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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Pra n�o dizer que n�o falei do Imbroch�vel

Com a transforma��o da data magna num ato eleitoral, e o constrangimento das For�as Armadas, os ritos da Presid�ncia foram todos desrespeitados


08/09/2022 04:00 - atualizado 08/09/2022 07:53

Com discurso modulado por marqueteiros, Bolsonaro não fez ataques diretos ao STF e se esforçou para seduzir o eleitorado feminino, que está inviabilizando a sua reeleição
(foto: Ruy Baron/AFP)

 
Espirituoso, zombeteiro, gracejador, como o pr�prio apelido diz, o portugu�s Francisco Gomes da Silva desembarcou no Rio de Janeiro em 1808, como um dos 15 mil integrantes da corte portuguesa que acompanharam a fuga de D. Jo�o VI de Portugal. Era filho bastardo de Francisco Jos� Rufino de Sousa Lobato, Visconde de Vila Nova da Rainha, e de sua empregada dom�stica Maria da Concei��o Alves, uma mo�a pobre, que foi mandada para a �frica, enquanto Antonio Gomes da Silva, protegido de Lobato, registrava o menino como filho leg�timo.

O pai biol�gico n�o abandonou o filho, que estudou no semin�rio de Santar�m, onde aprendeu franc�s, ingl�s, italiano e espanhol. Em 1807, acabou expulso pelo reitor e veio com a fam�lia real para o Brasil, onde acabou faxineiro do Pal�cio S�o Cristov�o. Chala�a e uma dama da corte foram flagrados nus num dos quartos do pal�cio, pelo pr�prio D. Jo�o VI. Expulso de S�o Cristov�o, onde era visto como espi�o pela rainha Carlota Joaquina, abriu uma barbearia na Rua do Piolho (atual Rua da Carioca), mas logo voltou ao servi�o da corte ap�s o retorno da fam�lia real para Portugal, porque era amigo de D. Pedro I.

Sua influ�ncia na corte foi muito maior do que aparentava. Na qualidade de oficial maior da Secretaria de Estado, inseriu na Carta Constitucional do Imp�rio do Brasil de 1824 a sua assinatura com a rubrica: "Francisco Gomes da Silva, a fez". Por ter redigido a Carta, foi condecorado por Pedro I com a comenda da Torre e Espada. Para os brasileiros, era corrompido e corruptor; pagava jornais, disseminava cal�nias e panfletos an�nimos, para insultar os pol�ticos liberais. Sem escr�pulos, era visto como recadeiro, insolente, trapaceiro e antip�tico ao Brasil e aos brasileiros.

Nas lutas de bastidor, ap�s a Independ�ncia, conseguiu ser mais influente do que Jos� Bonif�cio, mas acabou tra�do pelo Marqu�s de Barbacena, que negociou o casamento de D. Pedro I com a princesa D. Am�lia de Leuchtenberg. Nomeado embaixador plenipotenci�rio do Imp�rio para o Reino das Duas Sic�lias, cuja capital era N�poles, Chala�a recusou o cargo e foi para Londres, onde realizou um levantamento dos gastos de Barbacena, que acabou demitido do Minist�rio da Fazenda por D. Pedro I, em raz�o dessa devassa.

Havia muita tens�o pol�tica no Brasil por causa da infla��o e da escassez de carne seca. A oposi��o acusava D. Pedro I de ser "absolutista". Os “�ulicos” portugueses que cercavam D. Pedro I, principalmente Chala�a, eram responsabilizados pelas a��es autocr�ticas do imperador e a falta de di�logo com a C�mara dos De- putados. O amigo alcoviteiro, mulherengo, bo�mio e divertido de D. Pedro I jamais voltou ao Brasil; mas foi chamado a Portugal por D. Pedro, em 1833, para ser secret�rio de Estado da Casa de Bragan�a. Em 1834, D. Pedro I morreu e deixou vi�va dona Am�lia, sua segunda esposa, de quem Chala�a se tornaria amante. Na tarde de 30 de dezembro de 1852, morreria em Lisboa, no Hotel Bragan�a.

Isolamento

Chala�a foi a face mais picaresca e, ao mesmo tempo, obscura do reinado de D. Pedro I, com quem tinha uma rela��o de estreita confian�a. Lembrei-me do Chala�a porque protagonizou um estilo de fazer pol�tica de baix�ssima qualidade que marcou o Primeiro Imp�rio. Talvez seja o ambiente mais parecido com o que estamos vivendo, com o presidente Jair Bolsonaro cercado de “�ulicos”. Mas o que houve ontem nas comemora��es do bicenten�rio da Independ�ncia, em termos de qualidade da pol�tica, era inimagin�vel.

N�o foram apenas a transforma��o de uma data magna num ato eleitoral, nem o constrangimento ao qual foram submetidas as For�as Armadas. Os ritos da Presid�ncia foram todos desrespeitados. No lugar dos presidentes da C�mara, Arthur Lira (PP), do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), e do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, que evitaram o vexame, no palanque oficial, pontificava o empres�rio Luciano Hang, o Velho da Havan, ao lado de um constrangido presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza, que parecia n�o acreditar no que estava vendo. Com discurso modulado por marqueteiros, Bolsonaro n�o fez ataques diretos ao Supremo Tribunal federal (STF) e se esfor�ou para seduzir o eleitorado feminino, que est� inviabilizando a sua reelei��o. Mas, quando falou das mulheres, foi um desastre.

Depois de elogiar a primeira-dama, Michelle Bolsonaro (“uma mulher ativa na minha vida, n�o � ao meu lado, n�o, muitas vezes ela est� � na minha frente”), Bolsonaro saiu-se com esta: “E eu tenho falado para os homens solteiros, para os solteiros que est�o cansados de ser infelizes. Procure uma mulher, uma princesa, se casem com ela, para serem mais felizes ainda”. Na sequ�ncia, beijou a primeira-dama e puxou o coro: “Imbroch�vel, imbroch�vel, imbroch�vel!”. Nem nos tempos do Chala�a se viu uma coisa dessas.

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