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Estado de Minas DIA NACIONAL DA VISIBILIDADE L�SBICA

Meu corpo � pol�tico: conhe�a os livros escritos por escritoras l�sbicas

Reuni�o de obras nacionais e internacionais escritas por autoras l�sbicas nos fazem pensar sobre diversidade na literatura


29/08/2021 06:00 - atualizado 01/09/2021 09:36

(foto: Cintia Rizoli/Divulgação)
(foto: Cintia Rizoli/Divulga��o)

“Meu corpo � pol�tico”. A frase, repetida � exaust�o, seja em hashtags, textos, m�sicas, filmes, camisetas ou nome de bares em s�ries ficcionais, nos faz pensar justamente nisso: quais corpos s�o pol�ticos?; existem corpos mais pol�ticos que outros. E, no domingo, Dia Nacional da Visibilidade L�sbica, nesta coluna dedicada aos corpos dissidentes, quero falar sobre os corpos de mulheres que amam outras mulheres.

Para isso, reconto um pouco da hist�ria das datas e re�no, em uma lista diferentes obras escritas por autoras l�sbicas contempor�neas que falam sobre o tema sob diferentes lentes e �ticas e criam uma teia narrativa totalmente nova, diferenciada e excitante.

A data � celebrada 10 dias depois do Dia do Orgulho L�sbico (em 19 de agosto) e ambas est�o ligadas a epis�dios hist�ricos para o avan�o dos direitos e representatividade para as mulheres l�sbicas. Conforme nos conta a hist�ria, � a partir da d�cada de 1980 que a pauta, em conjunto com uma organiza��o pol�tica com demandas espec�ficas para estas mulheres, ganha novos contornos e destaque.

Enquanto sonhamos com nosso pr�prio bar Corpos Pol�ticos, tal qual o que � retratado na s�rie “Cr�nicas de San Francisco”, onde qualquer pessoa identificada com a sigla LGBTQIA+ ou n�o pode subir no palco e manifestar-se, usamos este espa�o para falar sobre o que nos atravessa.

Revolu��o de Stonewall � brasileira


Uma d�cada antes, a repercuss�o da Revolu��o de Stonewall j� tinha se espalhado n�o s� por Nova York, mas em todo o mundo e, por aqui, o Somos: Grupo de Afirma��o Homossexual, criado para lutar pela pelos direitos da comunidade LGBTQIA , deu origem ao Grupo de A��o L�sbica Feminista (Galf), que contribuiu para a cria��o dos dias tanto do orgulho como da visibilidade.

Assim, em 19 de agosto de 1983, o Galf deu in�cio a um protesto no Ferro's Bar, em S�o Paulo, num ato que ficou conhecido como o “pequeno Stonewaal brasileiro”, j� que o local reunia corpos dissidentes que no contexto da ditadura militar sofriam repress�o, como uma noite em que a pol�cia militar foi acionada ap�s um grupo de l�sbicas tentar vender exemplares do jornal “Chanacomchana”.
 

'Como nos diz a poeta, ensa�sta e ativista da comunidade feminista negra Cheryl Clarke, no ensaio 'Lesbianismo: um ato de resist�ncia': "ser l�sbica em uma cultura t�o supremacista-machista, capitalista, mis�gina, racista, homof�bica e imperialista � um ato de resist�ncia que deve ser acolhido atrav�s do mundo por todas as for�as progressistas'

 

Por isso, o Galf, liderado por Rosely Roth, invadiu o interior do Ferro's para ler um manifesto l�sbico contra a censura do bar e exigindo que a venda do jornal fosse permitida, bem como que elas fossem respeitadas. Ap�s o levante, o propriet�rio do bar pediu desculpas ao grupo. Em 2003, a data foi fixada no calend�rio como o Dia do Orgulho L�sbico em homenagem � ativista. Um pouco antes disso, em 1996, foi criado tamb�m o Dia Nacional da Visibilidade L�sbica.

Como nos diz a poeta, ensa�sta e ativista da comunidade feminista negra Cheryl Clarke, no ensaio “Lesbianismo: um ato de resist�ncia”: “ser l�sbica em uma cultura t�o supremacista-machista, capitalista, mis�gina, racista, homof�bica e imperialista � um ato de resist�ncia que deve ser acolhido atrav�s do mundo por todas as for�as progressistas”.

