
Em um cen�rio desses, seria prudente que todos os esfor�os estivessem voltados para a prote��o das pessoas, para o tratamento dos infectados, para o respeito a quem perde algu�m querido. E a�, numa escala de prioridades, competi��es esportivas deveriam estar bem abaixo de tudo isso. Deveriam.
Talvez j� cansados do distanciamento (�nica forma poss�vel de diminuir o risco de cont�gio), certamente preocupados com as finan�as, a cada dia os defensores da volta dos campeonatos de futebol apresentam seus argumentos. Pior: determinam o retorno dos jogos.
E n�o importa se a poucos metros do est�dio h� um hospital acolhendo doentes – como � o caso do Maracan�, que na noite dessa quinta recebeu o Bangu x Flamengo, na retomada do Campeonato Carioca.
Empatia? Possivelmente um conceito que desconhecem ou, pelo menos, menosprezam. Solidariedade � dor alheia ent�o, esquece! Atira os problemas para debaixo do tapete (no caso, do gramado) e deixa a bola rolar! Afinal, o que s�o 48 mil mortes?
N�o gosto muito de fazer compara��es entre pa�ses nas an�lises por entender que h� muitas diferen�as socioecon�micas e estruturais que tornam algumas delas bem abstratas. Mas, no caso da rela��o entre futebol e COVID-19, vale a pena rever estat�sticas que podem ajudar a jogar luz sobre a discuss�o.
Na Europa, onde muitos campeonatos j� est�o em andamento, a decis�o de reiniciar as partidas n�o veio no auge da pandemia. Tampouco veio quando ainda n�o se sabia se o pico da doen�a havia sido atingido, incerteza vivida na maioria dos estados brasileiros.
Muito menos foi autorizada enquanto os n�meros estavam em vis�vel curva ascendente.
A ordem l� fora foi: primeiro, controla-se a contamina��o. Depois, vem a flexibiliza��o. Percebe a diferen�a?
Na It�lia, de onde vieram as imagens mais dram�ticas da pandemia por causa da concentra��o do surto na Regi�o Norte do pa�s, ser�o 84 dias de intervalo entre a data em que foi registrado o maior n�mero de mortes (28 de mar�o, com 971 �bitos) e a retomada do Calccio, neste s�bado.
Outro exemplo vem da Espanha, que tamb�m viveu dias de muita ang�stia com o efeito avassalador do novo coronav�rus. Foram 70 dias entre o pico de mortes, em 3 de abril (950 �bitos), e a volta dos jogos pela La Liga.
A Alemanha, que conseguiu domar a doen�a antes dos vizinhos, teve o recome�o da Bundesliga 57 dias depois do �pice de vidas perdidas, em 16 de abril (315 mortes). Foi esse tamb�m o intervalo que prevaleceu no Reino Unido at� o apito (re)inicial: 57 dias ap�s o 21 de abril, quando foram registrados 1.172 �bitos.
No Rio, j� se fala em segunda onda da COVID-19, sendo que a primeira ainda nem passou. Por l�, Botafogo e Fluminense destoam de seus pares, discordando da volta do estadual neste momento. No tricolor, os jogadores soltaram at� uma nota, numa tomada de posi��o poucas vezes vista no esporte brasileiro.
“Ainda vivemos em um cen�rio de muitas mortes di�rias, tanto na cidade do Rio de Janeiro, quanto em outras regi�es do pa�s. Sendo assim, evidentemente, n�o nos sentimos confort�veis em colocar ainda mais vidas em risco. Nossa luta, desde o in�cio dessa situa��o, � para que o futebol retorne em um momento oportuno”, dizia um trecho do corajoso comunicado. Digno de aplausos.
Em Minas, fala-se em retorno do campeonato em 26 de julho. Muitos clubes do interior nem sequer t�m times para entrar em campo, j� que suspenderam contratos em mar�o, quando a competi��o foi paralisada por causa da pandemia.
Mas a maior quest�o de todas � como estar� a situa��o sanit�ria do estado at� l�. Se depender do que sinalizou o governo nessa quinta-feira, a perspectiva n�o � otimista.
O governador Romeu Zema, que no in�cio da pandemia criticou quem adotava postura mais rigorosa em rela��o ao isolamento, agora admite que o novo coronav�rus est� crescendo rapidamente, mais do que ele projetava. E alertou que se mantiver nesse ritmo, o sistema de sa�de mineiro poder� colapsar em um m�s.
Palavras de Zema: “Essa trajet�ria ascendente n�o pode continuar como est�, caso contr�rio, em um m�s teremos o estrangulamento total do sistema de sa�de”. E a� fica a pergunta: se ele, a esta altura, est� preocupado, n�o dever�amos estar tamb�m?