - mas que pode ser lida com detalhes aqui - concluiu que embora gordos, muitos dos animais seguiam saud�veis e conseguiu apresentar dados de que desmontam a tese que muitos pesquisadores e m�dicos - e sociedades mais amplas - consideram como um dado adquirido: de que corpos gordos automaticamente teriam problemas de sa�de. 

Scherer n�o � o �nico. Ruht Loos estuda gen�tica da obesidade na Universidade de Copenhagen e afirma: “Podemos ser obesos, mas permancer saud�veis”. E, n�o apenas ambos, mas outros pesquisadores ao redor do mundo comp�e um time que est� examinando genes, modelos animais e humanos e entendendo que fatores como a pr�pria natureza e a distribui��o da gordura no corpo podem atenuar quaisquer impactos do peso na sa�de. Eles tamb�m trabalham para definir o que � chamada de obesidade metabolicamente saud�vel (MHO) e examinar o qu�o comum ela �. 

Para o pesquisador fisiologista  e defensor da positividade corporal, o professor da Universidade da Calif�rnia, Lindo Bacon - sim, podemos nos divertir com o paradoxo que � este nome ao se falar de gordura e corpos - muitas pessoas classificadas como obesas a partir do IMC n�o tem sinal de doen�a e vivem uma vida longa e saud�vel. 

Bacon insiste que a gordura em si n�o � um marcador importante nas doen�as. Para ele, os determinantes sociais da sa�de, como pobreza, discrimina��o e acesso a alimentos saud�veis, teriam muito mais impacto. E, de fato, alguns estudos mostraram que pessoas com obesidade que n�o t�m disfun��o metab�lica geralmente t�m mais acesso � educa��o e s�o mais abastadas  do que aquelas com problemas de sa�de associados � gordura no corpo.

E n�o paramos por aqui, o mesmo estudo mostra que pessoas gordas podem ter n�veis saud�veis de colesterol e glicose no sangue, enquanto muitas pessoas magras n�o t�m. 

“Voc� vai a uma cl�nica de obesidade, [onde] as pessoas pesam 120 kg, 140 kg. Alguns t�m problemas e outros n�o ”, diz Antonio Vidal-Puig, que estuda e trata doen�as metab�licas em Cambridge. 
 

'Bacon insiste que a gordura em si n�o � um marcador importante nas doen�as. Para ele, os determinantes sociais da sa�de, como pobreza, discrimina��o e acesso a alimentos saud�veis, teriam muito mais impacto. E, de fato, alguns estudos mostraram que pessoas com obesidade que n�o t�m disfun��o metab�lica geralmente t�m mais acesso � educa��o e s�o mais abastadas do que aquelas com problemas de sa�de associados � gordura no corpo.'

 

Apologia � obesidade?!


Antes que surjam coment�rios dizendo que estamos fazendo apologia � obesidade e/ou romantizando a gordura corporal, vamos esclarecer neste artigo, atrav�s das palavras dos pr�prios pesquisadores, que este n�o � - e nunca foi, vale lembrar  - o objetivo. Ningu�m aqui estimula h�bitos de vida pouco saud�veis ou a ingest�o desenfreada de alimentos com baixo valor nutricional e ultraprocessados. 

O que queremos dizer �: devemos ser tratados como seres humanos nos corpos que habitamos, que podem ser, inclusive, gordos. E, sermos gordos n�o significa estarmos doentes, no entanto, o tratamento desumanizado pode nos adoecer mais do que a quantidade de tecido adiposo no abd�men. A gordofobia mata mais do que os quilos na balan�a. 
 
“N�o � o qu�o gordo voc� �, � o que voc� faz com isso que conta”,  Vidal-Puig intitulou um artigo que ele co-escreveu em 2008. Ao mesmo tempo, Vidal-Puig expressa um dilema que ele e seus colegas enfrentam: ele est� relutante usar o termo MHO, com o qual ele se preocupa pode induzir as pessoas a pensar: “tudo bem ser obeso”.

'N�o estamos dizendo isso', diz ele. Em vez disso, algumas pessoas 's�o saud�veis %u200B%u200Bporque s�o resistentes � obesidade'. Vidal-Puig quer se ater � ci�ncia dessa resili�ncia, explorando como a obesidade pode coexistir com medidas de sa�de. Estamos explicando como funciona.
 

'O que queremos dizer �: devemos ser tratados como seres humanos nos corpos que habitamos, que podem ser, inclusive, gordos. E, sermos gordos n�o significa estarmos doentes, no entanto, o tratamento desumanizado pode nos adoecer mais do que a quantidade de tecido adiposo no abd�men. A gordofobia mata mais do que os quilos na balan�a.'