Ainda de acordo com ela, no ensaio: “N�o importa como uma mulher viva seu lesbianismo – no arm�rio, na legislatura ou na c�mara (...) N�o h� um s� tipo de l�sbica, n�o h� apenas um tipo de comportamento l�sbico. N�o h� apenas um tipo de rela��o l�sbica”.

A partir dessa premissa, � importante falarmos da pluralidade desses corpos, inclusive esses corpos nas ruas, vivendo em sua dissid�ncia, em tempos obscuros de supervaloriza��o da “moral e dos bons costumes”, portanto, visibilizar essas viv�ncias e hist�rias se faz urgente.

E, para falar da import�ncia da data, me cerco de livros de autoras contempor�neas que pontuam muito bem as exist�ncias l�sbicas em suas obras para destacar a resist�ncia desses corpos. Vale destacar aqui a multiplicidade de hist�rias, narrativas, estilos, evidenciando que a pol�tica destes corpos tamb�m se faz na escolha narrativa e subjetiva e encarar essa pluralidade � se permitir a chance de se conectar com outras vers�es e formas de se contar hist�rias, muitas sobre amor.

Confira algumas indica��es liter�rias: 

O corpo dela e outras farras, de Carmem Maria Machado (ed. Planeta) 

Apresentado como um Black Mirror Feminista, o livro da autora estadunidente com origens cubanas, Carmem Maria Machado � um dos melhores que li - e reli - recentemente. Com oito contos dist�picos, que ficam entre o horror, a fic��o cient�fica e os corpos das mulheres, a obra � exemplar em fazer os leitores, sobretudo as leitoras, sentir medo, sendo que o maior deles � ser mulher e ter um corpo exposto a todos horrores e viola��es que isso pode significar. 

A espetaculariza��o da viol�ncia sobre os corpos de mulheres - que s�o o play para todos os contos - � o principal questionamento inerente � obra de Carmem Maria Machado, que diz de estupros em s�rie, mulheres que ouvem vozes, escritoras casadas com outras mulheres e a terr�vel obsess�o pelo sil�ncio feminino, j� tratada, inclusive, nesta coluna.  Noutro conto, em forma de di�rio, a autora prev� um v�rus que se espalha pandemicamente pelo mundo e narra os relacionamentos, inclusive com outras mulheres, que ela teve. 


“Vulner�vel"

N�o h� uma �nica v�tima na delegacia inteira por tr�s dias seguidos. nenhum estupro, nenhum assassinato. nenhum estupro seguido de assassinato. Nenhum sequestro Nenhuma pornografia infantil feita, comprada ou vendida. Nenhum  molestamento. Nenhum ataque sexual. Nenhum ass�dio sexual. nenhuma prostitui�ao for�ada.

Nenhum tr�fico humano Nenhum apalpamento no metr�. Nenhum incesto. Nenhum atentado violento ao pudor. Nenhuma persegui��o. Nem mesmo uma liga��o obscena indesejada. E ent�o, no crep�sculo de uma quarta-feira, um homem assovia para uma mulher enquanto ela ia para uma reuni�o dos alco�licos an�nimos. A cidade inteira solta a respira��o aliviada e tudo volta ao normal”. 

Nesta obra, toda protagonizada por mulheres m�ltiplas e plurais, todas lidam muito bem com a pr�pria sexualidade, sendo que l�sbicas e bissexuais t�m mais destaque nas tramas. 

“No �tero n�o existe gravidade”, de Dia Nobre (ed. Penalux

Com uma escrita intensa e forte, Dia Nobre faz sua estreia no hibridismo liter�rio, com um livro que pode ser lido tanto como autofic��o, romance, conto ou poesia e explora as m�ltiplas mulheres que vivem dentro da protagonista, passeando pela obscuridade dos la�os familiares entre m�e e filha, abusos, abandono e mem�ria. 

Como uma boneca russa, Dia Nobre despeda�a as pr�prias viv�ncias e da personagem central em um ritmo espec�fico e calculado, fazendo o leitor perder o f�lego p�gina ap�s p�gina, se encolhendo tal qual a matrioska anunciada, at� sobrar o �ntimo, o miolo, o quase-avesso que habita o vazio. 

