(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas ENTRE LINHAS

O melhor pa�s do mundo n�o � o apresentado por Jair Bolsonaro na ONU

O discurso foi tentativa de se apropriar do sentimento de brasilidade, da mesma forma como fez com a bandeira brasileira


21/09/2022 04:00 - atualizado 21/09/2022 08:35

Bolsonaro na ONU
A dificuldade de Bolsonaro est� em n�o compreender plenamente o conceito de "brasilidade" (foto: Anna Moneymaker/Getty Images/AFP)
O presidente Jair Bolsonaro discursou ontem na abertura da Assembleia-Geral da Organiza��o das Na��es Unidas (ONU), em Nova York, nos Estados Unidos, como � de praxe no cerimonial do �rg�o, desde a sua cria��o no imediato p�s-Segunda Guerra Mundial, embora n�o exista nada escrito sobre  o Brasil ter essa honraria no seu regimento. Descreveu um pa�s que n�o � exatamente aquele no qual estamos vivendo, com o claro prop�sito de aproveitar a oportunidade para se apresentar aos eleitores como um estadista reconhecido internacionalmente e, ao mundo, como um governante generoso e bem-sucedido. A abertura, por�m, foi esvaziada pela aus�ncia do presidente dos EUA, Joe Biden, que mudou a agenda e s� falar� hoje.

 

O discurso de Bolsonaro foi mais um gesto para se apropriar do nosso sentimento de brasilidade, da mesma forma como fez com a bandeira brasileira e as comemora��es do bicenten�rio da Independ�ncia, no 7 de Setembro, que descreveu no discurso como “a maior demonstra��o c�vica da hist�ria do pa�s”. Descendente de italianos, Bolsonaro � um “oriundi” traduzido, no conceito antropol�gico do termo, como acontece com a maioria dos brasileiros descendentes de europeus, que n�o renegam a cultura de seus povos de origem nem assumiram uma condi��o “chauvinista”, colocando-a acima da nossa cultura popular.

 

A dificuldade de Bolsonaro est� em n�o compreender plenamente o conceito de “brasilidade”, a qualidade de quem � brasileiro, que est� profundamente associado � nossa diversidade �tnica e cultural. O “ser brasileiro” n�o � uma inven��o das antigas elites escravocratas nem das escolas militares, mas uma constru��o multidimensional, por meio da arte, da dan�a, dos ritos, da m�sica, da culin�ria, dos s�mbolos e, principalmente, da nossa literatura, que fez a cr�tica dos nossos h�bitos e costumes, papel hoje exercido pela nossa teledramaturgia. Num pa�s continental, n�o poderia ser diferente. Quando um brasileiro acredita que somos “o melhor pa�s do mundo”, n�o est� se referindo a um governo ou � conjuntura, mas aos v�nculos culturais mais profundos, tecidos ao longo de gera��es.

 

Iniciado ap�s a Independ�ncia, em 1822, o processo de constitui��o da identidade nacional somente consolidou-se a partir da d�cada de 1930, ap�s Get�lio Vargas chegar ao poder. Est� ligado � constitui��o de um Estado nacional moderno e � l�ngua portuguesa, falada em todo o territ�rio nacional. Da� a import�ncia da nossa literatura, hoje t�o desprezada. As obras de Jos� de Alencar, autor de “O Guarani”, por exemplo, foram fundamentais para associar nossa identidade �s belezas naturais do territ�rio e � presen�a ind�gena na forma��o da na��o brasileira. 

Na contram�o

 “Os serm�es”, de Padre Vieira; “Inoc�ncia”, de Visconde de Taunay; “O corti�o”, de Alu�sio de Azevedo; “Dom Casmurro”, de Machado de Assis; “Macuna�ma”, de M�rio de Andrade; “Grande sert�o: Veredas”, de Guimar�es Rosa; “Triste fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto; “Reina��es de Narizinho”, de Monteiro Lobato; “Vidas secas”, de Graciliano Ramos; “Jubiab�” e “Gabriela, cravo e canela”, de Jorge Amado; “Navalha na carne”, de Pl�nio Marcos, por exemplo, constru�ram um mosaico cultural cuja influ�ncia na m�sica, na dramaturgia e nas artes pl�sticas perdura hoje. Artistas como Tarsila do Amaral, Chiquinha Gonzaga e Ivone Lara, Cartola e Paulinho da Viola, Chico Buarque e Tom Jobim, Caetano e Gil, Cazuza e Renato Russo, cada qual � sua �poca, foram int�rpretes desse sentimento profundo de brasilidade.

 

O “melhor pa�s do mundo” est� no imagin�rio popular, n�o estava no discurso que o presidente Jair Bolsonaro fez na ONU, onde afirmou que 80% da floresta amaz�nica permanece intocada: “Dois ter�os de todo o territ�rio brasileiro permanecem com vegeta��o nativa, que se encontra exatamente como estava quando o Brasil foi descoberto, em 1500.” No mesmo dia, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou que o n�mero de queimadas registradas na Amaz�nia at� ontem j� superou o total registrado em todo o ano de 2021. Em nove meses incompletos (261 dias), foram 76.587 focos de inc�ndio na regi�o. No ano passado inteiro, foram 75.090.

 

Bolsonaro � o principal respons�vel pelo aumento do desmatamento da Amaz�nia, ao desmantelar �rg�os como o Ibama e o Instituto Chico Mendes, al�m de estimular garimpeiros, pecuaristas e madeireiros a avan�arem floresta adentro. A Amaz�nia Legal, com 59% do territ�rio brasileiro, ocupa nove estados: Acre, Amap�, Amazonas, Mato Grosso, Par�, Rond�nia, Roraima, Tocantins e uma parte do Maranh�o. Na semana passada, por causa das queimadas, a fuligem e o cheiro das queimadas foram sentidos de S�o Paulo ao Rio Grande do Sul. A pol�tica ambiental de Bolsonaro est� na contram�o da pol�tica ambiental preconizada pela ONU e, hoje, � um dos principais fatores do nosso isolamento internacional.

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)