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Estado de Minas EXCLUS�O

As cadeiras de bar que s�o o terror das pessoas gordas

De pl�stico, as cadeiras s� suportam pessoas at� 90 kg e excluem corpos diversos


18/05/2022 13:48 - atualizado 18/05/2022 20:13

Print de uma postagem no Twitter onde se vê a foto de cadeiras de plástico amarelas, típicas de bares, empilhadas
Cadeiras de pl�stico n�o aguentam o peso de pessoas com mais de 90Kg (foto: Reprodu��o/Twitter)


O terror. O verdadeiro terror da pessoa gorda - ou com mais de 90 quilos: a cadeira de pl�stico de bar. Esta semana, o Twitter veio abaixo com uma publica��o que julgava as cadeiras de madeira dos bares e, pasmem, exaltava as cadeiras de pl�stico. O que, claramente, s� refor�a o que repito aqui semana ap�s semana, de diferentes formas e estilos narrativos: a pessoa gorda simplesmente n�o existe socialmente. 

Quantas vezes voc� pensou se sua companhia gorda caberia no rol�? Quantas vezes voc� pensou na acessibilidade do bar que voc� escolheu? Quantas vezes voc� n�o riu ap�s ver a pessoa gorda se estabacar no ch�o? 



O que quero dizer � que os espa�os n�o s�o preparados para corpos gordos - e cada vez mais, pensam menos nisso. Existe zero preocupa��o, como um aviso claro, em letras garrafais e neon: se diminua para caber. 

E isso inclui algo simples e muito inerente � cultura brasileira: sentar-se no bar e tomar algo com os amigos. 

Como nos lembra Denise Bernuzzi Sant´Anna em sua obra “Corpos de Passagem: ensaios sobre a subjetividade contempor�nea”.  “Os espa�os citadinos e seus equipamentos s�o os primeiros a excluir a presen�a dos seres pesados e grandes: em escolas, cinemas, teatros e avi�es, as cadeiras costumam ser mais confort�veis aos magros e pequenos. Para sentirem-se inclu�das nesses espa�os citadinos, as pessoas buscam adaptar o seu corpo aos tra�os que constituem a norma. Com o objetivo de ser parte integrante de tais representa��es, o desejo e a obsess�o pelo corpo magro, esbelto, leve e delicado assume centralidade nos dias atuais, tornando tais representa��es hegem�nicas”. 

Mas, n�o precisamos ir t�o longe. Por que raios as cadeiras de pl�stico esborracham? As de madeira s�o desconfort�veis? Por que n�o podemos simplesmente caber? E me intriga que muitos equipamentos, inclusive educacionais, optem por cadeiras pl�sticas para seus frequentadores. Quem aguenta ficar horas sentado numa delas sem sentir desconfort�vel?

H� muito, na internet sobre empatia, mas pouco na pr�tica. Por que as escolhas n�o envolvem um pensamento de que muita gente - majoritariamente quem pesa mais de 90 kg - ficar� desconfort�vel e, muitas vezes, optar� por n�o ir e pelo autoisolamento, a ter que se arriscar a cair na frente de um estabelecimento lotado. 

O buzz criado em torno da cadeira de madeira - que sim, � desconfort�vel, mas ainda sim � melhor do que a de pl�stico - me faz pensar que � urgente falarmos sobre acessibilidade e n�o s� de pessoas com defici�ncia ou mobilidade reduzida, mas de todos os corpos - incluindo os gordos. 

No entanto, me chateia e entedia que, em pleno 2022, eu ainda tenha que escrever sobre isso, que � �bvio: cadeiras de pl�stico n�o s�o confort�veis. E, o que mais me deixa abobalhada: h� quem ofere�a duas cadeiras no lugar de uma, como se isso resolvesse o problema da pessoa com mais de 90 kg num estabelecimento. Ora, jura?

Primeiro que os pr�prios fabricantes das cadeiras n�o recomendam que isso seja feito, segundo que o peso de uma, sobre a outra, j� torna tudo mais inseguro e menos confort�vel. Simplesmente, n�o d�. � desconfort�vel. 

� econ�mico? Talvez. � pr�tico pois d� para empilhar? Sim! � seguro? N�o. Mas, sabemos que na sociedade neoliberal, o lucro e a suposta liberdade individual valem muito mais do que a vida, as subjetividades e a seguran�a. 

Em sua tese de doutorado, a antrop�loga Malu Jimenez Jimenez revela que pesquisou as cadeiras pl�sticas e a acessibilidade. 

“O que quero dizer com isso � que a cadeira de pl�stico � muito fr�gil para qualquer um, como indicam pesquisas do Inmetro: Os resultados dos ensaios evidenciam que h� problemas quanto � qualidade das Cadeiras Pl�sticas encontradas no mercado nacional � de n�o estarem de acordo com os requisitos da Norma. Das 12 (doze) marcas analisadas, apenas 3 (tr�s) foram consideradas adequadas para uso residencial e para uso n�o residencial. (INMETRO, 2012)”

H� ainda, claro, a culpabiliza��o da pessoa gorda que teima em existir, sair de casa e querer socializar - onde quer que seja, mas sobretudo num bar - sentando-se numa cadeira que claramente n�o suporta seu peso. 

Sendo assim, silenciosamente, fa�o meu protesto: deixo de frequentar espa�os cujas cadeiras s�o apenas pl�sticas e opto pelos que pensam em corpos diversos. Poderia pedir, encarecidamente, que parem de comprar cadeiras pl�sticas para os seus estabelecimentos, mas eu cansei de gritar com quem n�o ouve. Logo, boicoto tamb�m, as amizades que endossam essas cadeiras, que as compram, que as celebram, no Twitter ou fora dele, espa�os em que n�o cabemos. 

Existamos onde podemos caber e nos esparrar sendo do tamanho que somos. E s�. 

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