
O primeiro m�s do ano chega ao fim e j� � poss�vel tirar uma conclus�o que vale para a temporada inteira: 2020 vai ressignificar a rela��o do torcedor do Cruzeiro com o time. Os jogos iniciais no Campeonato Mineiro mostram que, neste ano, o cruzeirense ser� obrigado a mudar seu olhar para a equipe – pelo menos e essencialmente neste momento. A torcida, a partir de agora, n�o � por t�tulos. Essa expectativa ter� de ficar em stand by. A torcida � pela sobreviv�ncia. E � preciso muita disponibilidade de esp�rito para passar por essa transmuta��o.
Isso porque, ao longo das �ltimas d�cadas, os torcedores celestes se acostumaram a come�ar cada temporada listando em quais competi��es o time brigaria por ta�as. S�o gera��es inteiras formadas com esse limiar alto de expectativa e, consequentemente, com um elevado n�vel de cobran�as para que seu desejo se concretizasse.
Houve um tempo em que o Campeonato Brasileiro foi a meta, at� que veio o bicampeonato de 2013/2014. A�, a obsess�o passou a ser quebrar o jejum na Copa Libertadores, e o torneio internacional virou a menina dos olhos. Para tais miss�es, times formados � base de jogadores renomados e muito dinheiro.
Houve um tempo em que o Campeonato Brasileiro foi a meta, at� que veio o bicampeonato de 2013/2014. A�, a obsess�o passou a ser quebrar o jejum na Copa Libertadores, e o torneio internacional virou a menina dos olhos. Para tais miss�es, times formados � base de jogadores renomados e muito dinheiro.
Corta para 2020. Um clube quebrado. Sem dinheiro para bancar despesas b�sicas. Com d�bitos milion�rios a amea�ar sua exist�ncia. Precisando resgatar a crebilidade no mercado. Contexto que obriga a uma mudan�a de rumo radical, que se reflete essencialmente em quem enverga a camisa azul em campo.
Nesse cen�rio, o conceito de vit�ria muda. N�o est� mais relacionado a um objetivo imediato, muito menos a ta�as. O sentido � muito mais atemporal. As vit�rias celestes ser�o contabilizadas a cada folha de pagamento cumprida, a cada aumento de receita.
O grande trof�u ser� o reequil�brio da vida financeira do clube, que permitir� o reequil�brio do clube em si. Como isso ser� alcan�ado administrativamente � uma discuss�o. Como o torcedor ter� de se comportar nesse per�odo � outra totalmente diferente. E � dessa �ltima parte que estamos tratando aqui.
O grande trof�u ser� o reequil�brio da vida financeira do clube, que permitir� o reequil�brio do clube em si. Como isso ser� alcan�ado administrativamente � uma discuss�o. Como o torcedor ter� de se comportar nesse per�odo � outra totalmente diferente. E � dessa �ltima parte que estamos tratando aqui.
Cada jogo desse novo Cruzeiro vai exigir da torcida um novo posicionamento, ao qual ela n�o estava habituada. � descer de patamar. Exercitar a humildade. Criar um novo elo, possivelmente mais forte, forjado por uma dificuldade jamais vivida no �mbito celeste.
As primeiras partidas da Raposa no Mineiro, com um time composto em sua maioria por atletas da base, muitos deles em sua primeira experi�ncia efetiva no grupo profissional – e todas as dificuldades que essa conjuntura naturalmente imp�e –, foram o exemplo mais evidente de como essa altera��o no ponto de vista ser� necess�ria. De como a torcida celeste ter� de compreender e apreender a realidade atual.
Essa nova realidade pede mais toler�ncia com a equipe. Pede m�o estendida. Condescend�ncia com erros. Aceita��o. O cruzeirense ter� de ser, acima de tudo, solid�rio com o time, dentro da concep��o atual de time. De um time poss�vel dentro do que � o Cruzeiro hoje.
Ningu�m quer passar por uma S�rie B do Brasileiro, o que dir� passar pela Segunda Divis�o com uma situa��o em vias de fal�ncia, como ressaltaram v�rios dos conselheiros celestes que dissecaram as entranhas do clube ap�s a sa�da do ent�o presidente Wagner Pires de S�.
Mas essa � uma fissura que precisa ser recuperada, fechada. Ao torcedor n�o h� outra op��o que n�o seja abra�ar a equipe, ainda que seja uma equipe que n�o brigar� por t�tulos. O ato de torcer na forma mais literal, mais genu�na. Sem segundas inten��es.
Mas essa � uma fissura que precisa ser recuperada, fechada. Ao torcedor n�o h� outra op��o que n�o seja abra�ar a equipe, ainda que seja uma equipe que n�o brigar� por t�tulos. O ato de torcer na forma mais literal, mais genu�na. Sem segundas inten��es.
Em 8 de dezembro do ano passado, quando o Cruzeiro caiu, foram muitos os relatos de torcedores que cancelaram o pay-per-view, queimaram camisas e juraram nunca mais gastar dinheiro com o time, nem sequer voltar a campo para ver a Raposa jogar. Todo mundo ouviu algum relato assim.
Pois o “nunca mais” de muitos deles durou pouco mais de um m�s. Quando come�ou a venda do novo uniforme, l� estavam na loja oficial, adquirindo a camisa de grife.
Pois o “nunca mais” de muitos deles durou pouco mais de um m�s. Quando come�ou a venda do novo uniforme, l� estavam na loja oficial, adquirindo a camisa de grife.
N�o � dif�cil compreender. Assim funciona a paix�o. Na mesma velocidade em que promessas s�o feitas, elas s�o quebradas. No futebol, ent�o, muitas vezes o �dio e o amor est�o separados apenas por uma bola na rede.