(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas ENTRE LINHAS

O tango argentino

%u201CO peronista Alberto Fern�ndez obteve ampla vantagem sobre o liberal Macri nas elei��es prim�rias, apesar do apoio de Bolsonaro � reelei��o do presidente da Argentina%u201D


postado em 13/08/2019 04:00 / atualizado em 12/08/2019 22:00

(foto: Juan MABROMATA/AFP)
(foto: Juan MABROMATA/AFP)

A derrota do presidente liberal Maur�cio Macri nas elei��es prim�rias da Argentina p�s em xeque o acordo do Mercosul com a Uni�o Europeia, do qual o presidente argentino foi o principal art�fice, e estressou as rela��es do Brasil com a Argentina, em raz�o da forte rea��o contr�ria do presidente Jair Bolsonaro ao resultado. Em solenidade em Pelotas, o presidente da Rep�blica disse que os ga�chos deveriam se preparar para ser uma nova Roraima, numa alus�o � fuga em massa de venezuelanos em raz�o da crise do regime de N�colas Maduro.
 
O peronista de centro-esquerda Alberto Fern�ndez obteve ampla vantagem sobre Macri nas elei��es prim�rias para a Presid�ncia do pa�s. Com 99,37% das urnas apuradas, com Cristina Kirchner como vice, teve 47,66% dos votos, e Macri 32,08%. Roberto Lavagna aparece em 3º lugar, com 8,23% dos votos. O resultado tamb�m provocou p�nico no mercado financeiro da Argentina: o peso argentino fechou em queda de 15,27%, cotado a 53,5 por d�lar - no pior momento do dia, chegou a valer 65 por d�lar. A bolsa de valores recuou 37,01%.
 
Alberto Fern�ndez conseguiu capturar os votos da classe m�dia insatisfeita com a recess�o argentina e, com Cristina Kirchner na vice, manter o apoio dos sindicatos argentinos. Por�m, sua candidatura n�o � comprometida com os ajustes econ�micos necess�rios para equilibrar a economia, pelo contr�rio, � vista como a volta do projeto populista de esquerda.
 
Macri tenta fazer do lim�o uma limonada, usando a queda da bolsa e a desvaloriza��o do peso para culpar o advers�rio: “Precisamos entender que o maior problema � que a alternativa kirchnerista n�o tem credibilidade no mundo, n�o gera confian�a para que as pessoas venham investir. Eles deveriam fazer uma autocr�tica”, disse, ao comentar a repercuss�o do resultado das pr�vias na economia. Criada em 2009, as pr�vias de domingo foram estabelecidas para escolha dos candidatos de cada chapa, mas como n�o houve disputa interna nos partidos, refletiu a atual correla��o de for�as entre governo e oposi��o, tendo em vista as elei��es marcadas para 27 de outubro.
 
A situa��o da economia da Argentina � complicada. O pa�s est� em recess�o e teve de recorrer ao Fundo Monet�rio Internacional (FMI), com uma infla��o de mais de 55% depois de tr�s anos de pol�ticas de Macri. Mesmo assim, os investidores ainda preferem a reelei��o do atual presidente � volta do peronismo. Cristina Kirchner governou entre 2007 e 2015 e adotou um modelo econ�mico que praticamente afundou a economia, provocando a recess�o em que a Argentina ainda se encontra. Nacionalizou empresas, manipulou dados oficiais e causou repulsa aos investidores. Sua estrat�gia era um meio termo entre a "nova matriz econ�mica” da ex-presidente Dilma Rousseff, sua amiga, e o bolivarianismo de Hugo Ch�vez, que resultou na crise do regime venezuelano de N�colas Maduro.

Alian�a t�xica
 
Ap�s o resultado das pr�vias, Macri admitiu que existe uma bronca dos argentinos com sua pol�tica econ�mica, em raz�o do empobrecimento das fam�lias. Segundo ele, seu programa de reformas precisa de mais tempo para dar certo. O presidente argentino ainda acredita que poder� convencer os eleitores apoi�-lo. Entretanto, o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi muito desejado por Macri, virou uma alian�a t�xica, em raz�o das declara��es pol�micas do presidente brasileiro. Como a imagem de Bolsonaro no exterior n�o � boa, os peronistas passaram a associar todo o notici�rio negativo do Brasil � imagem de Macri.
 
Os argentinos s�o orgulhosos e t�m uma velha rivalidade com o Brasil, que estava confinada aos est�dios de futebol, mas pode recrudescer em fun��o da eventual interfer�ncia do governo brasileiro nas elei��es. Um dos temas mais sens�veis, por exemplo, � o caso da tortura. A ditadura argentina foi das mais sanguin�rias da Am�rica Latina e seus �rg�os de seguran�a mantiveram estreita liga��o com seus similares brasileiros durante o nosso regime militar. Cerca de 30 mil pessoas, num per�odo de sete anos, foram sequestradas e mortas, ou seja, um em cada mil argentinos, a maioria jovens, foi assassinado pelos militares. Quatro juntas militares, a partir do �ltimo dos seis golpes militares, em 1976, fizeram desaparecer n�o somente os advers�rios, mas tamb�m seus filhos de at� quatro anos, que eram adotados por familiares de militares.
 
M�es de desaparecidos que come�aram a se reunir em 1977 na Pra�a de Maio para cobrar do governo not�cias de seus filhos organizaram uma rede de informa��es que lhes permitiu localizar mais de uma centena de crian�as sequestradas pela ditadura. As M�es da Pra�a de Maio se tornaram Av�s da Pra�a de Maio. A ditadura acabou em 1983, com a economia do pa�s em frangalhos, depois de uma desastrosa guerra contra o Reino Unido pela posse das Ilhas Malvinas. Com a democratiza��o do pa�s, todos os generais integrantes das juntas militares foram julgados e condenados por tortura, assassinato e morte dos milhares de argentinos.

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)