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Estado de Minas ENTRE LINHAS

A fuma�a que encobre Manaus e as novas cadeias de valor

A Zona Franca adotou o velho v�cio que esgotou o modelo de substitui��o de importa��es: criar obst�culos � concorr�ncia


01/10/2023 00:04 - atualizado 01/10/2023 07:48
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O governador do Amazonas, Wilson Miranda Lima (União Brasil)
Wilson Miranda Lima (Uni�o Brasil) � o governador do Amazonas (foto: Redes sociais/Reprodu��o )

Uma onda de fuma�a, proveniente das queimadas da Amaz�nia, em raz�o da mudan�a do regime de ventos provocada pelo El Ni�o, nos �ltimos dias encobriu a paisagem e transformou a cidade de Manaus numa capital irrespir�vel. O jovem deputado federal Amom Ridel (Cidadania-AM), eleito aos 22 anos com 288 mil votos, um fen�meno pol�tico de sua gera��o, desistiu de convocar uma manifesta��o de protesto porque o ar estava irrespir�vel e os olhos das pessoas ardiam quando saiam �s ruas. 

Amom optou por percorrer os gabinetes de Bras�lia, entre os quais o de Marina Silva (Meio Ambiente), em busca de socorro federal, e p�s a boca no trombone, ou melhor, os dedos no teclado, para denunciar a situa��o e a omiss�o das autoridades locais nas suas redes sociais. S� ent�o o governador do Amazonas, Wilson Miranda Lima (Uni�o Brasil), principal respons�vel pela gest�o da crise ambiental, decretou o estado de emerg�ncia. 

A seca � t�o grave que os igarap�s da maior bacia hidrogr�fica do planeta est�o secando, at� os botos-cor-de-rosa, esp�cie em extin��o, est�o morrendo. Os rios est�o t�o baixos que o Porto de Manaus, constru�do para operar em todas as esta��es do ano, n�o pode receber os navios que sobem o Rio Negro para transportar os produtos fabricados na Zona Franca de Manaus, que abriga atualmente cerca de 600 ind�strias. Sem essa zona de livre com�rcio, os 35 milh�es de habitantes da Amaz�nia n�o teriam como se integrar � economia nacional. 

H� oito regionais da Zona Franca (Boa Vista, Itacoatiara, Porto Velho, Ji-Paran�, Vilhena, Rio Branco e Cruzeiro do Sul) e quatro zonas de livre com�rcio (Tabatinga, Macap�-Santana e Guajar�-Mirim), incluindo Manaus (�rea expandida dez mil quil�metros quadrados). Todas recebem os mesmos benef�cios fiscais. Ao contr�rio do que muitos imaginam, a Zona Franca de Manaus (ZFM) possui um dos mais modernos aparatos tecnol�gicos do pa�s.

Eletrodom�sticos, ve�culos, televisores, celulares, aparelhos de som, v�deo e ar-condicionado, rel�gios, bicicletas, microcomputadores e aparelhos transmissores e receptores s�o produzidos em Manaus. De todas as regi�es do pa�s, por seu arranjo institucional, � a que est� em condi��es mais favor�veis para ingressar nas novas cadeias regionais de valor que est�o se organizando, em raz�o da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos. Sua m�o de obra qualificada, formada na Universidade Federal do Amazonas (UFA) e outras institui��es, � disputada por outras regi�es do pa�s e pa�ses desenvolvidos. 

Cadeias globais

O problema � que existe uma esp�cie de “quem comeu, comeu; quem n�o comeu, n�o come mais”. Controlada por velhas raposas pol�ticas locais, a Superintend�ncia da Zona Franca de Manaus (Suframa) adotou o principal v�cio do velho modelo de substitui��o de importa��es: criar obst�culos � concorr�ncia, numa hora em que as oportunidades de investimentos dependem de capacidade de inova��o e de produtividade para integra��o � economia mundial. Por exemplo, uma rec�m-criada associa��o de armazenadores de energia (Armazene), sob a lideran�a do empres�rio paulista M�rcio Toledo, luta para ampliar as possibilidades de instala��o de modernas f�bricas de baterias na Zona Franca de Manaus.  

Os Estados Unidos est�o reestruturando suas cadeias, principalmente na �rea de eletroeletr�nicos, para reduzir a depend�ncia em rela��o � China; os empres�rios chineses est�o transferindo f�bricas para pa�ses que integram essas novas cadeias de valor, com prop�sito de manterem seus neg�cios com os norte-americanos. Pa�ses como Vietn�, Coreia do Sul, Indon�sia, Cingapura, �ndia, M�xico e Pol�nia est�o se beneficiando desse processo.

Por sua localiza��o e regime tribut�rio, a Zona Franca de Manaus pode integrar as novas cadeias de valor em v�rias �reas. Uma delas � a �rea de eletroeletr�nicos e semicondutores, mat�ria prima na qual o Brasil � um dos grandes produtores mundiais. A transi��o energ�tica abriu um novo ciclo de moderniza��o industrial, na qual o Brasil pode ter competitividade para abastecer seu mercado interno e exportar. 

Sim, os desafios s�o imensos, mas h� novas possibilidades. � o caso da “crise dos semicondutores”, decorrente da desestabiliza��o das cadeias internacionais de suprimento de microchip, que vem resultando em aumento dos pre�os e at� mesmo na escassez de componentes essenciais para a ind�stria brasileira, particularmente nos setores de eletroeletr�nicos e autom�veis.

A cria��o de uma ind�stria nacional de semicondutores � muito mais importante do que “verticalizar” a produ��o da mineradora Vale em Caraj�s. Quais s�o os gargalos? O quadro regulat�rio e as pol�ticas de financiamento, de ci�ncia e de tecnologia aplic�veis �s cadeias de produ��o desses insumos. 

Sem “intermedia��o onerosa”, a Zona Franca de Manaus pode se tornar um polo de ‘incuba��o cruzada’ de startups, mobilizar sua di�spora cient�fica, promover a��es diplom�ticas pr�prias, internacionalizar startups, organizar hackathons (maratonas de programa��o) e produzir intelig�ncia de mercado. 

Entretanto, para isso, a elite pol�tica do Amazonas precisa ter pensamento estrat�gico, como os portugueses que constru�ram no Forte de S�o Jos� da Barra do Rio Negro na conflu�ncia como o Rio Solim�es, em 1669.

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