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Estado de Minas ENTRE LINHAS

O antissemitismo estrutural que emerge na guerra de Gaza

Sempre houve resist�ncia ao sionismo entre os judeus, principalmente entre os judeus assimilados da Europa


15/10/2023 04:00 - atualizado 15/10/2023 09:30
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A filósofa judia-alemã Hannah Arendt chegou a participar do movimento sionista, mas se desvinculou na década de 1940
A fil�sofa judia-alem� Hannah Arendt chegou a participar do movimento sionista, mas se desvinculou na d�cada de 1940 (foto: John MACDOUGALL/AFP)


O movimento negro brasileiro consolidou o conceito de racismo estrutural e desconstruiu a tese de que o Brasil � uma democracia racial, devido � miscigena��o e ao voto direto, secreto e universal, que garante a negros, mulatos e pardos —classifica��o agora considerada “politicamente incorreta” — os mesmos direitos pol�ticos da “elite branca”. O racismo estrutural, por�m, limita o alcance desses direitos do ponto de vista econ�mico, social e mesmo pol�tico, se considerarmos as estruturas de poder.

Consiste na organiza��o da sociedade de maneira a que privilegie um grupo de certa etnia ou cor em detrimento de outro, percebido como subalterno. A exclus�o e discrimina��es complexas mascaram o fen�meno. O racismo estrutural ï¿½ uma forma de explora��o e opress�o enraizada na estrutura social e nas rela��es institucionais, econ�micas, culturais e pol�ticas.

Uma outra forma de racismo estrutural � o antissemitismo, que tem caracter�sticas completamente diferentes, porque n�o est� associado � condi��o econ�mica e social subalterna, ao contr�rio, mas � condi��o �tnica, especificamente, e ao preconceito cultural. Enquanto em rela��o aos negros, o racismo vem dos tempos da escravid�o, no in�cio do s�culo 16, o nosso antissemitismo tem origem na atua��o da Inquisi��o cat�lica, nos tempos da Reconquista, que expulsou �rabes e judeus da Pen�nsula Ib�rica.

Sim, �rabes e judeus s�o semitas. Na Antiguidade, fen�cios, hebreus (judeus), babil�nicos, arameus e outros se deslocaram da Pen�nsula Ar�bica para a Mesopot�mia, 3 mil anos antes de Cristo. O termo semita como designa��o para esses povos do Oriente M�dio foi cunhado pelo historiador alem�o August Ludwig von Schloezer, em 1871, a partir de refer�ncias b�blicas. Apesar das diferen�as religiosas e �tnicas, segundo o Antigo Testamento, todos eram descendentes de um dos tr�s filhos de No�: Sem.
Entretanto, o termo antissemitismo � usado para designar o �dio e a avers�o a judeus por conta dos eventos hist�ricos que resultaram na migra��o desses povos para v�rios cantos do mundo, como aconteceu com as fam�lias sefarditas na Espanha e Portugal. A primeira sinagoga das Am�ricas, a Kahal Zur Israel (Rocha de Israel), foi fundada no Recife (PE), em 1641, durante a domina��o holandesa (1630-1657), pelo rabino luso-holand�s Isaac Aboad da Fonseca. Com a derrota dos invasores holandeses na Batalha dos Guararapes, os judeus migraram de Pernambuco para Nova Amsterd�, atual Nova York, onde formaram a Congrega��o Shearith Israel, a primeira sinagoga da Am�rica do Norte.

Sionismo

O surgimento do movimento sionista no s�culo 19, em resposta � di�spora e � milenar persegui��o aos judeus, com objetivo de reocupar a Palestina e construir um Estado-na��o, apartou �rabes e judeus. Sion significa Jerusalem, a cidade sagrada para judeus, mu�ulmanos e crist�os, cujo lado oriental, que era administrado pela Jord�nia, foi ocupado por Israel em 1967, na Guerra dos Seis Dias.

Sempre houve resist�ncia ao sionismo entre os judeus, principalmente entre os judeus assimilados da Europa. A fil�sofa judia-alem� Hannah Arendt chegou a participar do movimento sionista, mas se desvinculou na d�cada de 1940. Autora de “A condi��o humana e ra�zes do totalitarismo”, Arendt cunhou a express�o “banalidade do mal” para explicar o Holocausto, ao descrever o julgamento do criminoso nazista Adolf Eichmann.

Sequestrado num sub�rbio de Buenos Aires por um comando israelense, em 1960, Eichmann foi levado para Jerusal�m. No mais importante julgamento de um criminoso nazista depois do tribunal de Nuremberg, em vez do monstro sanguin�rio, surgiu um burocrata med�ocre e carreirista, incapaz de refletir sobre os pr�prios atos ao receber uma ordem. Para Arendt, o processo desnudou a capacidade de o Estado transformar o exerc�cio da viol�ncia homicida em organogramas e mero cumprimento de metas.

O julgamento legitimou a grande vit�ria sionista que fora a cria��o do Estado de Israel, pela Organiza��o das Na��es Unidas, em 1948, com objetivo de evitar um novo Holocausto, como o perpetrado pelo l�der da Alemanha nazista, Adolph Hitler, na Segunda Guerra Mundial. Entretanto, os palestinos (de maioria mu�ulmana), que j� viviam no atual territ�rio de Israel, n�o aceitaram a hegemonia judaica. Desde ent�o, conflitos e guerras inviabilizaram a cria��o de um Estado palestino.

O radicalismo pol�tico e religioso de ambas as partes inviabilizou todos os acordos. No atual conflito em Gaza, o ataque terrorista do Hamas, inimagin�vel e inaceit�vel, n�o justifica o que ocorre em termos humanit�rios em Gaza, onde a popula��o civil est� sem �gua, energia el�trica, combust�vel, alimentos e rem�dios, for�ada ao �xodo por bombardeios indiscriminados do Ex�rcito israelense.

O pior � que essa crise desperta o antissemitismo em quase todos os lugares. No caso do Brasil, �rabes e judeus se integraram � vida nacional e convivem em harmonia, traduzem sua cultura para a nossa realidade (viva o Arranco de Vars�via!), sem chauvinismo nem perda de identidade. � uma conquista civilizat�ria � qual n�o devemos nunca renunciar.

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