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Estado de Minas ENTRE LINHAS

O peso da iniquidade social para o Brasil

A estagna��o da escolaridade e a m� distribui��o de renda s�o os vetores mais dram�ticos da nossa desigualdade


postado em 11/12/2019 04:00 / atualizado em 11/12/2019 07:52

 O clima árido do sertão serviu de inspiração para Euclides da Cunha descrever os sangrentos acontecimentos da Guerra de Canudos(foto: Virgílio de Barros/Divulgação %u2013 10/7/18)
O clima �rido do sert�o serviu de inspira��o para Euclides da Cunha descrever os sangrentos acontecimentos da Guerra de Canudos (foto: Virg�lio de Barros/Divulga��o %u2013 10/7/18)

Obra pr�-modernista, de car�ter hist�rico-liter�rio, Os Sert�es de Euclides da Cunha (1866-1909), publicado em 1902, foi a primeira grande cr�tica � iniquidade social no Brasil. Embora de car�ter regionalista, ao narrar os sangrentos acontecimentos da Guerra de Canudos (1896-1897), liderada por Ant�nio Conselheiro (1830-1897), no interior da Bahia, teve grande impacto na opini�o p�blica da �poca, em especial entre os jovens militares, sendo uma das fontes de inspira��o do Tenentismo.

A obra descreve o sert�o nordestino (o relevo, a fauna, a flora e o clima), o homem (o sertanejo, o jagun�o, o cangaceiro e o l�der messi�nico) e, finalmente, a luta (as quatro ingl�rias campanhas do Ex�rcito para destruir o pequeno arraial de 20 mil habitantes). Nunca antes a quest�o social no Brasil havia sido abordada com tanto realismo, nem mesmo na campanha abolicionista, cujo coroamento fora a Lei �urea, 14 anos antes.
 
A justificativa para o massacre de Canudos fora uma suposta amea�a � consolida��o do regime republicano, devido ao car�ter sebastianista do movimento liderado pelo m�stico Ant�nio Conselheiro. No livro, Euclides da Cunha questiona o ufanismo e o nacionalismo da �poca, bem como a vis�o idealizada que se tinha sobre a forma��o e o car�ter do povo brasileiro.
 
O homem descrito por Euclides da Cunha, que fez a cobertura jornal�stica da Guerra de Canudos como correspondente do jornal O Estado de S�o Paulo, cem anos depois, vive nas periferias e favelas dos grandes centros urbanos do pa�s, seja na condi��o de trabalhador informal, seja como traficante ou miliciano. A iniquidade social � a mesma. A diferen�a � que j� n�o � poss�vel resolver o problema � bala, como em Canudos, embora alguns continuem tentando.
 
Na �poca de Ant�nio Conselheiro n�o havia IDH, o �ndice criado para a ONU pelos economistas Amartya Sen, indiano, pr�mio Nobel de 1998, e Mahbub al Huq, paquistan�s, com objetivo de mensurar as condi��es de sa�de, de escolaridade e de renda das popula��es e assim aferir os n�veis de desigualdades entre os pa�ses. O do Brasil, divulgado no domingo passado, mostra um quadro desolador, em grande parte agravado pela recess�o provocada pela “nova matriz econ�mica” do segundo mandato do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva e do governo Dilma Rousseff.

Direitos humanos

S�o impressionantes os efeitos negativos da recess�o, entre os quais a exist�ncia de 12 milh�es de desempregados cr�nicos. O �ndice brasileiro perdeu tr�s posi��es desde 2013. De 2017 a 2018, em um ranking de 189 pa�ses, retrocedemos do 78º lugar para 79º, com um IDH de 0,761 (quanto mais pr�ximo de 1, maior o desenvolvimento humano). Estamos atr�s da R�ssia e da Argentina, para usar apenas esses dois paradigmas. E muito distantes da Noruega e da Su��a, que lideram os IDHs dos pa�ses desenvolvidos.
 
A estagna��o da escolaridade e a m� distribui��o de renda s�o os vetores mais dram�ticos da nossa desigualdade, pois puxam para baixo a qualidade de vida de toda a popula��o. O quadro � ainda mais grave porque n�o h� igualdade de oportunidades na largada, no meio do caminho, muito menos na reta de chegada. Ou seja, do nascimento de nossas crian�as � vida adulta.
 
A situa��o nos remete � quest�o dos direitos humanos, consagrados pela ONU em 1948 e incorporados � nossa Constitui��o, em 1988. Seu conceito mudou ao longo da hist�ria, desde a Declara��o de Direitos de Virg�nia, nos Estados Unidos (1776), e a Declara��o dos Direitos do Homem e do Cidad�o (1789), na Fran�a. Grosso modo, foram fundamentais para a consolida��o dos Estados nacionais e para o desenvolvimento capitalista. Afinal, nem um nem outro seriam poss�veis sem ex�rcitos de massa e o chamado ex�rcito industrial de reserva, respectivamente, que requeriam m�o de obra saud�vel e minimamente escolarizada.
 
� a� que mora o perigo. Com a revolu��o tecnol�gica em curso, nem os ex�rcitos nem a produ��o exigem a mesma disponibilidade de recursos humanos; os direitos � sa�de e � educa��o est�o deixando de ser um assunto de interesse universal, ou seja, inclusive patronal. Enquanto nos pa�ses desenvolvidos o estado de bem-estar social est� em crise, na periferia do mundo deixou de ser um objetivo comum a ser alcan�ado. Nunca as pol�ticas p�blicas de car�ter social foram t�o negligenciadas.
 
Ocorre que o mundo se move. O esgar�amento social provocado pelas pol�ticas ultraliberais � uma realidade, seja nos pa�ses desenvolvidos, como na Fran�a, seja na periferia, como no Chile, cujo IDH, como vimos acima, � melhor do que o nosso. Com toda certeza, nas pr�ximas elei��es municipais, essa vari�vel ter� que ser considerada, tanto quanto a gera��o de oportunidades de trabalho e o combate � corrup��o e � inefici�ncia na gest�o p�blica.

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