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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Abulia de Bolsonaro frustra seus aliados, �s v�speras de julgamento no TSE

Segundo eles, ex-presidente deveria esbravejar e mobilizar os apoiadores. Grosso modo, a abulia � a falta de atividade e aus�ncia de respostas emocionais


20/06/2023 04:00 - atualizado 20/06/2023 07:22
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Bolsonaro é alvo de ação por desacreditar o sistema eleitoral em reunião com embaixadores
Bolsonaro � alvo de a��o por desacreditar o sistema eleitoral em reuni�o com embaixadores (foto: FACEBOOK/REPRODU��O)

Os livros mais lidos nas bibliotecas das cadeias brasileiras s�o cl�ssicos da literatura. O campe�o � “Crime e castigo”, do escritor russo Fiodor Dostoi�vski (1821-1881), por motivos �bvios. Fazem parte desse ranking “Incidente em Antares”, do ga�cho �rico Ver�ssimo (1905-1975); “Sagarana” e Grande sert�o: veredas”, do mineiro Guimar�es Rosa (1908-1967); e “Dom Casmurro”, do carioca Machado de Assis (1839-1908), considerado um cl�ssico da literatura universal. A raz�o � simples: com base na legisla��o penal, cada livro resenhado vale por quatro dias de cadeia. Apesar de um certo oportunismo, muitos presos acabam adquirindo o saud�vel h�bito da leitura.

Poderia haver prefer�ncia pelos livros de autoajuda. Sem preconceito, “Poder do h�bito” (Charles Duhigg), ajudaria a recuperar estelionat�rios, traficantes, homof�bicos, racistas e at� homicidas, concomitante ao cumprimento das penas, � claro. Esse livro explica a forma��o dos h�bitos e comportamentos e como mud�-los. H� outros: “H�bitos at�micos” (James Clear), pequeno manual para transforma��o de h�bitos; “Mude seus hor�rios, mude sua vida “(Suhas Kshirsagar), ajuda a sintonizar o rel�gio biol�gico com os afazeres do dia a dia; e “Pequenas atitudes, grandes mudan�as” (Caroline R. Arnold), decis�es que criam novas rotinas.

Mas a prefer�ncia nas cadeias por “Crime e castigo”, e n�o por livros de autoajuda, tem explica��o: o sentimento de culpa. O protagonista � Rask�lnikov, um ex-aluno brilhante que, por raz�es econ�micas, n�o pode mais estudar e tenta se manter em S�o Petersburgo. Quando o seu desespero aumenta, surge a ideia de matar a velha agiota Alyona Ivanovna, que lhe aluga um quarto e amea�a coloc�-lo para fora, se n�o lhe pagar o que deve. Seus pertences mais valiosos foram entregues como pagamentos de suas d�vidas. N�o sobrou nada. O que fazer? Rask�lnikov dividia os indiv�duos em ordin�rios e extraordin�rios, numa tentativa de explicar a quebra das regras em prol do avan�o humano. Seguindo esse preceito, Rask�lnikov planeja e executa o crime. Flagrado pela sobrinha da v�tima, comete mais um assassinato. Rouba joias, mas n�o chega a se beneficiar disso; com medo de ser descoberto, as esconde.

Para ele, n�o houve crime, n�o matou um ser humano, matou um “princ�pio”. No entanto, ele aos poucos cai numa ciranda de culpa e insanidade. O gatilho � um maluco inocente, em busca de notoriedade e realiza��o, que assume o crime. At� ent�o insuspeito, Rask�lnikov � tomado de remorsos, influenciado pela descri��o da ressurrei��o de L�zaro no Novo Testamento. Acaba por confessar o crime. O peso da pr�pria consci�ncia e as suspeitas de parentes foram insuport�veis. N�o era uma daquelas pessoas que julgava extraordin�rias, porque seriam capazes de tudo sem culpa alguma. Gra�as � confiss�o, ao arrependimento e � falta de antecedentes criminais, por�m, sua pena � reduzida a oito anos em uma cadeia na Sib�ria.

Conformismo

Curiosamente, “Recorda��es da casa dos mortos”, o livro de Dostoi�vski que fala da cadeia, n�o faz o mesmo sucesso nos pres�dios. Seria como falar de corda em casa de enforcado. Ele havia passado quatro anos encarcerado na Sib�ria, dos 10 em que esteve no ex�lio. Como os prisioneiros eram proibidos de escrever mem�rias e relatos, Dostoi�vski disfar�ou a obra como fic��o, dizendo-a ser o di�rio de um homem preso por assassinar a esposa em crise de ci�mes.

Aliados do presidente Jair Bolsonaro est�o inconformados com a sua abulia, isto �, a falta de interesse pela sua pr�pria situa��o pol�tica, diante da iminente condena��o pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por atentar contra a realiza��o das elei��es presidenciais do ano passado. Segundo eles, o ex-presidente deveria esbravejar e mobilizar seus apoiadores. Grosso modo, a abulia se traduz pela falta de atividade e a aus�ncia de respostas emocionais. Quando uma pessoa sofre de abulia, perde a vontade de agir, � tomada por indecis�o e sentimento de impot�ncia. Sente apatia e indiferen�a por quest�es que antes lhe costumavam proporcionar satisfa��o. Na psicologia, a abulia pode ser um sintoma de doen�as mentais como a depress�o, a esquizofrenia, o transtorno bipolar e a distimia.

Relator do processo de Bolsonaro, o ministro Benedito Gon�alves j� tem apoio da maioria dos colegas do TSE � tese de que � preciso levar em conta, no julgamento, as “circunst�ncias relevantes ao contexto dos fatos, reveladas em outros procedimentos policiais, investigativos ou jurisdicionais ou, ainda, que sejam de conhecimento p�blico e not�rio”. Entre eles, est�o as revela��es constantes no relat�rio da Pol�cia Federal sobre o celular do ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, que preparava um golpe militar. Ningu�m sabe qual o verdadeiro envolvimento de Bolsonaro nos fatos, mas ele sabe. Puro Dostoi�vski.
 





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