
Poucas horas depois de ser readmitido ap�s uma demiss�o extraoficial, o (ainda) t�cnico do Cruzeiro, Adilson Batista, deu mais uma daquelas cartadas para refor�ar seu v�nculo com o torcedor celeste. Entrou no campo da Toca II para comandar treino com uma camisa personalizada. O nome �s costas e, logo abaixo, o n�mero 12. A mensagem, nada subliminar, estava l�: Adilson, ex-zagueiro dos bons, se colocou como o 12º jogador da Raposa, mesmo tendo pendurado as chuteiras h� quase 20 anos.
Talvez se ele ainda estivesse atuando, muito torcedor ia at� gostar da not�cia, porque se tem um setor que anda precisando de ajustes na equipe celeste � a defesa. Uma cozinha arrumada � ponto de partida para o equil�brio da casa toda. Mas a ajuda de Adilson n�o ser� exatamente para proteger a meta de F�bio, pelo menos diretamente.
Reza a lenda futebol�stica que o 12º jogador � aquele fiel escudeiro da equipe. Que n�o tem as benesses de titular e fica, na maioria das vezes, alijado dos holofotes. Desprovido de vaidade, sempre pronto a pelear pelo time, ainda que seja preterido. Sem m�goas. E todo esse cen�rio o deixa, de certa forma, confort�vel em seu papel de coadjuvante – um importante e �til coadjuvante, ressalte-se.
Ao vestir a 12 em meio � crise instalada na Toca ap�s a derrota por 2 a 0 para o CRB, pelo duelo de ida da terceira fase da Copa do Brasil – e que por pouco n�o custou sua cabe�a –, Adilson quis mandar um recado ao grupo (“Sou um de voc�s”) e � torcida (“Estou com voc�s”). Quis sair do olimpo dos treinadores e descer ao terreno dos reles mortais, para merecer deles uma solidariedade que pode prolongar sua vida �til no comando celeste.
Porque o aviso da diretoria veio claro com o bate-volta de Adilson no cargo num intervalo de horas, ontem: convic��o sobre o que fazer n�o h�. Em reuni�o via aplicativo de troca de mensagens, os conselheiros cruzeirenses discutiram e at� votaram o destino do treinador, quase como num pared�o do BBB. Apura��es do portal Superesportes mostram que h� uma divis�o de pensamento em rela��o � perman�ncia do t�cnico. N�o h� conson�ncia de ideias.
Pelo menos at� domingo, quando o Cruzeiro enfrenta o Coimbra, �s 16h, no Independ�ncia, pela nona rodada do Campeonato Mineiro, Adilson estar� � frente do time azul. N�o h�, contudo, garantias de que ele continuar� empregado ap�s essa partida. O resultado em campo ter� rela��o direta com tal decis�o.
Em quinto lugar, a Raposa corre risco de n�o avan�ar � pr�xima fase do Estadual: tem 14 pontos, atr�s de Am�rica (18), Tombense (17), Caldense (17) e Atl�tico (15). Apenas os quatro primeiros se classificam, e restam tr�s rodadas para terminar essa etapa da competi��o. Derrota para o Coimbra, vice-lanterna com apenas quatro pontos somados em oito jogos, teria efeito pr�tico e moral negativo. At� empate, possivelmente, derruba Adilson.
A culpa de todo esse panorama n�o � s� do treinador. � preciso fazer justi�a nesta an�lise. No in�cio da temporada, quem estava no comando do clube deixou claro que os primeiros meses de 2020 seriam de arrocho, conten��o de despesas. Sem contrata��es de n�vel. Era sabido que o time celeste seria formado essencialmente por pratas da casa neste come�o de ano, j� que a sa�da de medalh�es era iminente e o dinheiro estaria voltado para quita��o de sal�rios e d�vidas, n�o para investimento em refor�os.
Essa equa��o levou � equipe que est� a�. Contra o CRB, dos 14 jogadores que entraram em campo, oito tinham idade de Sub-23. Em campo, o time que a Raposa tem hoje equivale ao CRB e a outros advers�rios que ela encontrar� na Segunda Divis�o, por mais duro que seja para o torcedor admitir isso. A diferen�a � a tradi��o, ou aquilo que enquadram como “camisa”. Mas somente o peso da camisa azul n�o vai resolver, � preciso reconhecer isso.
Tal choque de realidade � essencial neste momento, para toda e qualquer avalia��o. N�o falam tanto em reconstru��o? Ent�o, n�o se chega ao telhado sem come�ar pelos alicerces. O que deve ser questionado � qu�o est�veis s�o os alicerces que o Cruzeiro tem erguido.
Em condi��es normais de temperatura e press�o, diriam os f�sicos, � claro que o time celeste tinha a obriga��o de vencer o CRB no Mineir�o. De golear at�. Mas, vejam s�, as condi��es n�o s�o essas. A turbul�ncia ainda est� no come�o. E � preciso ser um bom piloto para saber administr�-la, pois, entre mortos e feridos, pode acabar n�o se salvando ningu�m.