
O presidente da C�mara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), jogou um balde de �gua fria nas articula��es para dar in�cio a um processo de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, o que depende dele. Uma de suas atribui��es � aceitar ou arquivar, monocraticamente, os pedidos de impeachment. “Processos de impeachment e possibilidade de CPIs precisam ser pensados e refletidos com muito cuidado. Acredito que o papel da C�mara dos Deputados neste momento, nos pr�ximos dias, � que a gente volte a debater, de forma espec�fica, a quest�o do enfrentamento ao coronav�rus”, afirmou, em entrevista coletiva na C�mara. Nesta semana, acaba o seu prazo de 10 dias para informar ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello sobre os pedidos que j� chegaram � C�mara, que acusam Bolsonaro de crime de responsabilidade, tanto na demiss�o de Moro como na postura diante da epidemia de coronav�rus.
A Comiss�o Parlamentar Mista de Inqu�rito (PMI) para investigar as den�ncias do ex-ministro da Justi�a S�rgio Moro sobre tentativas de interfer�ncias indevidas de Bolsonaro na Pol�cia Federal (PF) est� no telhado. Segundo o ex-ministro, Bolsonaro queria informa��es sobre inqu�ritos policiais e relat�rios de intelig�ncia, o que n�o foi aceito pelo ex-juiz da Lava-Jato, que se demitiu da pasta fazendo muito barulho. Nos bastidores da C�mara, a coleta de assinaturas para instala��o da CPMI j� foi iniciada, mas h� resist�ncias de parte do Centr�o e dos deputados bolsonaristas. Maia mant�m dist�ncia regulamentar da mobiliza��o, n�o quer tomar partido.
Bolsonaro ontem tamb�m tratou de esvaziar a crise. Continua decidido a nomear o delegado Alexandre Ramagem, atual diretor da Ag�ncia Brasileira de Informa��es (Abin), para a diretoria-geral da Pol�cia Federal, no lugar de Maur�cio Valeixo, que foi exonerado � revelia de Moro. Entretanto, a indica��o do ministro Jorge Oliveira, secret�rio-geral da Presid�ncia, para o cargo de ministro da Justi�a tamb�m estava no telhado. A mobiliza��o contra as duas indica��es, devido a liga��es pessoais de ambos com os filhos do presidente da Rep�blica, parece ter levado Bolsonaro a avaliar melhor a situa��o. Oliveira tamb�m estaria reticente a mudar de posto. N�o ser� surpresa se Bolsonaro indicar outro nome para a pasta, com maior tr�nsito junto aos tribunais superiores.
A preocupa��o de Bolsonaro era acabar com os boatos de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, estaria desembarcando da equipe, em raz�o das diverg�ncias com os militares do Pal�cio do Planalto, que apresentaram um plano de retomada da economia que n�o passou por seu crivo. Em entrevista coletiva, Bolsonaro garantiu que Guedes continua dando a linha da pol�tica econ�mica para todo o governo. “Acabei mais uma reuni�o aqui tratando de economia. E o homem que decide a economia no Brasil � um s�: chama-se Paulo Guedes. Ele nos d� o norte, nos d� recomenda��es e o que n�s realmente devemos seguir”, disse.
Centr�o
Ao lado de Bolsonaro, Guedes afirmou que o governo segue firme em sua pol�tica econ�mica de responsabilidade fiscal e garantiu que os gastos p�blicos extraordin�rios feitos em decorr�ncia da crise do coronav�rus s�o uma “exce��o” na condu��o da pol�tica econ�mica.
“Queremos reafirmar a todos que acreditam na pol�tica econ�mica que ela segue, � a mesma pol�tica econ�mica”, ressaltou Guedes. Estavam na entrevista o ministro da Infraestrutura, Tarc�sio de Freitas, um dos autores do Plano Pr�-Brasil; o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, que muitos veem como alternativa para a Economia, e a ministra da Agricultura, Teresa Cristina, que sofre um ataque especulativo da ala ideol�gica do governo e dos ruralistas ligados ao Centr�o, que a acusam de ser aliada da China.
As negocia��es para articular uma base mais robusta para Bolsonaro, a cargo do ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, v�o de vento em popa. Roberto Jefferson (PTB), Valdemar da Costa Neto (PR), Ciro Nogueira (PP) e Gilberto Kassab (PSD), os caciques do Centr�o, querem garantir a presid�ncia da C�mara, na sucess�o de Rodrigo Maia (DEM-RJ), para o deputado Arthur Lira (PP-AL), com apoio do Pal�cio do Planalto. O Banco do Nordeste, a Funasa, o DNOS e o FNDE e o Porto de Santos est�o no balaio do “� dando que se recebe”, mas Kassab pleiteia tamb�m o Minist�rio da Agricultura. Em troca, Bolsonaro estaria blindado contra qualquer tentativa de impeachment.
Ou seja, a opera��o pol�tica do Pal�cio do Planalto avan�ou no Congresso, amainando a crise pol�tica. A postura cautelosa de Rodrigo Maia e o sil�ncio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), que est�o jogando juntos, refletem isso. Em contraste com a calmaria pol�tica, por�m, a epidemia de coronav�rus avan�a, com o ministro da Sa�de, Nelson Teich, ainda “estudando os dados” de sua propaga��o, enquanto o novo secret�rio-executivo da pasta, general Eduardo Pazuello, critica a imprensa (que n�o levaria em conta a diversidade do pa�s) e fala em “planejamento centralizado” num sistema tripartite — Uni�o, estados e munic�pios —, onde qualquer planejamento bem-sucedido precisa ser situacional e participativo. J� s�o 4.543 mortes, 338 mortes a mais no domingo, com 66.501 casos confirmados, ou seja, 4.613 casos a mais. Foram mais 1.802 mortes em apenas uma semana e o general reclama da imprensa porque noticia o avan�o da epidemia.
