
Desde a quarta-feira, o rep�rter Tiago Mattar vem apresentando, no Portal Superesportes e no jornal Estado de Minas, uma s�rie de den�ncias envolvendo o uso indiscriminado do cart�o corporativo do Cruzeiro pela diretoria anterior – que deixou o clube em dezembro, pela porta dos fundos, ao renunciar em meio a investiga��es de lavagem de dinheiro e falsidade ideol�gica, entre outras acusa��es.
O caso � muito s�rio. N�o apenas pela falta de pudor dos ex-dirigentes em bancar despesas vultosas de cunho pessoal com o dinheiro celeste. Algumas dignas de piada. O ex-presidente Wagner Pires de S�, retratam os documentos que chegaram �s m�os de Tiago Mattar, pagou at� cl�nica de est�tica e produtos como meia de compress�ocom o cart�o do clube.
N�o bastasse isso, Wagner tamb�m se utilizou do caixa cruzeirense para custear suas f�rias em um luxuoso resort � beira-mar na Bahia; pagar contas nada modestas de restaurantes e bares do refinado Bairro de Lourdes, em BH; e at� mesmo garantir um delivery de chope.
Somados, esses gastos chegam quase a R$ 90 mil, no per�odo de janeiro de 2018 a dezembro de 2019, enquanto Wagner presidiu a Raposa. Para quem est� acostumado com altas quantias entrando e saindo da conta banc�ria, talvez esse montante n�o assuste muito. N�o � o caso, contudo, desta colunista, que nunca desembolsou perto de R$ 9 mil em servi�os de est�tica, por exemplo.
Al�m disso, se os gastos pessoais fossem custeados pelo dinheiro do pr�prio ex-dirigente, ningu�m, al�m dele mesmo, teria nada a ver com isso. O que cada um faz com o que ganha � problema desse cada um. H� quem seja mais conservador, discreto e comedido com as finan�as. Da mesma forma que h� quem goste de esbanjar, gastar com bebidas e comidas caras, roupas de grife. Enfim, cada um no seu quadrado.
O problema � que Wagner gastou um dinheiro que n�o pertencia a ele, pessoa f�sica. Conforme o que vem sendo muito bem apurado pela reportagem do Superesportes, o ex-cartola usou o cargo em benef�cio pr�prio. E pior ainda: desfalcou o j� combalido cofre do Cruzeiro, ajudando diretamente a jogar o clube na maior crise financeira e institucional de sua hist�ria.
Igualmente grave � perceber, pela s�rie de mat�rias, que esse comportamento era padronizado intramuros da sede do Barro Preto. N�o se limitava ao presidente – o ex-vice Herm�nio Lemos, que tamb�m renunciou em dezembro, teve comportamento igual. Na conta de Lemos, segundo a documenta��o, est�o banquetes em restaurantes argentinos e chilenos e, como Wagner, servi�o de entrega de chope bancados com o cart�o corporativo cruzeirense.
Est� em andamento, no clube celeste, uma auditoria para tentar desvendar tudo o que ocorreu na �ltima administra��o, que destro�ou o Cruzeiro. Para tentar mostrar como um clube, que nesta d�cada ganhou dois Campeonatos Brasileiros e duas Copas do Brasil (competi��es que engordam os cofres de seus campe�es), conseguiu se afundar em d�vidas e chegar ao ponto em que est� hoje. Sem cr�dito e rebaixado.
Mas tudo isso leva a uma pergunta �tica, que � t�o importante quanto os aspectos financeiros: onde estava o Conselho Fiscal do Cruzeiro durante todo esse tempo? Onde estavam os conselheiros (ok, muitos deles estavam nas mesas de restaurantes ao lado dos ex-cartolas, se esbaldando), que deveriam, por princ�pio, fiscalizar a gest�o? Como � que todo mundo se calou? Ou enquanto estava debaixo do pano estava tudo bem?
N�o h� apenas um culpado pela m� gest�o do Cruzeiro, que levou o clube ao patamar degradante em que se encontra hoje. Wagner Pires de S� contou com a condescend�ncia de muitos, inclusive alguns que ensaiaram aparecer como salvadores da p�tria quando o caldo entornou. Se ele fez o que fez com o cart�o corporativo do Cruzeiro – e ainda h� mais para vir � tona –, foi porque teve a anu�ncia de seus pares e de permissivos integrantes do Conselho Deliberativo celeste. At� quem se omitiu errou.
A cobran�a precisa recair sobre todos. Claro que sobre alguns com mais peso do que sobre outros. Um clube da grandeza do Cruzeiro n�o chega � beira do precip�cio s� por causa de uma ou outra figura. O discurso da reconstru��o � muito bonito, necess�rio neste momento, mas se esse processo n�o tiver um alicerce bem consistente, se velhas pr�ticas n�o forem abolidas, se cada um n�o assumir sua parte nessa engrenagem, tudo n�o passar� de mera fal�cia.