
O �ltimo cl�ssico de 2019 entre Cruzeiro e Atl�tico est� longe de qualquer clima de festa. Muito antes pelo contr�rio. � um ano para esquecer – ou, no m�ximo, para tirar li��es. Do lado azul, a caixa preta foi aberta e tem at� investiga��o policial em curso. Do alvinegro, uma gest�o baseada em equ�vocos. Tanto que os dois clubes chegam ao fim da temporada brigando contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro (a Raposa em situa��o mais dram�tica que o Galo) e em lit�gio com seus torcedores. N�o h� sintonia. Torcer virou um ato de bravura. De resist�ncia e resili�ncia, palavras vitais nos dias de hoje.
Nesse cen�rio, o que os times menos precisavam � de cartolas atraindo os holofotes em discuss�es quase infantis. Atitudes que pareciam ter ficado no passado. Ningu�m estava com a menor saudade de ver/ouvir dirigentes trocando farpas publicamente, alimentando uma rivalidade in�til, acirrando �nimos numa era em que qualquer fa�sca vira explos�o. Quem � que ainda acha gra�a nesse tipo de atitude? � muito anos 1990, in�cio de 2000. Cheira a naftalina. A cr�nica esportiva nem deveria dar espa�o. Que a gente possa evoluir. Sejamos melhores.
O que realmente importa � o que Cruzeiro e Atl�tico apresentar�o em campo. Mais de 35 mil torcedores j� garantiram presen�a no Mineir�o. O que eles podem esperar? Tem muita gente otimista, achando que a necessidade far� os dois times se aplicarem em busca da vit�ria. Um cl�ssico com potencial para ter alta rota��o, emo��o. Tenho c� minhas d�vidas.
A equipe celeste vem de uma sequ�ncia que, no papel, � muito boa: s�o nove partidas de invencibilidade. Sob o comando de Abel Braga, perdeu s� uma: na estreia, diante do Goi�s (1 a 0). De l� para c�, empatou seis vezes e ganhou tr�s. � primeira vista, nada mal. Contudo, basta uma an�lise mais profunda para que o panorama mude um pouco de figura.
Nessa s�rie, foram cinco confrontos no Gigante da Pampulha, a maioria diante de advers�rios que, teoricamente, n�o imprimiriam muita dificuldade, ou, pelo menos, teriam de entrar na conta celeste como super�veis. Mas o Cruzeiro s� ganhou de um deles, justamente o opoenente mais dif�cil, o S�o Paulo.
O fator casa n�o fez muita diferen�a diante de Internacional (1 a 1), Fluminense (0 a 0), Fortaleza (1 a 1) e Bahia (1 a 1). Mais: esses placares ajudaram a fazer da Raposa a equipe o que mais empata no Nacional'2019. S�o 13 placares que terminaram em igualdade e que, de certa forma, ajudam a explicar o motivo de o time ainda estar amea�ado pela degola.
A situa��o do Atl�tico n�o � mais animadora. O que tem salvado � a gordura que ele acumulou no turno do Brasileiro. Aquela campanha, at� certo ponto surpreendente, sob o comando de Rodrigo Santana, em que o Galo chegou a brigar pelas primeiras posi��es do campeonato, n�o s� serviu para dar um pouco de alegria � torcida (uma alegria est�ril, � verdade, mas houve alguns poucos momentos de felicidade) como pode acabar salvando o pesco�o de muita gente agora.
O torcedor que sonhava com o t�tulo l� pelo m�s de julho possivelmente n�o imaginava o pesadelo que estava se desenhando mais � frente. Uma amea�a silenciosa, que foi crescendo � medida em que as limita��es do alvinegro foram ficando expostas. Para ter uma ideia, basta comparar como a equipe chega ao cl�ssico de domingo e como estava no confronto com o maior rival na partida pelo primeiro turno do Brasileiro, em agosto.
O Atl�tico ganhou por 2 a 0 no Independ�ncia. Mesmo com menos posse de bola, foi mais efetivo que o time celeste. Contando com gols de Vin�cius (artilheiro alvinegro naquele p�s-Copa Am�rica, com quatro gols em seis partidas at� o cl�ssico) e Nathan, o Galo se manteve na quarta coloca��o, com 24 pontos – oito a menos que o ent�o l�der Santos. Ainda: completou a quarta partida consecutiva sem sofrer gol. A �ltima vez que a defesa atleticana havia alcan�ado tal marca fora em mar�o de 2015.
Do outro lado, a Raposa come�ava a se afundar na �rea movedi�a, chegando ao 10º jogo sem triunfo no Brasileiro. Na zona de rebaixamento, somava apenas 10 pontos. O conforto era a presen�a na semifinal da Copa do Brasil, contra o Internacional. Acreditava-se que estava guardando energia para o que mais importava naquele momento. O roteiro n�o foi bem assim, e para aumentar o inferno astral celeste veio a elimina��o para o Colorado.
Como diz o ditado que nada � t�o ruim que n�o possa piorar... piorou! Para os dois lados. Por isso, domingo, h� muito mais em jogo que os tr�s pontos. H� duas torcidas que, apesar de todos os pesares, ainda envergam as cores de seus clubes. E � por essas pessoas que os jogadores precisam jogar.