H� uma extrema direita no pa�s? Ineg�vel: Bolsonaro e o bolsonarismo. H� uma extrema esquerda no pa�s? Houve, h� muitas d�cadas, em tempos da “Guerra Fria”: o guevarismo ou as vanguardas armadas revolucion�rias em luta desigual contra a ditadura militar.
� �poca, ditadura e guerrilhas imaginavam-se enredados em um dilema: “revolu��o” versus “contrarrevolu��o”, em guerra total, permanente, at� a destrui��o do outro, segundo a m�xima “O fuzil comanda a pol�tica”.
� �poca, ditadura e guerrilhas imaginavam-se enredados em um dilema: “revolu��o” versus “contrarrevolu��o”, em guerra total, permanente, at� a destrui��o do outro, segundo a m�xima “O fuzil comanda a pol�tica”.
A grande exclu�da pelos extremos triunfaria sobre ambos: a democracia. Todos acompanhamos as elei��es presidenciais americanas recentes. O partido Republicano e o Democrata polarizaram a disputa. Polariza��o significa, necessariamente, disputa entre extremos? Trump �, patentemente, um extremista que ocupou-se, dia a dia, de usar o poder para amesquinhar e amea�ar a democracia. J� que houve forte polariza��o, ent�o Biden seria um extremista?
Os empres�rios, as m�dias, os partidos das direitas democr�ticas (PMDB, DEM, Novo) e os de centro-esquerda como PDT, PV, Rede, Cidadania e PSB sabem que Lula � o social-democrata que o PSDB n�o consegue ser, um l�der democr�tico de centro-esquerda reformista, moderado, negociador. Tem, adquirida, a paix�o pela pol�tica. Entretanto, a comprovada modera��o pol�tica de Lula carrega dentro de si o sentimento social do compromisso com o fim da pobreza, da exclus�o.
Em Bolsonaro, o fascismo o impregna. Em Lula, a paix�o social vem da alma e da biografia. Provavelmente seja o �nico l�der nacional que re�ne em si essas duas paix�es. A primeira delas � mais moderada; a social, mais visceral e moralmente exigente. Seus sentimentos foram assim educados: acima de tudo, o combate �s desigualdades.
O Chile, exemplo de tens�es, revezamentos, resolu��es e supera��o, reunir�, em abril pr�ximo, uma Assembleia Nacional Constituinte pura ou n�o congressual, sendo os constituintes 50% de mulheres e 50% de homens. Ir�o escrever e aprovar a nova Constitui��o do pa�s. A ideia fundadora dessa Constituinte � o combate �s desigualdades, que minam, em um pa�s, o esp�rito comunit�rio indispens�vel � paz, � coes�o e � toler�ncia.
O resultado ser� a passagem daquele pa�s de uma era de neoliberalismo e de reformismo fraco, que viu as desigualdades aumentarem a um ponto de ruptura, ao reformismo forte, sem estatiza��o, mas com tributa��o progressiva sobre a renda individual, fonte dos novos recursos que ir�o garantir a previd�ncia social para todos (o modelo privatista faliu), amplo acesso dos jovens � universidade e uma esp�cie de SUS, l� inexistente! Chile: capitalismo e social-democracia!
� o que Lula �: social-democrata. Lula sabe que o PT deve ao pa�s uma autocr�tica corajosa. A corrup��o praticada dever� ser investigada e seus autores materiais, diferente de presumidos acusados sem prova, punidos, observado o devido processo legal. O Brasil precisa da Opera��o Lava Jato. A legalidade e a dec�ncia dispensam e repugnam o “lava-jatismo” de cartas marcadas. No caso de Lula, a vara da Justi�a federal em Bras�lia se incumbir� de reabrir os processos e de decidir sobre a pertin�ncia das acusa��es que pesam sobre ele. O Supremo devolveu a Lula o direito pleno de cidadania, logo, tamb�m de disputar elei��es.
Pacifica��o do pa�s? Sim. Contudo, passa pela derrota do projeto de domina��o fascista da extrema direita. Passa pela luta pol�tica, sen�o ser� capitula��o. Portanto, a polariza��o Lula versus Bolsonaro e barb�rie � rigorosa e pedagogicamente indispens�vel. Se o “centrismo” deseja apresentar-se como alternativa, bem-vindo.
Que apresente um argumento distante da f�bula da “polariza��o”. Pois uma coisa � a polariza��o, que torna cristalinas as posi��es em disputa, oferece a oportunidade da an�lise comparada, educa para o discernimento e robustece as escolhas. Outra, uma eventual candidatura reivindicar-se de “centro” em nome da “pacifica��o” versus a “polariza��o”, acusando, sem distingui-los, ambos os polos da disputa de “extremismos”. Polariza��o n�o � guerra, ainda que Bolsonaro queira fazer pol�tica como quem guerreia.
Olhem a elei��o do presidente Biden! A pol�tica � um construtivismo, � um possibilismo demarcado por ideias, valores e projetos em disputa, debate e constru��o de intera��es. Sen�o seria nada mais que o p�ntano do oportunismo.
* Jo�o Batista Mares Guias � soci�logo, ex-secret�rio de Educa��o de Minas Gerais e consultor em educa��o