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Estado de Minas ENTRE LINHAS

A��es policiais no Rio e S�o Paulo lembram o "Esquadr�o da Morte"

Policiais agiam com uma esp�cie de "poder extralegal", que n�o respeitava os direitos humanos


03/08/2023 04:00 - atualizado 03/08/2023 08:49
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Policiais
Dez pessoas morreram e cinco ficaram feridas durante uma opera��o das pol�cias Militar e Civil no Complexo da Penha, no Rio (foto: PMRJ/Divulga��o)
Como jovem rep�rter dos jornais O Dia e a Not�cia, no come�o dos anos 1970, trabalhei na Baixada Fluminense, mais precisamente em Duque de Caxias (RJ). Como esses ve�culos alavancavam suas vendas com not�cias policiais, a sucursal local disputava a manchete do jornal um dia sim e o outro tamb�m, por causa da viol�ncia que existia naquela regi�o, onde antigos laranjais foram loteados e transformados numa esp�cie de terra de ningu�m.

O falecido rep�rter Airton Assis, meu colega, realizava todos os dias uma ronda pelas delegacias da regi�o, que havia se tornado uma das mais violentas do pa�s. Era raro o dia em que terminava o p�riplo pelas delegacias dos distritos de Nova Igua�u, Nil�polis e S�o Jo�o de Meriti sem o registro de um latroc�nio, um feminic�dio ou, principalmente, uma execu��o policial.

Naquela �poca, o “Esquadr�o da Morte” agia abertamente. Em Duque de Caxias, cidade do famoso deputado Ten�rio Cavalcanti, que j� n�o era t�o temido, o delegado Mauro Magalh�es adotava a pol�tica de registrar as execu��es como leg�tima defesa. Um dos policiais lotados na sua delegacia, conhecido como “Japon�s”, era ex�mio atirador e sempre levava a melhor no “confronto com os bandidos”, segundos os registros da delegacia.

No 6º Batalh�o da Pol�cia Militar, violent�ssimo, o jovem tenente Folly ficara famoso ao executar 12 integrantes de uma quadrilha que havia se refugiado num motel da Rodovia Presidente Dutra ap�s persegui��o policial e resistira � pris�o. O legista da delegacia, conhecido como Carequinha, era not�rio necr�filo.

O “Esquadr�o da Morte” surgiu ap�s a morte do detetive Milton Le Cocq d'Oliveira, ex-integrante da guarda pessoal de Get�lio Vargas, reconhecido como investigador capaz de elucidar casos complexos. Morreu em 27 de agosto de 1964, durante confronto com um bandido chamado Cara de Cavalo, o que levou � mobiliza��o de dois mil policiais para ving�-lo. Cara de Cavalo foi morto com 52 tiros.

A morte de Le Cocq gerou forte rea��o nos meios policiais, que resultou na cria��o da “Escuderia Le Cocq”, cujo s�mbolo era uma caveira de pirata e a sigla E.M. O velho Esquadr�o Motorizado da Pol�cia Especial inspirou a marca do “Esquadr�o da Morte”, cuja assinatura era grande n�mero de tiros durante as execu��es.

Bandido morto

O “Esquadr�o da Morte” reproduzia as mesmas pr�ticas dos �rg�os de repress�o do regime, que ca�avam e exterminavam oposicionistas, como o ex-deputado Rubens Paiva, cujo corpo nunca apareceu, ou o jornalista Vladimir Herzog. Os policiais agiam com uma esp�cie de “poder extralegal”, que n�o respeitava os direitos humanos, muitas vezes em colabora��o com as ag�ncias de repress�o pol�tica do regime, como era o caso da Oban, do delegado S�rgio Paranhos Fleury.

A express�o “Bandido bom � bandido morto!”, que resumia tudo, seria at� o slogan da campanha eleitoral do delegado Jos� Guilherme Godinho, o Sivuca, que chegou a se eleger deputado estadual no Rio de Janeiro, no come�o dos anos 1980. Tamb�m oriundo da Pol�cia Especial, Sivuca se notabilizou quando o ent�o secret�rio de Seguran�a P�blica Lu�s Fran�a o convocou para fazer parte do grupo “Doze homens de ouro”, liderado pelo detetive Mariel Mariscot, com o objetivo de “limpar a cidade”.

Boa pinta e bon-vivant, Mariel seria expulso da pol�cia e acabou executado, porque resolveu disputar o controle dos pontos de jogo de bicho da regi�o. Como as mil�cias e policiais corruptos de hoje, envolvera-se com agiotagem, prostitui��o, tr�fico de drogas e execu��es de encomenda. Quando cunhou a frase “Bandido � bandido, pol�cia � pol�cia, como a �gua e o azeite, n�o se misturam”, o assaltante de bancos L�cio Fl�vio Vilar L�rio referia-se a Mariel e aos seus achaques, que denunciou. Morreu com 28 facadas no Pres�dio Frei Caneca.

� �poca, em S�o Paulo, presos eram retirados do antigo Pres�dio Tiradentes e executados na periferia. O jurista e promotor de justi�a H�lio Pereira Bicudo, que investigou o Esquadr�o da Morte durante 364 dias, provou a conex�o entre seus integrantes do Rio de Janeiro e de S�o Paulo.

Na manh� de ontem, dez pessoas morreram e cinco ficaram feridas durante uma opera��o das pol�cias Militar e Civil no Complexo da Penha, Zona Norte do Rio. Dois feridos s�o policiais militares do Bope. Em S�o Paulo, dezesseis pessoas morreram desde o in�cio da Opera��o Escudo, realizada na Baixada Santista, no litoral de S�o Paulo, deflagrada na �ltima sexta-feira ap�s execu��o de um PM da equipe Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota) durante patrulhamento. O suposto respons�vel se entregou � pol�cia.

Os governadores do Rio de Janeiro, Cl�udio Castro (PL), e de S�o Paulo, Tarc�sio de Freitas (PR), endossaram a escalada das a��es policiais, com a ressalva de que eventuais excessos ser�o punidos. Na verdade, ambos as veem como pol�tica de seguran�a e, simultaneamente, ativo eleitoral. Entretanto, o emprego desproporcional da for�a tem a efic�cia duvidosa. Como se sabe, por defini��o, n�o existe crime organizado sem conex�o com agentes do aparelho de estado.

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