(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas entre linhas

Uma janela de oportunidades crescentes para o Brasil

Grandes companhias realizam treinamentos inspirados na teoria dos jogos, nos quais a coopera��o e a competi��o s�o exercitadas de forma pr�tica


20/08/2023 04:00
749

cbb
Celso Furtado � considerado um dos mais influentes pensadores da hist�ria do Brasil (foto: ALIBIO PEREIRA/JORNAL DO COM�RCIO)

Numa conversa recente, o ex-deputado Jos� Anibal (PSDB), que � economista formado na Sorbonne durante o seu ex�lio, me chamou a aten��o para uma passagem muito interessante de Celso Furtado na sua obra cl�ssica “Forma��o Econ�mica do Brasil”, na qual compara os Estados Unidos e o Brasil. O economista liberal Samuel Pess�a classifica Furtado como o mais influente pensador econ�mico de nossa hist�ria, embora questiona um aspecto crucial da sua teoria: subestimar o papel da microconomia no nosso desenvolvimento.
 
A prop�sito, as grandes companhias norte-americanas realizam muitos treinamentos de equipe, inspirados na teoria dos jogos, nos quais a coopera��o e a competi��o s�o exercitadas de forma pr�tica. Um deles, muito usado aqui no Brasil, � a forma��o de grupos representando duplas de pa�ses com as mesmas caracter�sticas, mas que se distinguem das demais em raz�o de carater�sticas socio-economicas, como popula��o, recursos financeiros, reservas de mat�rias-primas, produ��o de alimentos e capacidade b�lica.
 
A regra do jogo � utilizar esses recursos para acumular riquezas, por meio de trocas e/ou pela for�a. Isso resulta em alian�as estrat�gicas e acaba numa guerra generalizada, at� que algu�m proponha um acordo de paz. Quando isso ocorre, os participantes dos grupos ficam sabendo que havia um outro pa�s com as mesmas condi��es e resultados completamente diferentes, em raz�o da estrat�gia adotada e da capacidade de escolher prioridades de cada equipe.
 
� sobre isso que Jos� An�bal falava ao citar Celso Furtado, quando sua obra compara o Brasil e os Estados Unidos. � �poca de sua independ�ncia, a popula��o norte-americana era mais ou menos da magnitude da do Brasil. As diferen�as sociais, entretanto, eram profundas, pois enquanto no Brasil a classe dominante era o grupo dos grandes agricultores escravistas, nos EUA uma classe de pequenos agricultores e um grupo de grandes comerciantes urbanos dominava o pa�s.
 
“Nada � mais ilustrativo dessa diferen�a do que a disparidade que existe entre os dois principais int�rpretes dos ideais das classes dominantes nos dois pa�ses: Alexander Hamilton e o visconde de Cairu. Ambos s�o disc�pulos de Adam Smith, cujas ideias absorveram diretamente e na mesma �poca na Inglaterra. Sem embargo, enquanto Hamilton se transforma em paladino da industrializa��o, mal compreendida pela classe de pequenos agricultores norte-americanos, advoga e promove uma decidida a��o estatal de car�ter positivo—est�mulos diretos �s ind�strias, e n�o apenas medidas passivas de car�ter protecionista —, Cairu cr� supersticiosamente na m�o invis�vel e repete: ‘Deixai fazer, deixai passar, deixai vender’”, compara Furtado.

Dualidades

Hamilton foi uma figura extraordin�ria na forma��o da democracia norte-americana, era um dos Federalistas e bra�o direito de George Washington, seu primeiro presidente. Como primeiro-secret�rio do Tesouro, Hamilton foi criador de dois bancos centrais e impostos que deram robustez � economia americana. Pregava o livre-com�rcio e a industrializa��o. Morreu num duelo com o vice-presidente Aaron Burr, seu advers�rio pol�tico, aos 49 anos.
 
Cairu era baiano. Formou-se em direito can�nico e filosofia pela Universidade de Coimbra, onde ingressou em 1774. De volta � Bahia, lecionou por vinte anos, foi deputado e acumulou cargos p�blicos, principalmente ap�s a chegada da D. Jo�o VI, de quem foi um dos mentores econ�micos. Era um dos maiores propagadores do liberalismo econ�mico no Brasil, tendo publicado Princ�pios de economia pol�tica (1804), livro no qual defendeu o livre com�rcio e criticou os monop�lios, por�m difundiu as ideias de Adam Smith de forma muito ortodoxa.
 
Na sua releitura de Furtado, Jos� Anibal chama a aten�ao para que n�o deixemos escapar a oportunidade que se abre para o Brasil a partir de sua posi��o estrat�gica de grande produtor de alimentos e min�rios, que � a nossa voca��o natural na economia global, mas n�o suficiente para a supera��o do nosso atraso e das nossas desigualdades. “Nossa janela de oportunidade � uma estrat�gia integrada para a agroind�stria, a energia verde e a sustentabilidade dos nossos quatro biomas, principalmente  Amaz�nia, n�o � a retomada da velha ind�stria do carbono”.
 
O governo Lula vive muitas dualidades, uma delas � a ancoragem nos primeiros mandatos, que j� est� devidamente contemplado com os programas como o Bolsa Fam�lia, minha Casa, Minha Vida e o novo PAC. O governo cuida do presente e aponta para o futuro, � verdade, com o novo arcabopu�o fiscal e a reforma tribut�ria propostas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Entretanto, isso n�o basta. � preciso uma agenda nova, voltada para a integra�ao �s novas cadeias de valor da economia globalizada, que est� se reestruturando a partir da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China.
 
N�o devemos entrar na l�gica de uma nova “guerra fria” nem ceder ao antiamericanismo. Nesse aspecto � pertinente a cr�tica de Samuel Pess�a � obra de Celso Furtado, que tinha uma vis�o de que nosso desenvolvimento era essencialmente acumula��o de capital e a transi��o do setor tradicional para o moderno da economia, com a urbaniza��o e a industrializa��o. Segundo Pess�a,  faltou, efici�ncia. Furtado n�o deu a devida import�ncia � microeconomia. “O desenvolvimento n�o � uma quest�o quantitativa, mas qualitativa, associada � governan�a, � qualidade das institui��es do pa�s, e que a escolariza��o da popula��o � o item mais importantes de todos. Falamos de capital e o capital mais importante e mais escasso no Brasil � o capital humano”, argumenta.

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)