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Estado de Minas Entre linhas

Uma homenagem a Orlando Brito, cronista do poder, da gl�ria e da solid�o

'Era impressionante a sua capacidade de ler a alma dos pol�ticos, suas verdadeiras inten��es e agruras, pela simples postura. Mestre do fotojornalismo'


13/03/2022 04:00 - atualizado 13/03/2022 07:22

Orlando Brito se tornou referência no fotojornalismo
Fotojornalista Orlando Brito foi sepultado ontem em Bras�lia (foto: Wagner Pires/Divulga��o - 11/3/22)

Sua filha �nica, Carolina, cuidou dele at� o �ltimo momento. Mobilizou a solidariedade dos amigos, acompanhou os cuidados dos m�dicos, tentou convencer o pai a acertar a nova situa��o sem se rebelar contra os tubos e aparelhos que o mantiveram vivo nos hospitais p�blicos de Bras�lia. O jornalista Orlando Brito foi sepultado ontem, no Cemit�rio Campo da Boa Esperan�a, na Asa Sul, ap�s 34 dias de muita luta. Depois de duas cirurgias no intestino, em decorr�ncia de um c�ncer, teve fal�ncia m�ltipla dos �rg�os. Morreu �ntegro e pobre, no Hospital de Taguatinga, como acontece com muitos jornalistas.

Orlando P�ricles Brito de Oliveira nasceu em 1950, em Jana�ba, Minas Gerais. Como muitos jornalistas da sua gera��o, come�ou a carreira muito jovem: em 1964, aos 14 anos, come�ou a trabalhar como laboratorista no jornal �ltima Hora, uma porta de entrada das reda��es; as outras eram a revis�o e o trabalho de office boy. A profiss�o somente viria a ser regulamentada em outubro de 1969. Fez carreira nos principais ve�culos do pa�s: O Globo, Jornal do Brasil e revistas Caras e Veja. Ao deixar a revista, criou a ag�ncia de not�cias Obrito News, organizou semin�rios, deu aulas, fez confer�ncias e palestras. Andou pelos cafund�s do Brasil e pelo mundo afora, mas especializou-se na cobertura pol�tica.

Fotografou presidentes, ministros, senadores, deputados. O pol�tico que n�o foi flagrado em plena atividade por Orlando Brito passou batido por Bras�lia. Contou com seu olhar arguto 50 anos de hist�ria pol�tica do Brasil, com compet�ncia e sensibilidade que, na maioria das vezes, dispensava a legenda. Ele traduzia em imagens muitas vezes aquilo que n�s, seus colegas da cobertura de pol�tica, n�o consegu�amos enxergar nem escrever.

Mas n�o foi s� isso. Como bom mineiro, seguiu o exemplo de Assis Horta, o grande fotografo de A Cigarra, filho de Diamantina, que registrou a vida banal das pessoas comuns, dando a elas a dignidade e a altivez perp�tuas, invis�veis para as elites do come�o do s�culo passado. Brito fotografou trabalhadores em greve, protestos de estudantes, a vida dos �ndios, as agruras dos garimpos, a aridez graciliana dos sert�es nordestinos. Mas tamb�m as personalidades do mundo esportivo e art�stico, al�m de cenas do cotidiano de cidades de mais de 60 pa�ses. Era um cosmopolita.

Foi o primeiro brasileiro premiado no World Press Photo Prize, do Museu Van Gogh, de Amsterd�, na Holanda, o mais cobi�ado pr�mio de fotojornalismo do mundo. Conquistou o primeiro lugar pelo jornal O Globo, na categoria Sequ�ncias:  registros de um exerc�cio militar, intitulados “Uma miss�o fatal”. De tanto ganhar o Pr�mio Abril de Fotografia, a partir da d�cima segunda vez foi considerado hors concours.

“Poder, gl�ria e solid�o”, que empresta o t�tulo � coluna, foi seu livro mais importante, dos seis que publicou. � um registro impressionante de epis�dios e protagonistas da hist�ria pol�tica do Brasil. Al�m de excelente rep�rter fotogr�fico, Brito era um grande cronista pol�tico e contador de hist�rias. O “making of” de trabalho, em textos bem-humorados e contextualizados historicamente, re�ne aulas de bom jornalismo. Muitos deles est�o no site Os Divergentes, do qual � um dos fundadores.

Compromisso com a �tica
N�o tive a fortuna de trabalhar diretamente com Orlando Brito, fazendo dupla nas reportagens, mesmo quando fui rep�rter da antiga �ltima Hora, no Rio de janeiro, e no Globo, na sucursal de S�o Paulo. Entretanto, j� como rep�rter de pol�tica em Bras�lia, compartilhamos muitos momentos da vida pol�tica nacional. E aprendi a prestar muita aten��o naquilo que o Brito falava, muitas vezes sutis sugest�es de pautas. Era impressionante a sua capacidade de ler a alma dos pol�ticos, suas verdadeiras inten��es e agruras, pela simples postura. Brito capturava o instante certo.

Assim, passei a fazer parte de uma confraria de jornalistas de pol�tica que se re�ne regularmente, eventualmente, duas vezes por semana. Como somos da mesma gera��o, cada qual � um mar de hist�rias, sendo Brito um oceano. �s vezes, ele sa�a para fotografar algum evento na Esplanada dos Minist�rios. Invariavelmente, voltava satisfeito com o resultado de seu pr�prio trabalho e nos mostrava as fotos, orgulhoso, antes de publicar. Educado, delicado, tratava todos com a mesma urbanidade, mas sabia qual era seu lugar no podium da profiss�o.

Sua divers�o era registrar os humores do presidente Bolsonaro e o clima no governo, a partir de detalhes nas solenidades e entrevistas que somente ele conseguia capturar. Previu interna��es do presidente da Rep�blica, flagrou momentos de estresse da equipe de governo, antecipou quedas de ministros. At� as rusgas dom�sticas com a primeira-dama Michele, seus olhos atentos conseguiam capturar. Volta e meia nos mostrava uma foto e dizia: “essa � impublic�vel”. Sua �tica era impressionante. Orlando Brito respeitava a fronteira entre o p�blico e o privado, nunca foi um paparazzi.
 

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