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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Encontro entre os presidentes Lula e Biden muda o eixo da pol�tica externa

Existe muita converg�ncia entre a situa��o de ambos. Isso � muito mais importante do que as boas rela��es com os vizinhos


10/02/2023 04:00 - atualizado 10/02/2023 08:36

Lula será recebido por Biden hoje na Casa Branca
Lula ser� recebido por Biden hoje na Casa Branca (foto: DOUGLAS MAGNO/AFP - MANDEL NGAN/AFP )

A visita do presidente Luiz In�cio Lula da Silva � Casa Branca, para um encontro com o presidente Joe Biden, muda o eixo da pol�tica externa brasileira, que volta ao Ocidente, por raz�es geopol�ticas e pol�tico-ideol�gicas. Se num primeiro momento a pol�tica externa do governo de Jair Bolsonaro fora de alinhamento absoluto com a pol�tica de Donald Trump, com a vit�ria do democrata a pol�tica externa brasileira havia nos levado a um afastamento dos Estados Unidos e uma alian�a t�cita com os regimes iliberais da Europa Oriental, da �frica e do Oriente M�dio. Bolsonaro estava se tornando um espelho do presidente russo Vladimir Putin.

O cientista pol�tico Luiz Werneck Vianna, logo no come�o do governo Bolsonaro, foi um dos intelectuais a primeiro destacar que a democracia brasileira esteva sob alto risco n�o apenas por causa de um governo reacion�rio, “que faz do seu desmonte o seu objetivo estrat�gico”, mas tamb�m porque “uma parte de sua sociedade abandonou sua afei��o por ela”. Uma de suas causas foi “o descaso com a organiza��o da vida popular e a descren�a no papel que uma cidadania ativa pode desempenhar nas democracias”.

Muito antes do assalto aos pal�cios da Pra�a dos Tr�s Poderes, Werneck nos advertia dos riscos de que uma “ral� de novo tipo, com extra��o nos setores das camadas m�dias, em busca da fama e da riqueza f�cil, inebriadas pelo mito p�s-moderno da personalidade”, vislumbrasse na sociedade indefesa a sua hora e a sua vez”. Dizia que a infiltra��o desses v�ndalos em postos importantes no sistema da representa��o pol�tica era uma grave amea�a “� obra ainda inacabada civiliza��o brasileira”.

“O Brasil n�o � uma ilha, e faz parte desde sua origem do sistema capitalista mundial, filho do Ocidente, sua forma��o nacional se forjou sob a influ�ncia das correntes de ideias que nos vinham da Fran�a, no Imp�rio, segundo a modelagem operada pelo Visconde do Uruguai, e, na Rep�blica, dos EUA que inspirou em larga medida a sua primeira Constitui��o em 1891, obra em grande parte derivada da influ�ncia de Ruy Barbosa na sua reda��o”, dizia.

A derrota de Bolsonaro interrompeu o caminho para a barb�rie, mas parece que a verdadeira dimens�o dos riscos que corr�amos est� se perdendo, mesmo diante do que aconteceu no dia 8 de janeiro. Lula est� sendo tratado por nossas elites, principalmente aquelas que apoiaram Bolsonaro no primeiro e segundo turno,  como um l�der populista terceiro-mundista de meados do s�culo passado, ao contr�rio da percep��o da opini�o p�blica mundial e da maior parte dos l�deres do Ocidente. E �s vezes parece gostar disso.

Ra�zes do Brasil


Nesse aspecto, a viagem de Lula aos Estados Unidos e seu encontro com o presidente Biden demonstram que a rota hist�rica de nossas rela��es internacionais se mant�m tendo por Norte o Ocidente. Retoma-se o eixo democr�tico da diplomacia do Bar�o do Rio Branco, de Joaquim Nabuco e de Osvaldo Aranha. Oriente e Ocidente n�o s�o apenas espa�os geopol�ticos, s�o culturas, valores e conceitos que remontam h� 4 mil anos de processo civilizat�rio, desde a antiguidade grega. A hist�ria viajou do Oriente, seu come�o, para o Ocidente, a sua modernidade. A p�s-modernidade, por�m, por causa da China, � uma nova  disputa entre Ocidente e Oriente no plano das estruturas pol�ticas.

O Brasil n�o tem como fazer um percurso diferente, mesmo tendo um p� no Oriente ib�rico, como nos mostrou S�rgio Buarque de Holanda, em “Ra�zes do Brasil”. Um dos tra�os caracter�sticos dos povos ib�ricos � a cultura da personalidade, que consiste em se apegar a uma pessoa, mais do que seus t�tulos ou posi��o social. O personalismo � a marca de uma sociedade que n�o consegue se organizar por si mesma. Rela��es sociais s�o marcadas pela empatia, seja a familiar ou de afinidade. O personalismo, portanto, atravessa todas as camadas sociais. Nele, a obedi�ncia tamb�m � vista como virtude e sin�nimo de lealdade. Um pouco da polariza��o pol�tica existente no pa�s decorre desse fen�meno, que vale para Bolsonaro e para o presidente Lula.

Entretanto, Lula tem a obriga��o de compreender os riscos desse fen�meno. A heran�a da escravid�o e a da estrutura a agr�ria colonial est�o na raiz da desigualdade social brasileira, da forma��o da nossa elite econ�mica e pol�tica tradicional. Isso tudo tem um pre�o. Acabamos de nos livrar de um governo inspirado na experi�ncia neoliberal chilena, que trabalhou para desconstruir o acervo social-democrata dos governos da redemocratiza��o, mas tamb�m a heran�a liberal republicana que deu sustenta��o ao Estado brasileiro nos momentos de predom�nio da democracia na vida nacional.

Talvez a conversa de Lula com Biden nos ajude a olhar para a frente. O presidente norte-americano acaba de fazer um discurso sobre o Estado na na��o que reposiciona Estados Unidos em v�rias dimens�es. As mais importantes s�o a defesa da democracia e de uma pol�tica econ�mica voltada para a reindustrializa��o do pa�s, defesa do meio ambiente, combate �s desigualdades e inclus�o das minorias. Entretanto, o fantasma de Donald Trump, que manteve seu controle sobre o Partido Republicano e lidera a extrema-direita norte-americana, ronda a Casa Branca. Existe muita converg�ncia entre a situa��o de Biden e a de Lula. Isso � muito mais importante do que as boas rela��es com a Argentina, Venezuela e Cuba.
 




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