“Garota, mulher, outras”, de Bernardine Evaristo (ed. Companhia das Letras) 

Vencedor do Booker Prize de 2019, “Garota, mulher, outras” pode ser resumido como a polifonia da diversidade. Bernardine Evaristo � muito feliz na escolha narrativa da obra, que nem de perto � tradicional: sem letras mai�sculas e composta por versos, ela controla o ritmo do livro, imprimindo originalidade � trama. Em ingl�s, o estilo � chamado de fusion fiction. 

Ao todo, 12  pessoas comp�em as personagens com idades entre 20 e 90 anos, vivendo na Inglaterra a partir de diferentes descend�ncias africanas e/ou caribenhas, atrav�s da habilidosa engenharia criada pela autora para exprimir a pluralidade dos atravessamentos nestas m�ltiplas vidas de 11 mulheres e uma pessoa identificada como n�o bin�ria. Distante das cartilhas feministas que ao tentar libertar, aprisionam, Bernardine Evaristo troca as personagens de posi��o o tempo todo e consegue ser singular ao escolher a diversidade. 

Temos uma obra sofisticada, longe de ser professoral, panflet�ria ou cansativa, apesar do n�mero de p�ginas. Uma leitura saborosa e provocativa.

“Elas marchavam sob o sol”, de Cristina Judar (ed. Dublinense

O novo romance da premiada escritora Cristina Judar fala sobre resist�ncia e amor entre mulheres. N�o da forma simplista como apresento aqui, mas com uma linguagem h�brida, que passeia entre muitas formas, numa trama que envolve garotas no in�cio da juventude, personagens presas e torturadas pela ditadura militar e universos que convergem, como o da jovem Ana e o da m�stica Joan. 

Temas caros � autora seguem tamb�m neste livro, como as puls�es, o desejo e a viol�ncia contra os corpos femininos, compostos agora por um novo elemento: a pris�o.  

“Antes que eu me esque�a”, organiza��o Gabriela Soutello (Quintal Edi��es

Publicada pela Quintal Edi��es, a antologia nos apresenta textos de 50 autoras l�sbicas e bissexuais sobre mem�ria. A organiza��o � da Gabriela Soutello e traz uma curadoria pra l� de bem-feita, com uma multiplicidade de mulheres e narrativas, que passam por diferentes religi�es, regi�es, formatos e estilos de escrita, escritoras estreantes e escritoras j� consagradas. 

Entre as muitas participantes, podemos destacar mulheres como Nat�lia Borges Polesso, Tatiana Nascimento, Ta�s Bravo, Dia Nobre, Nina Rizzi, Paloma Franca Amorim, Valeska Torres, Elizza Barreto, entre outras. 

O livro traz tamb�m  capa da artista J�lia Bert� e foi todo constru�do por um conselho composto por mulheres l�sbicas e bissexuais. 

O essencial de Perigosas Sapatas, de Alison Bechdel (ed. Todavia

As amigas Mo, Lois, Ginger, Sparrow, Clarice, Toni e Jezanna ganham essa edi��o da novela ilustrada de Alison Bechdel. Vivendo em uma cidade de porte m�dio dos EUA, elas t�m suas vidas acompanhadas por mais de 20 anos, onde se apaixonam, formam fam�lias, amam, sofrem, envelhecem e refletem sobre isso tudo. A obra � incr�vel ao mostrar, nas min�cias do cotidiano, o que � ser uma mulher l�sbica. 

“A Extin��o das Abelhas”, de Nat�lia Borges Polesso  (ed. Companhia das Letras

A premiada escritora Nat�lia Borges Polesso usa a distopia como recurso da trama do novo romance “A extin��o das abelhas”, que como o nome j� anuncia - e os tempos tamb�m - a extin��o dos pequenos insetos causaria o fim do sistema como conhecemos. 

Ambientado em um futuro logo ali, a obra conta a hist�ria de Regina, que foi abandonada pela m�e e nos traz olhares sobre a falta de empatia e respeito �s pluralidades com pessoas como as LGBTQIA+ que passam a viver na clandestinidade desde ent�o, num universo dominado por pessoas ricas.

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