 
 
Dito isso, a ci�ncia, a partir desta pesquisa, refor�a o que atletas plus size - e ativistas anti gordofobia, como eu, h� muito declaramos: ser gordo n�o significa necessariamente n�o ser saud�vel.
 
“Existem pessoas”, como mostram os dados de Loos, “que s�o geneticamente predispostas � obesidade [e] t�m baixo risco card�aco, e isso � muito interessante”, diz Cynthia Bulik, psic�loga cl�nica e especialista em transtornos alimentares da Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill e o Instituto Karolinska. “Eles podem ser capazes de sobreviver em um corpo maior” sem efeitos metab�licos nocivos.

Provas cient�ficas 

As evid�ncias cient�ficas que comprovam a m�xima s�o v�rias, mas, eu sei que muita gente - pode at� ser voc� - vai ler este texto e me acusar de ser negacionista, de rejeitar a ci�ncia, de ir contra a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS). H� quem v�, inclusive, me comparar a grupos que defendem pol�ticas anti vacinas e bradam contra a pesquisa e a ci�ncia. O que, claro, � um disparate, j� que todo texto � embasado em evid�ncias m�dicas, em artigos publicados e revisados. Em pesquisadores s�rios que h� muito dedicam-se em entender os corpos gordos e n�o s� - em humaniz�-los. E esta � uma tecla muito batida por esta que vos escreve e nesta coluna. A repeti��o se faz urgente e eu me pego pensando: o que mais precisamos fazer?

J� trouxemos evid�ncias antropol�gicas, psicol�gicas, m�dicas e cient�ficas? Por que, ent�o, nossos corpos gordos amedrontam e aterrorizam tanto que n�o podemos, sequer, existir?
 

'Este mesmo estudo d� conta de que o atendimento negligente, moralista e opressor com os corpos gordos podem trazer consequ�ncias mais graves do que o peso combinado � altura. Entre os sintomas desenvolvidos est�o ansiedade, estresse, agravamento de transtornos, como os alimentares e ainda podem levar ao suic�dio.'

 
 
Mas, j� que estamos falando de pesquisas, em mar�o de 2020, a Nature Medicine publicou um estudo em que aponta que a comunidade m�dica precisa urgentemente rever a ideia de patologiza��o dos corpos gordos. Veja bem. N�o sou eu, uma mera jornalista que est� dizendo isso. � um grupo de estudiosos e pesquisadores da �rea m�dica. 

Este mesmo estudo d� conta de que o atendimento negligente, moralista e opressor com os corpos gordos podem trazer consequ�ncias mais graves do que o peso combinado � altura. Entre os sintomas desenvolvidos est�o ansiedade, estresse, agravamento de transtornos, como os alimentares e ainda podem levar ao suic�dio. 

A pesquisa d� conta de que estas doen�as, diretamente ligadas � opress�o dos corpos gordos s�o mais prejudiciais do que o colesterol alto, por exemplo. 

Para encerrar, a pesquisa “Obesidade em adultos: uma diretriz de pr�tica cl�nica”, assinada por mais de 100 profissionais da �rea da sa�de do Canad� e publicada na Revista CMJA Open pede que seja feita a revis�o imediata do CID da obesidade e sugere sua exclus�o. 

O CID seria a Classifica��o Internacional de Doen�as, que no caso dos corpos gordos, os patologia desde 2013, ou seja, h� menos de uma d�cada, um corpo gordo n�o era necessariamente doente. Ora, ora. 

Assim como, h� pouco tempo, pr�ticas eugenistas como o IMC eram validadas pela ci�ncia e pela medicina para medir o cr�nio de pessoas negras e legalizar todos os tipos de viol�ncias contra estes corpos. O mesmo com pessoas transexuais que at� dois anos eram lidas pela psicologia como psic�ticas e, em muitas cl�nicas, lidas como alucinadas e n�o dignas de serem chamadas por seus nomes sociais. 

Fato � que o CID de doen�a aos corpos gordos se transformou em mais uma ferramenta de opress�o -  e inclusive de sofistica��o do discurso, como j� falamos aqui. A patologiza��o � uma tecnologia cient�fica usada para massacrar, perseguir, invisibilizar e provocar o genoc�dio silencioso destes corpos. Eu falei sobre isso na primeira coluna. 

Se nada disso faz com que voc� perceba o tamanho da viol�ncia cometida e institucionalizada contra corpos dissidentes, eu n�o sei o que far�. Estamos sumindo e, ao mesmo tempo, somos c�mplices dessa pr�tica. 

E se voc� acreditar nos estudos que eu trouxe como provas, como far� para oprimir quem � diferente e trabalhar sua pol�tica de distin��o a partir dos corpos? 




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